CIDADÃO: Por que a Brenco escolheu a região do Alto Taquari para a produção da cana-de-açúcar, a matéria-prima do etanol?
MANSO: O projeto está estruturado para ser de grande escala, na verdade de escala mundial. O objetivo é associar quantidade e qualidade para atender ao mercado internacional. São usinas greenfield, aglomeradas em pólos. Portanto, têm que estar em grandes áreas, para atender aos critérios de custo, qualidade e sustentabilidade. Essas áreas, claro, têm que ser produtivas. Estamos estruturados na região do Alto Taquari com o nosso primeiro dos três pólos, que conta com cinco usinas grandes, cada uma moendo pelo menos 36 mil toneladas de cana. Então, a área situada entre Alto Taquari, Mineiros, Costa Rica e Perolândia, apresenta um tamanho suficiente para que ali se se desenvolva um projeto dessa natureza. Esse é o primeiro pólo; o segundo é Paranaíba e Itajá, aqui mais próximo do Estado de São Paulo.
CIDADÃO:O duto de etanol terá 1120 km e custo estimado em US$ 1 bilhão. A Brenco terá parceria nessa obra?
MANSO: O desenvolvimento do projeto está sendo efetuado diretamente pela Brenco. Hoje, as parcerias não são condição essencial para o desenvolvimento das obras, no sentido de parcerias societárias no duto; mas existe pelo menos uma parceria que está sendo negociada, e que pode se concretizar ou não. A parceria mais importante, para nós e que não é exatamente uma parceria societária é ter o apoio dos produtores, que eles se interessem em fazer o transporte da produção através do duto. É isso que garantirá a sua viabilidade em longo prazo.
CIDADÃO: Quais foram os principais critérios para a definição do traçado do alcoolduto?
MANSO: O critério foi desenvolver um produto que atendesse a três premissas: custo competitivo, confiabilidade na entrega do produto ou seja, ele tem que estar disponível com qualidade e no tempo certo, sem interferências como acontece no transporte rodoviário, com os tradicionais problemas enfrentados nesse tipo de transporte e um traçado lógico, otimizado, que passe por regiões produtoras novas, em desenvolvimento e consolidadas, servindo ao mercado interno e à exportação. Se você olhar a rota do duto, verá que ele vem do centro oeste do país, uma região em pleno desenvolvimento, rumo ao noroeste paulista, região já consolidada e mais próxima de São Paulo. Depois, a região metropolitana, perto da zona de escoamento de exportação, que é o porto de Santos. Tudo isso garante a rentabilidade do projeto e atrai o investidor para aplicar seu capital.
CIDADÃO: Fernandópolis postula a instalação de um terminal de carga e bombeamento de etanol. Isso poderá acontecer?
MANSO: Está previsto que na região noroeste paulista haverá dois terminais. Um deles nesta região, entre Fernandópolis e Votuporanga, e outro mais a sudeste, de São José do Rio Preto a Catanduva. Estão sendo feitos estudos técnicos para avaliar melhor a localização. Essencialmente, isso será definido pelos interesses dos produtores da região. O objetivo do terminal é ser o ponto de injeção do produto no duto.
CIDADÃO: Há uma previsão segundo a qual a partir de 2012, os EUA, a China, a Índia e a própria União Européia serão deficitários em petróleo. A Brenco está apostando na mistura do etanol à gasolina?
MANSO: Sem dúvida alguma. O projeto tem uma escala mundial e visa a atender não só ao mercado doméstico, mas também ao mercado internacional. Mais do que atender: todo esforço que temos feito é para conseguir abertura de mercado na Europa, nos EUA, na Ásia. Acreditamos que esse movimento acontecerá, mas não será por si só. É preciso que nós, aqui, demos a resposta de investimento, porque o comprador, lá fora, quer garantias. Ele quer saber se o produto chegará efetivamente ao porto para ser embarcado, se haverá algum custo adicional, etc. Se você fizer isso constantemente, durante vários anos, enfim, conseguirá a imagem de credibilidade. A pergunta que sempre nos fazem é: o duto está saindo mesmo? Vocês vão conseguir garantir a entrega? Então, a função do investimento é justamente para permitir a prática, saindo do discurso quando vai para o mercado externo.
CIDADÃO: Até que ponto a crise econômica mundial pode produzir mudanças de rota no projeto?
MANSO: Não vejo hoje nenhuma mudança possível, em termos de rota. Isso foi bem estudado, ao longo dos anos, por várias equipes multidisciplinares. Então, não acredito que haja qualquer mudança do projeto por conta de crise. A grande questão, o grande desafio, é a financiabilidade do duto, que pode demorar um pouco mais ou um pouco menos. Porém, nós estamos bastante otimistas, porque temos mostrado o projeto para os investidores, e estes têm percebido nele os critérios de rentabilidade e a garantia de um bom projeto.