Promotor quer lista de funcionários contratados por Vilar

20 de Agosto de 2025

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Promotor quer lista de funcionários contratados por Vilar
O promotor de Justiça Daniel Azadinho Palmezan Calderaro requisitou a relação completa dos funcionários municipais comissionados e contratados pela prefeitura de Fernandópolis por tempo determinado. O objetivo é detectar eventuais irregularidades nas contratações, o que ensejaria a propositura de ação civil pública com pedido de afastamento dos funcionários e ressarcimento aos cofres públicos.

A medida representa nova cartada no combate ao nepotismo, que teve início com a ação civil movida pelo Ministério Público em face do prefeito Luiz Vilar de Siqueira (DEM) e dos funcionários Angélica C. Azadinho Nossa, Helen Cristina Martins, Jesus Alves Nogueira, Paulo Moyses Baroni Vono e Vânia Cláudia Campanha de Araujo Almeida.

Na ação, subscrita pelo promotor Denis Henrique Silva e protocolada em 4 de maio, o MP denuncia que Angélica, chefe do departamento de coordenação da Agricultura, é “parente por afinidade em 2º grau da vereadora Creusa Maria de Castilho Nossa”; que Helen, assessora para assuntos florestais, é mulher de Warley Luiz Campanha de Araujo, vereador e presidente da Câmara; que Jesus, encarregado do departamento de trânsito, é marido da vereadora Cândida de Jesus; que Paulo Moyses, coordenador de administração, é sobrinho do vereador Etore Baroni; e que Vânia Cláudia, encarregada de setor, é irmã do já citado Warley.


SEM LEI
Na petição, o promotor escreve: “Embora ausente lei municipal proibindo tal prática (projeto nesse sentido, de autoria do ex-vereador Alaor Pereira, foi rejeitado pela Câmara; leia Box), há ofensa manifesta aos princípios norteadores da Administração Pública, albergados pela atual Carta Constitucional, no seu artigo 37”. O representante do MP cita ainda ofensa à Lei Federal 8.429/92.

Até a última quarta-feira, nem o prefeito, nem os cinco funcionários haviam oferecido contestação na ação, embora o prazo não tivesse se esgotado. O promotor Daniel Azadinho garantiu que o Ministério Público pedirá o afastamento de todo e qualquer funcionário cuja contratação configure nepotismo.

A ação foi distribuída para a 1ª Vara Cível da Comarca, cuja titular, a juíza Luciana Cassiano Zamperlini Cochito, relegou o exame da liminar pedida pelo promotor (pelo afastamento imediato dos funcionários) para “após a formação regular da relação jurídica processual com a notificação dos réus, onde se firmará o inequívoco convencimento deste Juízo acerca da pretensão inicial”.

Em outras palavras, a juíza rejeitou o pedido do afastamento imediato. Isso, porém, pode acontecer assim que transcorrer o prazo para a contestação.


Projeto anti-nepotismo de Alaor foi rejeitado

Há pouco mais de um ano, a Câmara Municipal de Fernandópolis rejeitou projeto de Lei do ex-vereador Alaor Pereira Marques, do PSB, que propunha a proibição de atos de nepotismo no município de Fernandópolis.

Segundo Alaor, o “interesse inconfessável de alguns” acabou provocando a rejeição do projeto, que foi votado quando o presidente da Câmara era o também ex-vereador Ademir de Almeida, atualmente no PP. Na ocasião, apenas Francisco Affonso de Albuquerque, José Carlos Zambon e o próprio Alaor Pereira votaram favoravelmente. A ausência de lei municipal nesse sentido, porém, não impede a propositura de ação civil pública, uma vez que o nepotismo é vedado pelo princípio disposto no artigo 37 da Constituição Federal.



Nepotismo é primo-irmão dos políticos

Nepotismo emana do latim nepos, nepotis, que significam respectivamente neto e sobrinho. Indica também os descendentes, a posteridade, podendo ser igualmente empregado no sentido de pródigo, perdulário, dissipador e devasso. Para a cientista política Carmem Lúcia Antunes Rocha, representa “a conduta havida na Administração do Estado, pela qual agentes públicos, valendo-se dos cargos por eles ocupados, concedem favores e benefícios pessoais a seus parentes e amigos”.

No caldo cultural da política que se pratica no Brasil, o nepotismo sempre andou de braços dados com os ocupantes de cargos ou funções públicas. É, talvez, o maior fator do atual descrédito da sociedade brasileira em relação ao Congresso Nacional, o grande berço do nepotismo.

No início dos anos 60, após a renúncia de Jânio Quadros à presidência da República e a resistência ao vice João Goulart, os legalistas queriam a convocação de novas eleições.

O nome emergencial para ser o candidato dessas forças era o do deputado federal Leonel Brizola, cunhado de Jango. Na ocasião, cunhou-se o slogan: “Cunhado não é parente, Brizola presidente”.

Não aconteceram nem a candidatura, nem a eleição. Os militares deflagraram o golpe de 31 de março de 1964 e o Brasil só retomou a trilha democrática 21 anos depois.