A administração de Luiz Vilar de Siqueira chega ao final do seu primeiro semestre e o prefeito já contabiliza alguns sucessos e críticas. Em entrevista exclusiva a CIDADÃO, Vilar fala de diversos assuntos, como o crescimento do parque industrial, pagamento de impostos, saúde, transporte coletivo e o mais polêmico tema desses seis meses: a Exposição Agropecuária e sua crônica dependência dos cofres públicos. O prefeito garante: nos próximos três anos, a festa terá que aprender a andar com as próprias pernas.
CIDADÃO - Quando sua administração completou 100 dias, o sr. anunciou um pacote de acordos com empresários que iria gerar mais de 600 empregos. Agora, findo o primeiro semestre, quantos desses empregos se concretizaram?
VILAR Não tenho os dados numéricos em mãos, mas posso dizer que várias empresas menores já estão instaladas. Temos uma empresa da área sucro-alcooleira que veio de Minas Gerais e está se instalando no antigo ferro velho Bim. Ela já está contratando funcionários. Até encaminhei vários currículos, a pedido deles, para a seleção de pessoal. Ontem (terça-feira) recebi três empresários da área de metalurgia que se instalarão no prédio do IBC. São empresas de São Paulo, que deverão gerar, somadas, de 250 a 300 empregos. Elas já definiram as áreas que cada uma ocupará no prédio.
CIDADÃO - É verdade que vai ser implantada em Fernandópolis uma usina de processamento e reciclagem de óleo de cozinha?
VILAR Sim. Vamos implantar uma indústria de reciclagem de óleo de cozinha, que depois de usado acaba sendo jogado no ralo, o que polui o lençol freático. A grande beneficiária desse projeto será a SABESP, que é uma das parceiras. As outras são a Fapesp, FEF, Unicamp, Prefeitura Municipal, Alcooeste, o Curtume, que sendo reassumido pelo Clacir Colassiol. Essa indústria vai recolher esse óleo, o que protegerá o meio ambiente. O óleo será transformado em biodiesel e os próprios veículos da prefeitura poderão usar esse combustível, por um preço menor do que o de mercado. Se sobrar, os parceiros também poderão usá-lo. É um projeto pequeno, de produção de 20 mil litros por mês, mas é o embrião de um grande projeto de produção de biodiesel para o futuro, além de ser ecologicamente correto.
CIDADÃO - O que vai mudar na Saúde, com o advento do AME?
VILAR O AME vai atender a população de Fernandópolis e os 13 municípios que fazem parte da nossa região. Haverá 16 especialidades médicas. Isso vai acabar com as filas nos postinhos e na própria Santa Casa. O doente será encaminhado pelos postinhos ao especialista. A administração do AME, como já disse, será da Santa Casa de Misericórdia.
CIDADÃO Em maio, a bandeira no município foi desfraldada num mastro na entrada da cidade. Agora, outra bandeira foi instalada no centro de Fernandópolis. De quem foi a idéia e qual é o objetivo?
VILAR Quando nós estávamos pensando no que fazer para comemorar os 70 anos do município, surgiu a idéia de colocar uma bandeira de Fernandópolis no centro da cidade. Depois, pensamos que seria interessante colocá-la na entrada principal, como se ela desejasse boas-vindas aos visitantes. Além do mais, acreditamos que o fernandopolense que vê a bandeira diariamente acaba pensando mais na cidade e o que pode fazer por ela. Quando acabou a semana do aniversário, resolvemos pôr as duas bandeiras.
CIDADÃO - O sr. tem sido criticado por várias correntes por causa dos gastos do município com a Expô. Há tempos Fernandópolis quer a privatização da festa. A administração não andou na contramão, nesse caso?
VILAR Posso falar com conhecimento de causa porque a grande mudança da nossa festa foi durante a minha administração anterior. Naquela época o presidente era o José Carlos Matias, e investimos muitos recursos na Expô. O recinto ganhou outra cara, e isso melhorou o nível da festa. Depois disso, a festa não cresceu mais, enquanto festas de outras cidades cresceram muito no mesmo período. Agora, de volta à prefeitura, constatamos que teríamos que investir mais nesses quatro anos para que a festa voltasse a crescer. A Câmara aprovou uma verba de R$ 600 mil da prefeitura. Buscamos também vários recursos externos no Ministério do Turismo, verbas conseguidas por deputados... deu para alavancar o porte da festa, praticamente todo mundo elogiou. Só que a partir de agora acho que não deve haver investimento de recursos do município. A partir do ano que vem, com os recursos já entabulados nas áreas federal e estadual, e com a manutenção da atual comissão, ela poderá prescindir da ajuda do município. A idéia é conquistar a autonomia financeira da Expô, e que a Cia. da Expô seja uma gestora independente.
CIDADÃO - Outro caso importante, que não envolve a pessoa do prefeito Vilar, mas envolve a prefeitura, é a ação civil pública que o promotor Denis Henrique Silva moveu contra o município, a COHAB, a Nossa Caixa e um empresário, por causa do terreno do Centro Comunitário do Jardim Bernardo Pessuto. O promotor disse que a prefeitura terá que desafetar um imóvel para substituir aquele dado em comodato anos atrás. O que o sr. pensa disso tudo?
