Num tempo em que falar mal dos políticos é quase uma obrigação da mídia, frente a tantos desmandos que se constatam na vida pública, é reconfortante observar a ação desses três vereadores de Fernandópolis Candinha Nogueira, Creusa Nossa e Dorival Pântano que, por três meses, abdicaram de suas vidas pessoais para levar adiante uma campanha de arrecadação de fundos e de mobiliário para a Casa de Apoio que Fernandópolis manterá em Barretos para atender aos doentes de nossa cidade e região que vão àquela cidade em busca de tratamento no Hospital do Câncer. A gênese dessa casa está num sonho antigo da vereadora Candinha ela própria, uma paciente que luta contra a doença há mais de uma década. O sonho de Candinha virou realidade, o que representa melhor qualidade de vida para os pacientes. Um trabalho que merece, além dos aplausos gerais, ser inscrito nos anais do município de Fernandópolis.
CIDADÃO - Qual é o balanço da campanha de arrecadação de móveis e utensílios para a casa de apoio de Barretos?
CREUSA É um balanço positivo, porque conseguimos tudo que era necessário para a casa. Além de contribuições em dinheiro, ganhamos móveis e utensílios. Quer dizer: desde a vassoura até a televisão nós conseguimos com o povo de Fernandópolis. Costumo dizer que o nosso povo é muito bom. Basta alguém tomar a iniciativa que o povo responde. Quero deixar claro que não foi a prefeitura que mobiliou a casa, e sim a população da cidade. O seu Luiz (Vilar) até poderia ter enviado um projeto nesse sentido à Câmara, mas isso levaria muito tempo. O prefeito abriu as doações com R$ 1 mil, o vice-prefeito também deu R$ 1 mil, o Julio Semeghini, a Analice Fernandes, o Renato Colombano... Vários diretores da prefeitura também fizeram doações, mas como pessoas físicas, não foi a prefeitura. Ela vai pagar o aluguel, luz, água, IPTU, telefone e funcionário. Porém, a montagem da casa ficou a nosso cargo, ou seja, da comissão de vereadores.
CIDADÃO - Por que vocês três tomaram a frente desse trabalho?
CANDINHA A casa de apoio em Barretos era um sonho dos pacientes que viajam para lá. Era preciso que alguém tomasse essa iniciativa, e nós o fizemos. Eu, a Creusa e Dorival tivemos um pouco de ajuda do vereador Chamel, que só não pôde nos ajudar mais porque estava em época de provas na faculdade. Novamente o povo de Fernandópolis mostrou uma solidariedade nota mil.
CREUSA É impossível deixar de citar que a Candinha, autora da indicação, abraçou essa causa como vereadora e como paciente. Nós nos juntamos a ela para ajudá-la a realizar seu sonho. Nos últimos dias, tenho apanhado a Candinha de manhã e só devolvido à noite.
DORIVAL Quando a Candinha fez a indicação ao prefeito Vilar, eu, a Creusa e o Chamel, que conhecemos o sofrimento dos pacientes que precisam viajar a Barretos, a apoiamos e dissemos ao prefeito que, se ele pagasse o aluguel, nós mobiliaríamos a casa. Fizemos um levantamento e nos assustamos com o preço. Estávamos saindo meio desanimados da prefeitura quando eu disse à Candinha: Pode ficar tranquila que nós vamos conseguir essa arrecadação para mobiliar a casa. Quando a causa é justa e é abraçada com amor e esperança, o Pai maior ilumina seus missionários. Está aí o resultado.
CIDADÃO - Quem administrará a casa?
DORIVAL Creio que, como fomos nós três que encabeçamos essa campanha, temos o direito de comandar e organizar a casa.
CANDINHA Na minha opinião, a prefeitura deve administrar a casa, com a supervisão da comissão de vereadores. Eu mesma quero estar em Barretos frequentemente, porque afinal foi o povo que doou aqueles bens, e eles têm que ser bem cuidados. Nós vamos apontar os eventuais problemas. Quero agradecer do fundo do coração ao povo e aos meus companheiros de campanha por esse resultado maravilhoso.
CIDADÃO - Candinha, você que milita há tempos nessa luta contra o câncer, qual é a perspectiva de contar com uma casa dessa natureza? O que mudará na vida dos doentes de Fernandópolis e região?
CANDINHA Vai mudar muito (emociona-se). Em Barretos, vimos pessoas em frente às padarias, sentadas nas calçadas. Creio que os fernandopolenses que viajam para Barretos ganharam um lar. O maior valor desse trabalho é minimizar o sofrimento dessa gente. Todo mundo sabe que após receber a medicação o paciente apresenta efeitos colaterais, se sente mal. Sabe lá o que é não ter uma cama pra deitar quando você está passando mal?
DORIVAL Na primeira viagem que fizemos a Barretos, visitamos o hospital e eu pude conhecer o drama desses pacientes. Não foi só a Candinha que chorou, até eu chorei. Foi doloroso, mas isso nos deu mais forças para seguir em frente com essa campanha.
CREUSA Quero falar mais um pouco da importância da casa. O ônibus leva os pacientes, mas às vezes o doente faz uma aplicação às 7h e tem que esperar o dia todo para fazer a viagem de volta. Nesse tempo, ele não tem onde descansar, não tem um banheiro, às vezes não tem nem uma sombra. Quando chove, é um drama. Com a casa, os pacientes terão onde deitar, tomar banho, fazer refeições. E além do mais, ela fica a 50 metros do hospital.
CIDADÃO O espaço físico dessa casa é suficiente para atender à demanda?
CREUSA Sim. Nós providenciamos infra-estrutura para que 35 pessoas possam se alimentar ao mesmo tempo. Para dormir, providenciamos 20 leitos, porque na verdade, as pessoas que pernoitarão não deverão ser mais do que dez por dia. Creio que haverá lugar para todo mundo.
CIDADÃO Se alguém quiser contribuir com a casa de apoio, o que deve fazer?
CREUSA Pode entrar em contato com a Câmara Municipal e falar com um de nós. A gente vai precisar mesmo de ajuda, porque é um trabalho que nunca acaba.
CIDADÃO - Gostaria que vocês, individualmente, respondessem esta pergunta: Uma vez concretizada a casa de apoio, qual é a sensação de ver cumprida essa missão?
CANDINHA É uma benção de Deus. Eu me sinto uma pessoa abençoada por Deus ter me dado essa oportunidade de ser vereadora porque é a forma que disponho para fazer alguma coisa boa. Se a missão desta vez foi a casa de apoio, estou feliz pelo resultado. Agradeço muito ao Dorival e à Creusa, eles sabem o quanto a luta foi difícil. Não é fácil concretizar um pedido de vereador dessa magnitude. Graças a Deus, poderei deitar na minha cama e dormir um pouquinho melhor, porque sei que alguém também estará dormindo melhor.
DORIVAL - Foi uma luta de cerca de 90 dias, e a gente fica feliz de ver que um trabalho ao qual a gente se dedicou se tornou uma realidade, concretizando o sonho da Candinha. Tenho certeza de que isso ficará marcado pelo resto de nossas vidas.
CREUSA A sensação é de dever cumprido porém, somente nesta etapa. Realmente, a sensação maior que fica é de agradecimento a Deus por ter nos dado a oportunidade de participar disso. São raras as ocasiões em que se tem a oportunidade de prestar apoio ao semelhante. Por isso, digo a Deus: Senhor, muito obrigado por me conceder essa oportunidade de ajudar ao próximo.