Aos 91, Domingos tem na memória boa parte da história da cidade

20 de Agosto de 2025

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Aos 91, Domingos tem na memória boa parte da história da cidade
O município de Fernandópolis comemora nesta sexta-feira, 22 de maio, 70 anos de emancipação política. Muitos dos que participaram da construção dessa história – de forma direta ou indiretamente – já não se encontram mais entre 61 mil habitantes da cidade. Alguns, pelos grandes feitos, deixaram história para contar. Outros, que também participaram dessa construção e ainda estão vivos, hoje se encarregam de contar a história desses grandes homens, que ajudaram a construir a história de Fernandópolis, a “Cidade das Águas Quentes”.

Nesse último grupo, encontra-se o aposentado Domingos Ramos da Silva que, aos 91 anos de idade, traz em sua memória boa parte da história da cidade. Mas nem todas porque segundo ele “já não cabe tudo na cabeça”.

Domingos veio de uma família simples. Seus pais - Joaquim e Eduvirges - tiveram 13 filhos. Cinco faleceram logo após o parto, oito eles com seguiram criar. Todos na fazenda São Pedro, que possuía 380 alqueires. Domingos era o segundo filho mais velho e começou a trabalhar muito cedo, como era de praxe naquela época. Com sete anos ajudava seu pai - que era produtor de milho, arroz, feijão e gado – na fazenda. Aos 12 anos seu pai já o fazia montar em um cavalo e se dirigir a Tanabi e São José do Rio Preto em busca de remédios, vacinas e outros itens. Para chegar até essas cidades a cavalo, levava-se aproximadamente de 12 horas. Domingos saía às 6h, chegava por volta das 18h, dormia em uma pensão, fazia suas compras e retornava no dia seguinte.

Anos mais tarde seu pai lhe deu oito bois e um carro de pau para que ele passasse a trabalhar como carreiro. Aos 22 anos Domingos se casou com Isaltina Cândida da Silva e tiveram quatro filhos: Eurípides, José, Alvino e Eduvirges. Seu casamento foi realizado em um salão de festas com um padre de Igapira (hoje conhecida como Álvares Florence), pois a Igreja Matriz de Fernandópolis – que era feita de pau-a-pique – não tinha telhado e estava coberta com folha de coqueiro. Com seu carro-de-boi, Domingos ajudou a puxar os primeiros postes de luz que foram instalados em Fernandópolis e também as madeiras que construíram as Casas Pernambucanas, primeira loja da cidade. “De algumas coisas eu ainda me lembro, por exemplo, a primeira loja da cidade foi a Pernambucanas, mas antes existia ali bar/restaurante que era de um italiano, o Cássio Vendramini, que comprou do Juliano Geraldo da Silva; este havia comprado o terreno para fazer uma casa, mas acabou desistindo” disse Silva.

Logo após a instalação do município, em 1945, e nomeação do primeiro prefeito, Gumercindo Ferraz Frota - que foi prefeito por aproximadamente 100 dias e renunciou – passou a proibir que os carros-de-boi circulassem pela cidade, pois, segundo ele, as rodas deixavam marcas profundas no chão e quando chovia criavam-se valetas cheias de água.

“O Gumercindo ficou pouco tempo, logo depois veio o Miguel Dutra, depois o Vergniaud Mendes Caetano e depois foi eleito o Líbero de Almeida Silvares, que era genro do Carlos Barozzi”, relembrou. Em 1972, Domingos se mudou para a cidade e passou a morar em uma chácara entre as avenidas da Saudade e Geraldo Roquete, onde reside até hoje. O local era conhecido na época como “Morro do Piolho”, por se tratar de um arrebalde onde existiam muitas brigas e mortes. Aos 91 anos de idade, com 12 netos e 8 bisnetos, Domingos diz ter um sonho. O de ver os cemitérios da cidade sendo mais respeitados pelas pessoas e merecendo melhores cuidados do Poder Público. “Hoje eu não aguento andar muito e as vistas também não estão boas mais; mas, se tivesse boas condições, eu iria bater um papo com o prefeito para ele melhorar os nossos cemitérios. Ali estão enterrados os nossos entes queridos. Os vândalos entram nos cemitérios, roubam e destroem tudo o que a gente construiu com tanto sacrifício para os nossos pais, irmãos e familiares. Vendo tudo isso, como pode ter uma pessoa gosto na vida?”, concluiu Domingues Ramos dos Santos.