O engenheiro agrônomo Marcos Antonio Mazeti, que acumula os cargos de diretor municipal da pasta de Agricultura e presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Fernandópolis liderou a comitiva que, na última terça-feira, realizou uma excursão à zona rural. Tratava-se do Dia de Campo com a Imprensa, cujo objetivo era divulgar o trabalho de recuperação dos caminhos que levam às áreas produtivas. Na volta, Mazeti deu esta entrevista exclusiva a CIDADÃO.
CIDADÃO: Quais são os projetos mais importantes que a pasta da Agricultura do município de Fernandópolis está desenvolvendo?
MAZETI: O primeiro Dia de Campo com a Imprensa que realizamos esta semana teve como objetivo estabelecer uma parceria para que sejam divulgados os reais problemas do setor rural e as soluções para resolvê-los. Em janeiro, o prefeito Vilar pediu que fossem privilegiadas as estradas rurais e os trabalhos da patrulha agrícola rural. Fizemos uma sede nova na escola agrícola Melvin Jones onde estão funcionando as diretorias Agrícola e do Meio Ambiente. O objetivo é auxiliar o produtor, tanto na assistência técnica quanto na orientação sobre questões delicadas como a reserva legal. Depois disso, passamos a organizar a patrulha agrícola. Um trator está sendo conseguido através de pedidos políticos para ser usado pela Comunidade do Coqueiro. Montamos uma equipe com um fiscal de estradas, e que cuida de manutenção de mata-burros, encabeçamentos de pontes, escoação de águas. Temos cerca de 750 km de estradas de terra que, para ficarem conservadas nos períodos das chuvas, é preciso fazer a limpeza das caixas que estão assoreadas.
CIDADÃO: E o programa Melhor Caminho?
MAZETI: Numa audiência com o Dr. Aloysio Nunes, o prefeito solicitou ao Edinho Araujo, presidente da CODASP e seu amigo pessoal a liberação de verbas para 15 km de estradas dentro do Melhor Caminho. O engenheiro Henrique Fraga, da CODASP, fez o levantamento para saber tudo o que era prioritário. Um dos pontos atacados foi a estrada rural do distrito de Brasitânia. Moradores da região dessa estrada há mais de 30 anos reivindicavam melhorias, mas o maquinário da prefeitura é insuficiente para esse serviço. Ali foi feito um serviço extremamente competente como é praxe da CODASP, possuidora do ISO 9001. A intenção do prefeito Vilar é que agora essas estradas sejam mantidas pelo próprio pessoal da prefeitura; para isso está sendo postulado junto ao BNDES um financiamento de R$ 3 milhões para aquisição de máquinas.
CIDADÃO: Qual é a situação atual do maquinário do almoxarifado?
MAZETI: Sucateado. Temos duas máquinas patrol que estão trabalhando nas estradas. Até o momento, nós não conseguimos patrolar as estradas com as duas ao mesmo tempo, porque quando uma trabalha a outra está quebrada. Se conseguirmos comprar as máquinas novas, poderemos atender bem ao produtor rural.
CIDADÃO: Como funciona o consórcio de serviço entre a prefeitura e a CODASP?
MAZETI: Esse serviço do Melhor Caminho é feito em parceria entre a CODASP e a prefeitura, que tira as cercas, alimenta os funcionários; eles entram com as máquinas e fazem o serviço. Mas tão importante quanto isso é manter abertas as saídas de água. Sem isso, em questão de meses a estrada já não estará em boas condições. Então, a nossa função é manter as boas condições das estradas rurais para servir ao homem do campo. O produtor rural precisa do transporte escolar, da ajuda do município para a realização do preparo do solo e de silos, e sempre com a manutenção das estradas, pois isso diminui os custos de manutenção do maquinário, especialmente para o escoamento da produção. Se ficar ilhado, o produtor evidentemente não poderá escoar sua produção. Mas talvez o principal efeito seja o de manter o produtor no campo. Quando ele mora na propriedade, é claro que seus filhos têm que vir à escola, assim como ele próprio tem que vir a cidade fazer compras, ir ao banco, etc... Ora, se ele se vê obrigado a colocar seu veículo numa estrada sem condições, ele terá um custo muito alto com combustível, manutenção e a própria depreciação do carro. Se a estrada é boa, essa acessibilidade o incentiva a morar na propriedade em vez de viver na cidade.