VILAR Olhe, faz apenas três horas que a prefeitura foi citada nesse processo. Já passei o caso para o departamento jurídico, e depois pretendo ler para conhecer a argumentação usada. Na verdade, isso foi feito em 1990 ou 1991, na administração do ex-prefeito Milton Leão. Com todo respeito ao promotor, ainda não conheço as alegações, por isso prefiro não falar desse assunto por enquanto.
CIDADÃO - No futuro, a prefeitura vai colocar as informações gerais, como salários de funcionários, na Internet?
VILAR No prazo certo, determinado pela lei, vamos fazê-lo. Cidades que possuem entre 50 mil e 100 mil habitantes têm um prazo de dois anos para se adequar a esse dispositivo legal. Por enquanto, nossa estrutura não está adaptada para isso, mas vamos divulgar essas informações no prazo legal.
CIDADÃO - Alguns vereadores e a empresa Jauense querem saber como será resolvida a questão do transporte coletivo, que eles consideram precário.
VILAR Eu também considero precário no momento, mas a tendência é melhorar. Quando assumi, a empresa estava a ponto de romper o contrato. Pedi aos empresários que mantivessem o serviço funcionando porque iríamos estudar uma solução. O idoso e o deficiente físico também precisam andar de ônibus e sem pagar nada, porque existe uma lei que garante isso. É evidente que o dono de uma empresa de ônibus não pode ser obrigado a fazer transporte de graça; então, quem tem que fazer a complementação é o município. Só que precisávamos ter uma base para saber qual seria o valor justo. Isso foi feito pelo departamento de planejamento. Durante um mês fizemos um levantamento para conhecer o déficit real, e chegamos à conclusão de que é em torno de R$ 24 mil a 30 mil mensais. Na semana passada, conversamos com o pessoal da empresa. Eles haviam pedido R$ 75 mil por mês para bancar esse déficit. Mostramos o nosso estudo e eles a princípio concordaram. O assunto agora está nas mãos da alta direção da empresa, que deve apresentar sua concordância ou discordância na próxima semana. Daí, encaminharei um projeto à Câmara pedindo autorização para essa subvenção. E os ônibus da empresa terão que ir aos locais que eles hoje estão evitando, como a Unicastelo e o Água Viva quantas viagens forem necessárias.
CIDADÃO - Como está a questão do lixo hospitalar? Houve concorrência ou o contrato foi prorrogado?
VILAR O lixo está sendo recolhido. O que houve foi o seguinte: a prefeitura estava pagando normalmente o recolhimento do lixo hospitalar que é de responsabilidade dela, como o dos postinhos. Só que a prefeitura estava pagando também todo o recolhimento do lixo hospitalar da Santa Casa, do Hospital das Clínicas, dos dentistas e dos médicos, das farmácias. Ao passar por aqui no ano passado, o Tribunal de Contas considerou isso irregular. Assim, estamos estudando a melhor maneira de dividir essa cobrança com os particulares.
CIDADÃO - E a remodelação das avenidas, quando começa?
VILAR Ainda este ano, vamos remodelar a praça Fernando Jacob. O projeto ficará pronto na próxima semana. Ela será o marco zero de Fernandópolis.
CIDADÃO - Alguns moradores de Fernandópolis temem que o sr. esteja gastando muito no primeiro semestre, o que provocaria falta de recursos na segunda metade do ano. Como o sr. responderia isso?
VILAR Tenho que me preocupar realmente porque a arrecadação caiu, mas a gente tem um controle. Tenho acompanhado o orçamento e espero que não haja problema. Se todo mundo continuar pagando seus impostos não vai faltar dinheiro. O cidadão não tem que só cobrar, não. É cobrar e pagar os impostos! Inclusive vou adiantar em primeira mão: por lei, devo mandar para o departamento jurídico até agosto os débitos referentes ao período de 2005 a 2008 para que sejam executados. Decidi hoje (quarta-feira) mandar para a Câmara nos próximos dias um Refis, para dar uma chance aos contribuintes com débitos vencidos até 31/12/2008; se quiserem pagar no mês de agosto, vamos tirar os juros e as multas. Aqueles que não aproveitarem essa oportunidade, em setembro vão para execução fiscal. Essa renúncia de juros e multas implica em valores de 45% a 50% do principal, é uma grande oportunidade.
CIDADÃO - Qual é a novidade na área das audiências públicas?
VILAR Todo mês, temos recebido no gabinete 130, 150 pessoas. Normalmente, as reivindicações são de pessoas simples, que eu procuro escutar e atender. Agora, quero me comunicar também com a outra ponta da sociedade, e a maneira que encontramos foi a realização mensal de audiência com um clube de serviço, ou loja maçônica, às quais farei um relato do está sendo feito e do que pretendo fazer no próximo ano, além, é claro, de ouvir suas queixas e sugestões. Essa camada da comunidade também deve ser ouvida.