O comércio varejista de São Paulo encerra março com alta de 2,5% no faturamento real em relação a março do ano passado, puxada pelo setor de Comércio Automotivo (13,4%). Segundo a Pesquisa Conjuntural do Comércio Varejista (PCCV) elaborada pela Fecomercio, em relação ao primeiro trimestre, o setor apresentou queda de 1,2% no faturamento real comparado a igual período de 2008.
De acordo com Antônio Carlos Borges, economista e diretor executivo da Fecomercio, os resultados estiveram muito próximos aos projetados no final de 2008, mas a surpresa foi a recuperação parcial do desempenho em março, dado que as perspectivas projetadas para 2009 são de um primeiro semestre bastante adverso. "Após esse resultado previsto e realizado é o momento de rever as projeções para o ano", afirma.
Em março, o Comércio Automotivo apresentou um crescimento do faturamento real de 13,4% em comparação a março de 2008. Esse desempenho se deve aos efeitos da redução do IPI sobre os automóveis novos, incentivando os consumidores a deixar de lado a queda na confiança para aproveitar a oportunidade. "Este fator fez com que o ritmo de vendas voltasse aos níveis de 2008 e já existem listas de espera para alguns modelos."
Para Borges, no curto prazo, a diminuição do IPI - que tem prazo determinado para acabar - garante a manutenção do emprego no segmento, conforme o objetivo das ações adotadas pelo setor público. No acumulado do ano, a atividade ainda apresenta perdas de 3%, em comparação ao primeiro trimestre de 2008, com tendência de recuperação ainda mantida para os próximos meses.
O setor de Farmácias e Perfumarias registrou elevação de 14,6% no faturamento real em relação à igual mês do ano passado e ficou novamente com o melhor desempenho do comércio para o mês. O acumulado no ano está em 11,8%. Segundo Borges, o aumento na massa real de rendimentos na região, adicionado ao crescimento do consumo dos medicamentos genéricos e ao grande mix de produtos, com destaque para perfumaria, pressionou mais uma vez o índice positivamente.
Pela terceira vez no ano, as Lojas de Departamento registraram incremento de 1,6% em seu faturamento real de março, em comparação com o ano anterior. Em fevereiro, a atividade havia apontado alta de 3%, registrando no acumulado do primeiro trimestre variação positiva de 6,3%. Segundo Borges, esta é a terceira elevação consecutiva do índice, que em 2008 teve queda de 11,4% no acumulado do ano - o pior desempenho dentre todos os grupos avaliados pela PCCV. "Um fator que pode influenciar o faturamento real da atividade nos próximos meses é a redução do IPI para a linha branca de eletrodoméstico s".
No segmento de Móveis e Decorações, o desempenho apontou crescimento de apenas 0,4% sobre março de 2008, descontados os efeitos da inflação. No acumulado do ano, o segmento apresentou números bem inferiores do que na margem: queda de 8,5% no faturamento real. "Esse setor é muito influenciado pela queda na confiança do consumidor em assumir compromissos de longo prazo. Ao mesmo tempo o segmento não recebe nenhum tratamento especial do setor público - como no caso de automóveis e, mais recentemente, da linha branca", avalia Borges.
Conforme o economista, se os dados de março se repetirem nas próximas edições da pesquisa, o varejo poderá apresentar recuperação - ainda que muito modesta - antecipada, que somente seria possível na segunda metade do ano. "Os resultados, apesar de positivos, estão concentrados em poucos setores. Essa centralização mostra um potencial de risco: se ess es segmentos, principalmente o automotivo, apresentarem resultados ruins, dificilmente haverá compensação positiva suficiente por parte de outros setores, ao menos neste ano", afirma.
Setores em queda
Os efeitos dos pacotes de estímulo do governo ainda não parecem ter surtido efeito para as Lojas de Material de Construção. Em março, houve queda de 5,2% no faturamento real do setor e no ano o resultado acumula uma perda de 8,6%.
Segundo Borges, o segmento deve começar, a partir de maio, a experimentar uma melhoria por conta das reduções de IPI e do aumento das linhas de crédito voltadas à construção civil, principalmente focadas nos pequenos empreendimentos, o que tem repercussão direta sobre as vendas no varejo.
O segmento de Supermercados teve sua primeira queda do ano com redução de 7,3% no faturamento real em relação ao mês de março de 2008. No acumulado do ano, houve queda de 1,2%. Borges destaca que o efeito calendário é a principal razão dessa queda expressiva para o setor. "No ano passado, a Páscoa - o segundo feriado mais importante para o segmento - ocorreu no mês de março e nesse ano em abril, com isso a base de comparação para março deste ano ficou elevada."
Em sua terceira queda consecutiva, o faturamento real do setor de Vestuário, Tecidos e Calçados apontou variação de -10,4% na comparação com o março de 2008. Em fevereiro, o setor havia acusado queda de 8,7%, encerrando o primeiro trimestre do ano com queda de 7,3% em seu faturamento real. "O desaquecimento das vendas é resultado da entrada da coleção outono-inverno, normalmente dotada de preços mais elevados em virtude do maior valor agregado das mercadorias", explica.
De acordo com a PCCV, o pior desempenho do mês de março ficou com as Lojas de Eletrodomésticos e Eletrônicos, o que mostra que o segmento também sentiu bastante os efeitos da crise. Em março, a queda do faturamento real deste setor foi de 12,9% e no trimestre o desempenho é negativo em 10,7%.
Segundo Borges, há boas chances de que, nas pesquisas apuradas a partir de maio, o segmento já mostre resultados positivos devido às medidas de estímulo do governo, que, em conjunto com outras ações, podem reverter lentamente o fraco desempenho do varejo e da economia.