CIDADÃO: Se a estrada é boa, ele pode sair mais vezes, não é?
MAZETI: Pois é, ele sabe que até à cidade passou a ser um pulinho. E o inverso também acontece: muitos produtores me dizem que antigamente iam ao sitio três vezes por mês. Hoje, esse mesmo produtor vai três vezes por semana, e pode passar até a ir diariamente. Assim, a ação da prefeitura, de certa forma, ameniza os problemas do produtor, porque contribui para a diminuição do custo de produção.
CIDADÃO: Quando o produtor solicita o serviço das máquinas da prefeitura, o que ele paga?
MAZETI: Apenas o óleo diesel consumido. Imagine se ele tem que comprar uma máquina que vai ficar a maior parte do tempo ociosa em sua propriedade. Isso não é racional. Esse atendimento da prefeitura é feito com as etapas traçadas para os bairros rurais. Não existe isso de ir até uma propriedade distante 20 km e trazer o trator de volta para a cidade. Se, por exemplo, temos 20 produtores para atender no bairro Coqueiro, as máquinas vão para lá e permanecem até atender a todos. Se você perguntar a um agricultor o que é que ele mais espera de um órgão público, ele não vai responder assistência técnica e sim estrada e assistência da patrulha rural.
CIDADÃO: Como você, que também é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Fernandópolis, está vendo a atual crise do setor, como acontece nesse momento com a citricultura?
MAZETI: O município de Fernandópolis tem um diferencial que é a diversificação da atividade rural. Temos cana, uma cultura que chegou com força nos últimos anos hoje, a cana já ocupa entre 20 e 25% dos 55 mil hectares do município; a citricultura, que no nosso caso é mais voltada para o mercado e menos para as usinas de processamento. Aliás, Fernandópolis tem a laranja mais doce do Brasil. O clima quente favorece essa qualidade da laranja. Temos também a seringueira, a ovinocultura, o eucalipto, a pecuária leiteira. A cana entrou mesmo foi nas grandes propriedades, onde normalmente se dava a pecuária de corte. Ela ainda não afetou a citricultura. O produtor de laranja, hoje, não sabe se vai vender para a indústria de quem está sem contrato, a indústria não está comprando.
CIDADÃO: Mas será que a indústria cítrica não está aproveitando a crise para forçar uma redução de preços ao produtor?
MAZETI: Essa é uma questão de mercado que não temos como mudar. Hoje, a indústria cítrica tem produção própria em torno de 50 ou 60%. Já há produtores vendendo caixas de 40 kg de laranja por R$ 2. Só para colher a laranja o custo supera esses R$ 2. Voltando à questão da diversificação: ela impede que a sociedade de um município sinta diretamente os reflexos da crise em um setor, porque, se a laranja hoje está ruim, a seringueira está bem, e assim por diante.
CIDADÃO: Como vai o processo de recuperação judicial do Frigorífico Mozaquatro, que teve como fornecedores muitos pecuaristas de Fernandópolis e região, que são hoje credores no processo?
MAZETI: Já se passaram dois anos do inicio desse processo. O IFC, ex-arrendatário, já acertou os R$ 12 milhões que devia para os pecuaristas. Falta a questão dos débitos do próprio Mozaquatro. Quando assumiu a prefeitura em janeiro, o prefeito Vilar visitou o juiz da 2ª Vara, Dr. Heitor Miura, e se comprometeu a fazer contatos com empresários que eventualmente pudessem assumir a planta frigorífica. Afinal, o frigorífico parado é ruim para os pecuaristas, os trabalhadores que perderam seus empregos, para o comércio, a prefeitura, para a cidade inteira, enfim. A diretoria do Desenvolvimento Sustentável, comandada pelo Neoclair, o Luizinho e o Valdir, fez várias reuniões com empresários de vários pontos do país. Aparentemente, há uma empresa de Presidente Prudente muito interessada na planta frigorífica de Fernandópolis. Com relação aos créditos que os nossos pecuaristas têm com o frigorífico, creio que, pelo andamento do processo, ainda este ano será possível pagar um percentual dessa dívida a eles.