Célia Mafra: uma mulher batalhadora

20 de Agosto de 2025

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Célia Mafra: uma mulher batalhadora
Célia Aparecida Fontes Lopes Mafra é presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Fernandópolis (ADVF) e conselheira tutelar. Mafra fundou a Associação no ano de 2000 em sua própria casa, depois que o prefeito da época lhe negou dois cômodos. Com oito deficientes visuais, Célia deu início às atividades, elaborou um estatuto e registrou em cartório. No ano seguinte, com a eleição do prefeito Newton Camargo de Freitas, ela conseguiu o espaço que queria para trabalhar com o grupo. Em 2003, com a ajuda de Adilson Campos - que assumiu a Prefeitura após a morte de Camargo - a presidente da ADVF conseguiu uma verba para viajar a Brasília para requerer do Ministério da Educação Especial, materiais didáticos voltados para deficientes. Lá foi muito bem recebida e conseguiu trazer para Fernandópolis todo material que precisava para montar uma sala de braile e passar a fornecer apoio pedagógico aos associados.

Hoje a ADVF conta com 45 deficientes visuais, entre eles está o filho de Célia, Gustavo de 19 anos, que é deficiente visual total. Devido a um problema de gestação, ele nasceu com o nervo óptico atrofiado. “Devido a minha bolsa gestacional ter rompido ao seis meses de gravidez, o Gustavo nasceu com apenas 890 gramas, teve parada cardiorrespiratoria e o médico já havia me alertado que ele poderia ficar com sequelas. Aos seis meses de vida, percebi que ele não enxergava, levei a um médico que me disse que ele nunca enxergaria, pois tinha o nervo óptico atrofiado. Naquele momento se abriu um buraco na minha vida”, desabafou Mafra.

Com a notícia, a família ficou abalada. Ademir entrou em depressão e Célia precisou buscar a ajuda de uma psicóloga. Com quatro anos de idade, Célia matriculou o pequeno Gustavo e a si mesma no Instituto de Cegos Padre Chico, uma escola de ensino fundamental voltada para deficientes visuais e baixa visão. Em 1996, após terem sido assaltados por três vezes em São Paulo – sendo que em um o ladrão apontou uma arma de fogo e levou único carro que eles tinham – o casal decidiu se mudar para Fernandópolis. Ademir - como era mestre de obras - conseguiu serviços na área; já Célia, pegava trabalhos de faculdade para digitar para poder ajudar no sustento da casa. Gustavo, com a ajuda das duas irmãs - que se tornaram “seus olhos” – ganhou mais liberdade para sair na cidade interiorana; mas nem tanto, segundo Célia. “O Gustavo não gosta de sair de casa a pé, pois quando sai sempre é maltratado pelas pessoas que o chamam de vagabundo, cego, quando tropeça e cai sobre objetos que estão na calçada. Quando isso acontece, ele fica uma temporada sem sair de casa”, disse.

Em 2005, Mafra precisou arrumar um emprego fixo para poder ajudar mais nas despesas da casa. Foi quando a convidaram para se candidatar ao trabalho de conselheiro tutelar. Ela se candidatou, foi eleita e passou a trabalhar no Conselho Tutelar de Fernandópolis. “Para ser sincera, quando eu decidi ser conselheira tutelar eu nem sabia o que um conselheiro fazia, fui mais pelo dinheiro, pois eu precisava muito naquela época. Mas assim que entrei passei a estudar muito e fui pegando amor pelo trabalho. Naquele mesmo ano, o juiz Evandro Pelarin veio para cidade. O primeiro local que ele visitou foi o Conselho Tutelar. Lembro-me de uma frase que ele disse a nós: ‘eu tenho ouvido falar muito bem do Conselho Tutelar de Fernandópolis. E se já estava bom, agora ficará ainda melhor, pois nós vamos trabalhar em conjunto para melhorá-lo’. E de fato, os índices revelam o quanto esse trabalho tem sido realizado com eficiência”, afirmou.

O primeiro plantão de Célia foi um dos mais agonizantes. Ela foi acionada para comparecer à Santa Casa às 4h. Quando lá chegou, deparou-se com uma jovem mãe de 17 anos com uma criança de oito meses que havia sido estuprada pelo padrasto. “Ver o rostinho daquelas crianças tão inocente, que parecia ter chorado muito, me marcou. Naquele momento comecei a pedir a Deus forças e sabedoria para lidar com aquela e outras situações que eu poderia vir a enfrentar”.

Em 2007, Célia foi eleita presidente do Conselho Tutelar e no ano seguinte reeleita. Esse ano é o seu último mandato; para o próximo ano ela não poderá mais se candidatar; mas – ainda assim – quer servir como voluntária para os trabalhos voltados para criança e adolescente. Questionada sobre seu maior sonho, Célia disse ser o de um mundo melhor, sem violência – principalmente com a criança - e mais igualitário. Se eu não puder ver o meu Brasil dessa forma, que seja pelo menos eu veja a minha cidade. É por isso que eu tenho lutado, gostaria que muitas outras pessoas se juntassem a mim”, conclui Célia Mafra.