Mariana busca em Londres o aperfeiçoamento pessoal

20 de Agosto de 2025

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Mariana busca em Londres o aperfeiçoamento pessoal
Quando deu início à sua aventura londrina, a psicóloga fernandopolense Mariana Garbim de Oliveira Picolin, formada pela PUC de Campinas, em 2000, com mestrado em Psicologia Escolar e especialização em psicodrama, o fez movida pela demissão do cargo de professora da FEF. Como a irmã Fernanda, ela buscava novos rumos profissionais, o aprendizado da língua mais conhecida no mundo e o equilíbrio interior. Na Inglaterra, acabou conhecendo Michel Fabrício Picolin, e logo os dois brasileiros se apaixonaram. Voltaram ao Brasil, casaram-se e retornaram para o Reino Unido. Lá, em meio a muito trabalho, o casal tem como fonte de lazer os piqueniques nos belíssimos parques ingleses, os shows de Rock’n Roll e o futebol (recentemente, assistiram no novíssimo Emirates Stadium a vitória do Brasil sobre a Itália por 2 a 0. Na breve visita que fazem ao país, Mariana e Michel estiveram na redação de CIDADÃO, para esta entrevista.


CIDADÃO: O que foi que levou você e a sua irmã a se mudarem para a Inglaterra?
MARIANA: Acho que as condições de estudo, as possbilidades que havia por lá, e a possibilidade de podermos nos manter com o nosso trabalho, coisa que por lá é tranqüilo de encontrar. O custo de vida é alto, mas em compensação a remuneração do trabalho é suficiente para a pessoa se manter e pagar os estudos. Além disso, tem a questão de aprender uma segunda língua, e justamente o inglês britânico. A princípio, comecei a estudar inglês. Foi quando conheci o Michel, e a gente se apaixonou. Ficamos seis meses e voltamos ao Brasil, nos casamos e decidimos voltar para a Inglaterra, para continuar a vida por lá. Eu tinha começado meu doutorado aqui, mas um conjunto de fatores, como a minha demissão na FEF, me deixou em condições de fazer essa experiência de vida. Além do mais, eu queria acabar com essa coisa de saber inglês “more or less”: eu queria efetivamente a proficiência na língua.

CIDADÃO: Você estava em Londres quando a polícia londrina matou o brasileiro Jean no metrô?
MARIANA: Não, o crime aconteceu em 2005, e eu fui em 2006. Mas a todo instante – até hoje – a imprensa britânica publica alguma coisa sobre esse episódio.
CIDADÃO: Então, quando você chegou à Inglaterra, em 2006, foi trabalhar como mão-de-obra não especializada, não é?
MARIANA: Sim. Eu cheguei a fazer limpeza em estádio (de futebol), fui garçonete de casamentos, e agora sim, tenho um trabalho do qual não posso reclamar: sou teller de uma empresa brasileira, um banco com filiais em Miami, Portugal e outros lugares, e que faz envio de dinheiro. 90% dos meus clientes fazem envio de dinheiro para o Brasil. Eu trabalho numa filial de Londres. Sou responsável pelo recebimento e cadastramento de clientes. Tem brasileiro que envia dinheiro toda semana, outros todo mês. Trabalho num ambiente confortável, com meu computador, Internet. É um trabalho bem melhor, mas ainda não é, evidentemente, da minha área. Mas serve para me manter nos estudos. Como é uma filial nova, atendo de três a quatro clientes por dia. Trabalho seis horas diárias. No resto do tempo, eu estudo.
CIDADÃO: Mas você está se especializando para trabalhar na Inglaterra ou no Brasil?
MARIANA: Nos dois. Eu quero conhecer como é o trabalho lá, estou organizando minha documentação, porque quero fazer o meu pós-doutorado por lá – que, na verdade, é o PhD. A intenção de estudar lá se deve ao padrão de qualidade, e depois vir para o Brasil. Antes, porém, quero estudar e atuar lá, conhecer a realidade da educação da Inglaterra. Aqui no Brasil, quando a gente estuda a Psicologia Escolar, o padrão de qualidade citado é justamente o inglês. Portanto, como estou por lá, e tenho essa oportunidade, quero aproveitá-la antes do nosso retorno ao Brasil.

