Como símbolo de paz entre duas vilas Brasitânia, a Vila Minguante e Pereira, a Vila Progressista foi criada a Avenida Líbero de Almeida Silvares, uma das mais importantes avenidas de Fernandópolis. Importante não só pelo fato de ser um eixo comercial da cidade, mas por toda a história que fez com que ela chegasse a ser o que é hoje. A olho nu, parece apenas uma longa avenida de mão dupla, com um canteiro ao centro, dezenas de casas de comércio, quarteirões e cruzamentos que se interligam; mas quem opta por conhecê-la se vê diante de uma das avenidas mais movimentadas da cidade. São 14 quarteirões com aproximadamente 100 estabelecimentos entre bares, lanchonetes, farmácias, postos de gasolina, quitanda, supermercado, churrascaria, pet shops entre outros - um verdadeiro mercado totalmente diversificado e segmentado que atrai visitantes de vários pontos de Fernandópolis e região. Algumas residências ainda resistem nesse corredor, habitadas por antigos moradores, que fazem questão de permanecer no local a Líbero, para eles, é um símbolo de uma história que ainda está acesa dentro de muitos corações.
Brasilândia Gleba Marinheiro
A coragem de homens intrépidos, aliada aos interesses de desbravar para enriquecer foi o que caracterizou o início de todas as cidades do sertão paulista. Carlos Barozi, italiano, fixou-se na Gleba do Marinheiro, onde mais tarde se formaria a Brasilândia. Ele residia em Eliziário, na época comarca de Catanduva, em uma casa que ele próprio construíra e que, posteriormente, em 1930, foi negociada por terras da Gleba Marinheiro, então pertencente ao Dr. Victor Garbarino, passando daí a ser seu locatário. Com esse negócio, inicia-se a ligação de Barozi com as terras da futura Brasilândia. Anos depois, Carlos Barozzi vende seu armazém em Eliziário e fica sem capital de giro para aplicar em benfeitorias em sua fazenda, iniciando assim, a venda de pequenas glebas de terra. Muito trabalho já havia sido feito e muito haveria ainda por fazer, e Barozi, com o filho, faz de sua fazenda o centro para onde convergiam as forças colonizadoras da região.
Em sua fazenda constrói um barracão que se transformaria em hospedaria para os viajantes que chegavam com a jardineira, vindos de Monteiro, ou viajantes a cavalo, em carros de boi, vindos de fazendas vizinhas, fazendo seu ponto final na fazenda São Luiz Gonzaga. No entanto, somente no dia 10 de novembro de 1938, Barozzi conseguiu fundar a Vila Brasilândia, situada no alto de um espigão. Para ver o crescimento de sua vila o fundador começou a vender e doar terras para incentivar seu crescimento.
Contudo, em 1942 Barozzi foi impedido de outorgar escrituras, pois era italiano e, devido à 2ª Guerra Mundial, teve seus direitos suspensos por decreto presidencial, acusado de quinta-coluna. Seus bens foram declarados na Coletoria Federal, podendo ser confiscados para cobrir possíveis prejuízos de guerra. Somente em 1944, após conseguir a cidadania brasileira ele entra novamente em gozo de seus direitos, podendo legalmente outorgar escrituras o que fez, vendendo novamente chácaras, sítios, terras onde hoje se localizam os jardins América e Santa Helena. Dessa maneira, a colonização da região se faz com a pequena propriedade que funcionava como uma unidade produtiva, onde o trabalho de todos contribuía para a perspectiva de prosperidade. Inicialmente predominava a policultura e uma pequena criação de animais, depois vieram outros tipos de cultivo, como o do café, arroz e algodão. A vila adquire vida própria, encontrando-se, ali, pessoas que exerciam as mais variadas atividades: Líbero de Almeida Silvares (armazém e depósitos de algodão e arroz), Pedro Malavazzi (secos e molhados), José Marinho Lopes e Carlos Felipe (tecidos), José Lau (padaria), Armando Antonio Saglione (comerciante, e dono de ônibus urbanos as mijoletas), entre outros.
Vila Pereira Gleba Santa Rita
Joaquim Antônio Pereira, baiano, após residir em várias cidades do estado de São Paulo, fixou-se em Olímpia, onde formou fazenda de café e cana-de-açúcar. O primeiro contato dele com o Alto Sertão de Rio Preto data de 1918, quando, a cavalo e em companhia de Theotônio João da Cruz, seu peão, aqui esteve a serviço do escritório de engenharia de Leonardo Posela Segundo, sediado em Olímpia, para demarcar as terras de Antônio Pereira de Melo Nogueira, na gleba de 70 mil alqueires, do imóvel Santa Rita, sertão bruto. Em 1924, aos fazer uma sociedade com o agrônomo Ernesto Pedroso, Pereira dedica-se profissionalmente ao ramo da agrimensura e volta ao sertão para novas medições de terra. Em 1927, JAP, junto com Aristophanes Baptista e Joaquim Arnaldo da Silva, adquirem mil alqueires de terras, de propriedade da senhora Maria Vassimon Falheiro. E em 1937, adquiriu 28,27 alqueires de terras de propriedade da viúva Abília Elias Teixeira. Alguns anos mais tarde, em 1941, adquiriu mais 50 alqueires de terra de propriedade da senhora Margarida Maria Gagliardi. Dessa maneira, Joaquim Antonio Pereira já era proprietário de terras na Zona Nova. Logo em seguida resolveu formar as suas propriedades, bem como proceder ao loteamento e vendas de outras áreas contíguas às propriedades descritas.
