Um menino de rua que conquistou uma nova vida

20 de Agosto de 2025

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Um menino de rua que conquistou uma nova vida
Poucas pessoas já amargaram o que o aposentado Rubens Giliote passou na vida. Aos 11 anos de idade, depois que o pai abandonou a mãe e seis irmãos, ele se viu obrigado a cuidar da família.

Não que ele fosse o mais velho entre todos os irmãos, mas acabou se tornando depois que três deles se casaram e foram morar em outra cidade e uma irmã fora “adotada” por uma mulher de Araraquara.

Logo que o pai e os irmãos deixaram a família, Rubens, a mãe e os dois irmãos de oito e nove anos de idade foram praticamente despejados da casa em que moraram depois de receberem a notícia de que esta havia sido vendida por um dos irmãos.

Sem muitas alternativas, foram obrigados a se retirar da casa para morar em uma tapera na Avenida Amadeu Bizelli, próximo a um laticínio, que o comprador da casa lhes arrumara.

Dona Maria Francisca, mãe de Rubens, era muito doente e não podia trabalhar. Para não ver a família passar fome, o jovem decidiu trabalhar de engraxate na Praça Joaquim Antônio Pereira (Matriz).

Pouco conseguia com o trabalho; então se oferecia para varrer a calçada da padaria do italiano Cássio Vendramini em troca de pão. Chegou também a esmolar comida e roupa a desconhecidos.

Nessa época, Rubens pesava apenas 20 quilos. Por não aguentar a fome, por diversas vezes foi tido como morto após desmaios na praça central. Nesse mesmo local também dormiu várias vezes; pois segundo ele, não havia muita diferença entre o banco da praça e o chão frio de sua casa.

Depois de flagrar a mãe e os irmãos chorando, ora de fome, ora de tristeza, questionou a mãe: Deus existe? Diante da afirmação tornou a interrogar: Então por que ele não ajuda a gente? Ela então respondeu: Ele vai ajudar um dia, meu filho.

Passado algum tempo, um mendigo de barba branca encontrou o garoto na Praça da Matriz e lhe perguntou o que ele estava fazendo ali. Rubens respondeu que pedindo algo para comer. O velho barbudo então lhe respondeu: “Eu também estou fazendo o mesmo, mas está difícil conseguir algo”. De repente, como se o mendigo virasse anjo ou algum outro ser celestial, começou a predizer: “Você tem algo muito importante para fazer aqui na terra. Você tem muita sorte e será muito feliz na vida. Dentro de alguns dias você conseguirá um trabalho. Aguarde”, disse.

Passados três dias, um homem chamado Luiz foi até a casa de Rubens e lhe ofereceu um serviço em uma olaria. Foi quando sua vida mudou. Além de oferecer um emprego, seu novo patrão abastecia a despensa da sua casa.

Passados nove anos, seu pai voltou para casa, arrependido, pedindo arrego. Apesar de quase uma década ter se passado, ainda estavam frescas na memória as surras que o pai dava na mãe; também as infindáveis jogatinas que o fizeram perder uma fazenda inteira, deixando a família na pobreza. Mesmo com todos esses erros, a família optou pelo perdão.

O senhor Rafael Giliote realmente havia se transformado, era um novo homem; mas já não pôde viver muito tempo ao lado da esposa, pois ela faleceria oito anos depois, vítima de problemas cardíacos. Já Rafael viveu até os 93 anos de idade.

Rubens foi quem deu total apoio aos pais durante a velhice. Já casado e com filhos, levou a mãe, quando adoecera, para morar em sua casa e depois o pai, até o fim de sua vida.

Semelhante aos pais, Rubens teve sete filhos: Vanderlei,Vera, Valdenir (Tatá), Carmen Lúcia, Valdecir, Arlete e Sandra. Ao lado de sua esposa, Lourdes, criou todos. Hoje eles têm 16 netos e cinco bisnetos.

Aos 75 anos de idade, Rubens desenha belos quadros, escreve músicas e roteiro de novela, viaja, pesca, brinca com os netos e tem um grande sonho do qual não abre mão: o de ver se cumprir a palavra daquele “anjo disfarçado de mendigo” que disse que ele tem algo muito importante para fazer aqui na terra. Para Rubens, essa tarefa importante é ver ser encenada e exibida em rede nacional a novela que vem escrevendo há três anos, “O segredo do velho Epitácio”.

“Eu penso que só pode ser isso. É uma novela linda, cujo tema central é a luta pela paz. Trago uma mensagem muito importante aos jovens sobre o perigo das drogas e do mundo da criminalidade. Sei que parece meio impossível, mas acredito que tudo é possível quando alguém crê. Eu creio”, afirmou Rubens Giliote.