CIDADÃO: Há algum tipo de mão-de-obra brasileira especializada (excetuando-se os jogadores de futebol) que consegue atuar na sua atividade?
MARIANA: Alguns amigos, que têm a situação legalizada, conseguem trabalhar na sua área de formação. Tenho um amigo terapeuta ocupacional, por exemplo. Há também nutricionista, fisioterapeuta. Porém, todos passaram por aquela situação primeira, de trabalhar no que fosse possível para sobreviver. Isso porque enquanto a documentação de registro profissional não estiver OK, todos têm que “se virar”, para garantir sua subsistência.
CIDADÃO: Sua irmã Fernanda faz o quê por lá?
MARIANA: A Fernanda trabalha em dois museus, organiza os cafés desses museus. Como é formada em Direito, fica difícil pelas diferenças da formação acadêmica entre o Direito britânico e o Direito brasileiro. Assim, o mais importante para ela é conquistar o pleno domínio da língua.
CIDADÃO: Há algum tipo de discriminação com os brasileiros em particular e os latinos em geral?
MARIANA: Os brasileiros, em especial, são bem vistos pelos empregadores ingleses, porque, acredite ou não, comparecem aos compromissos, trabalham sério. Algumas pessoas dizem: “Assim os brasileiros trabalhassem no Brasil como trabalham aqui”. Eles gostam do nosso trabalho. Em Londres, pelo menos, a gente não vê essa discriminação. Aliás, em Londres nem os latinos de maneira geral são discriminados. O que ocorre é que os ingleses acham que têm que ser garantidos postos de trabalho para os ingleses. Não é uma questão racial, e sim econômica, trabalhista. É o mesmo caso do Japão, com os dekasseguis. Mas, se há trabalho, se você não está tomando o lugar de alguém do país, não há problema. Na minha aérea, educação, por exemplo, tem serviço, é que eu ainda não estou com a documentação OK. Mas, se estivesse, estaria tranqüilamente trabalhando na área. É questão de legalidade e qualificação.
CIDADÃO: E a qualidade de vida por lá? Se você tivesse que dar uma nota de 0 a 10 à qualidade de vida que o brasileiro desfruta na Inglaterra, qual seria?
MARIANA: É difícil. Há duas situações. Quando você chega, como foi o caso do Michel, acaba trabalhando 80 ou 90 horas por semana. É normal, porque os salários são pagos por hora trabalhada. Aos poucos, você vai se acostumando, se organizando, encontrando novas oportunidades. Para economizar, há quem faça rodízio de cama: um dorme enquanto o outro trabalha.
CIDADÃO: Existe uma comunidade de brazucas, algum ponto de encontro tradicional?
MARIANA: Ah, sim. Há a associação de brasileiros, inclusive. Registrados, parece que são 300 mil brasileiros no país. Dá quase a população de São José do Rio Preto. Há cinco paróquias com padres brasileiros, tem açougue, restaurante, tem o meu banco, os cafés...Há um café brasileiro que vende produtos nossos na Oxford Street. Até assustei quando cheguei lá. As dificuldades, porém, existem. O que está acontecendo de desemprego na Irlanda, por exemplo, acontece nos outros países. No leste europeu, tinha a questão da construção civil, com muitos brasileiros trabalhando. Agora deu uma parada. As Olimpíadas, por exemplo, geram muitos empregos para brasileiros, por conta dessas construções. Mas, e depois? Pra onde vão essas pessoas? No meu trabalho, o envio de dinheiro caiu muito, há dificuldades para fazer o dinheiro sobrar. O Michel trabalha num pub inglês. Como você sabe, o pub é quase uma igreja para o inglês, e o movimento diminuiu muito. Essa crise é impressionante.

CIDADÃO: Por que vocês estão hoje, no final de abril de 2009, no Brasil? Estão de férias?
MARIANA: Viemos por causa de um compromisso familiar: o casamento da irmã do Michel. E também porque conciliamos nossas férias com esse evento. Vamos ficar mais três semanas. Por conta do frio, tivemos um final de ano muito difícil. Nós merecemos um solzinho.
CIDADÃO: Mariana, como psicóloga que você é, responda isso: você se imagina sepultada num cemitério inglês, ou quer morrer no Brasil?
MARIANA: Ah, não (risos). Quero morrer é no Brasil! Falando sério, estou vivenciando essa experiência em busca de aperfeiçoamento profissional, mas é claro que eu preferiria ficar no Brasil, no Estado de São Paulo, em Fernandópolis. Quando tive a possibilidade de, logo após a minha formatura, trabalhar aqui na cidade, fiquei muito feliz, porque teria a chance de retribuir o que esta cidade havia me dado – afinal, foi daqui que meus pais conseguiram tirar o meu sustento, a condição para os meus estudos. Como fui demitida da FEF, junto com várias colegas, tive que ir à luta.