Muitos outros pioneiros adquiriram terras aqui nessa época: Afonso Cáfaro (1917), Jerônimo Martins de Araújo (1929), mas a fixação da família data de 1928 e início da década de 1930. Com várias famílias já assentadas em muitas fazendas que aqui se formaram, o progressista Joaquim Antonio Pereira percebeu as vantagens de se criar um povoado para a valorização das terras e forçar a abertura de estradas e o prolongamento da Estrada de Ferro Araraquarense, para o escoamento dos produtos.
Em 1939, Joaquim Antonio Pereira destaca 18 alqueires de sua fazenda São José e dá início à fundação do patrimônio. Ordena a derrubada da mata e, em lugar previamente escolhido foi erigido o cruzeiro e rezada a primeira missa pelo padre Fridoro, de Bálsamo, no dia 22 de maio. No mesmo local do cruzeiro em 1941, foi edificada a capelinha em honra a padroeira da Vila, Santa Rita de Cássia, da qual o fundador era devoto. O povoado foi traçado contendo dez avenidas: dos Arnaldos, da igreja, do jardim, do Mercado, da Independência, da Viação, do Jaguarão, Jaborandy, do Jatobá, e Internacional, dez ruas: do Ortigão, do Ingá, do Cedro, do Mandacaru, do Jatay, Rio Grande, do Marinheiro, Pereira, da Jangada e Pádua Diniz. Atraídos pela magnanimidade e facilidade apresentadas pelo fundador, que doava datas na vila àqueles que quisessem aqui residir e construir, começaram a aparecer os que iriam dar início à população de Pereira. Pelas notícias de fertilidade das terras, ótimo clima e vantagens oferecidas, Vila Pereira passou a ser uma promessa esplendorosa, dentro da realidade do progresso da Alta Araraquarense.
Rivalidade
Em 1943, instala-se o Cartório de Paz de Brasilândia. O fato de Brasilândia ter sido escolhida sede da 3º Zona Distrital provoca a rivalidade de Vila Pereira, que se achava em melhores condições de desenvolvimento. As duas vilas disputavam a instalação do distrito, havendo pressões de seus líderes junto às autoridades competentes. Vila Pereira nunca desistiu de ser a sede do distrito e os boatos da possível transferência do Cartório fervilhavam. Os habitantes da Brasilândia ameaçavam pôr fogo no cartório se tal fato acontecesse. Vários eram os fatores que ocasionaram um maior desenvolvimento da Vila Pereira em relação a Brasilândia. A primeira é a questão da psicologia do fundador. Barozi era exigente (doava datas na vila, mas não queria ranchos de madeira, barro e sapé, nem permitia a fixação de turcos com seus comércios), Pereira era mais receptivo e não fazia exigência do tipo de moradias, Barozi era sistemático e fechado; Pereira era alegre, expansivo e extrovertido.
A segunda é a imagem criada e veiculada além dos limites da vila. Barozi vivia na fazenda e dela quase não se ausentava, não promovendo, assim, o patrimônio. Pereira viajava bastante, fazia propaganda de suas terras, incentivava a vinda de colonos para a sua vila. A terceira nasce de um detalhe, se não curioso, não menos importante: o transporte. O ponto final das jardineiras era a Vila Pereira, que funcionava, dessa forma, como fim de linha, boca do sertão, concentrando todo o movimento. Brasilândia era uma vila de passagem, que antecedia a Vila Pereira. A quarta enraizada no imaginário popular, estava o fato de que Brasilândia foi para trás porque a igreja foi mudada de lugar e isso não presta, dá azar. Quinta e última hipótese: Barozi, durante a guerra, foi acusado de quinta-coluna e, sendo italiano, perdeu o direito de outorgar escrituras de terras no período de 1942 a 1944, quando consegue a cidadania brasileira. Isso prejudicou seus negócios. Pereira era baiano, não teve esse obstáculo, outorgando escrituras, definindo vendas de terras e atraindo novas famílias, novos moradores, proporcionando um crescimento seguro e mais rápido da população. O grupo político de Vila Pereira era mais atuante e, mesmo sentindo o golpe da implantação da 3º Zona Distrital de Monteiro, na Brasilândia, iniciou movimento para conseguir a elevação a município, tendo, em decorrência, Pereira como sede.
O tratado de paz
Para simbolizar a união entre as duas vilas, foram realizadas duas procissões: uma saindo de Vila Pereira, levando a imagem da padroeira, Santa Rita de Cássia, e a outra saindo de Brasilândia, levando a imagem do padroeiro, São Luiz Gonzaga. As duas procissões se encontraram a meio caminho entre as duas vilas e, sob a bênção dos padroeiros, os líderes dos dois povoados - Joaquim Antônio Pereira e Carlos Barozzi - confraternizaram-se com o interventor Fernando Costa. Era a igreja e o Estado unidos, determinando o destino daquela comunidade. No local do encontro existe até hoje um marco comemorativo, localizado em frente ao 16º Batalhão da Polícia Militar, na Avenida Líbero de Almeida Silvares. Assim, da união entre duas vilas surgiu o município de Fernandópolis, cujo nome foi dado em homenagem a Fernando Costa, Interventor do estado de São Paulo.