Fã declarado do grande arquiteto Jayme Lerner, o homem que revolucionou a paisagem urbana de Curitiba, Antonio Sérgio Agustini assumiu o setor de Planejamento da prefeitura de Fernandópolis com grandes propostas. Para Agustini, é preciso preparar a cidade para o centenário, que acontecerá em 2039. Esse trabalho tem que começar aqui e agora, garante. Casado com Vitória, também arquiteta, e pai de Aline e Filipe, Agustini é um fernandopolense de berço que abriu mão dos grandes centros e de boas oportunidades para participar do desenvolvimento de sua terra. Nesta entrevista, ele revela alguns dos seus projetos.
CIDADÃO: Quais são os objetivos básicos do projeto que envolve a Praça Fernando Jacob?
AGUSTINI: O projeto é o início de grandes mudanças que a prefeitura está vislumbrando para o futuro da cidade. Ele envolve várias diretorias do município Obras, Meio-Ambiente, Educação, Cultura e todas as outras diretorias que, à luz de sua esfera de atuação, se preocupam com o desenvolvimento urbano da cidade. É uma célula inicial, a praça, porque ela há muitos anos é um problema, que agora o prefeito Luiz Vilar resolveu atacar de frente. Vilar escalou toda a diretoria para criar soluções e transformar a área numa região de valorização da cidade do ponto de vista urbanístico e resgatando a importância que esse cruzamento teve no passado, quando era uma espécie de marco zero da cidade. Queremos solucionar ainda o problema do trânsito, que ali é caótico, em virtude do crescimento da cidade e da frota de veículos.
CIDADÃO: Do ponto de vista estético, quais são as vantagens?
AGUSTINI: A primeira é a reformulação total, uma re-paginação de toda a área, o que envolve calçamento, sinalização, iluminação, paisagismo e atrativos visuais que a área pede. Haverá uma revitalização geral.
CIDADÃO: E a abordagem histórica, que está prevista no projeto, com a colocação de símbolos do município?
AGUSTINI: Na época dos nossos avós, a praça, que se chamava então Praça da Liberdade, era o ponto de encontro. Havia espaço para isso, porque o porte urbanístico era menor. O footing acontecia na praça central, mas a área de concentração era a Praça da Liberdade. O crescimento da cidade impossibilitou esse costume, até porque os carros tomaram conta do espaço. Nossa ideia é resgatar essa importância da praça como referência histórica, como área cívica. No canteiro que existe no centro da avenida, vamos colocar um mastro com a bandeira de Fernandópolis, altiva e iluminada, porque a maioria dos fernandopolenses passa diariamente por ali. Queremos valorizar a cidadania, o amor pela cidade, a auto-estima. Temos que recuperar o amor por Fernandópolis. Acho que perdemos um pouco desse amor nos últimos anos.
CIDADÃO: Um leitor do CIDADÃO sugeriu que na base desse marco seja instalada uma placa contendo o brasão do município e a letra do Hino a Fernandópolis. A pergunta é: um projeto arquitetônico é fechado ou pode ser alterado por sugestões supervenientes?
AGUSTINI: Não, não é uma coisa fechada. Aliás, esse conceito de resgatar valores cívicos não é algo que se esgote num simples projeto ou desenho. No dia-a-dia, isso será exercitado, e essa possibilidade existe. Só não sei se haverá espaço porque se trata de uma área restrita. Porém, essa proposta é permanente, não se restringirá à Praça Fernando Jacob. Os técnicos da prefeitura pensam na cidade do futuro. Fernandópolis tem 70 anos; precisamos pensar no centenário e no que pretendemos para Fernandópolis quando ela fizer 100 anos. Passou da hora de haver uma união para que consigamos encaminhar a cidade rumo ao futuro, onde haja qualidade de vida, com uma população culturalmente evoluída, financeiramente estabilizada e com oportunidades de trabalho, com escolas para todos, lazer e esportes. Se não iniciarmos agora uma luta conjunta, não atingiremos esses objetivos. Esse projeto é uma célula, que começará com uma intervenção urbana literalmente física, mas que tem um espírito que vai muito além de simplesmente ter uma praça mais bonita.
CIDADÃO: Quanto ao aspecto técnico: por que ocorrem tantos acidentes de trânsito em Fernandópolis?
AGUSTINI: Já faz algum tempo que vem sendo feitas modificações que muitas vezes causam protestos por criarem algumas dificuldades iniciais para os usuários, mas que são absolutamente necessárias sob o prisma técnico. Infelizmente, muitos acidentes têm acontecido. Já foram feitas intervenções decisivas, mas o trabalho está longe de acabar. Temos um grande projeto de intervenção na área de trânsito em Fernandópolis, que começou com a instalação de alguns semáforos, prosseguirá com a reformulação da Praça Fernando Jacob e com outras medidas. Mas não basta ter a solução técnica: precisamos de ação conjunta entre redutor de velocidade, semáforos e educação para o trânsito. Só com a sincronização desses fatores a situação vai melhorar.
CIDADÃO: Você acredita que esse projeto acabará com o estrangulamento do trânsito que acontece no final da Rua Brasil?
AGUSTINI: Totalmente, não. A solução ideal teria que vir um pouco mais atrás, na Rua Brasil. O projeto da praça resolverá cerca de 80% dos problemas, mas a solução total está embutida no projeto mais amplo, que envolve de maneira global o trânsito da cidade, incluindo a região central. Consertar é mais difícil que fazer, mas nos próximos meses vocês conhecerão esse macro-projeto que envolve o centro da cidade.
CIDADÃO: Você retorna ao serviço público depois de doze anos afastado, mais maduro, mais velho...(risos). Quais são os seus projetos prioritários, isso do ponto de vista pessoal? O que você gostaria de fazer em Fernandópolis, como arquiteto?
AGUSTINI: Quando o prefeito Luiz Vilar me convidou novamente para fazer parte da administração e assessorá-lo nessa área de planejamento e hoje, ser funcionário público para mim é uma coisa muito complicada, porque tenho os meus negócios fora da prefeitura, e tive que abrir mão de grande parte do tempo que antes eu dedicava à minha empresa particular, para assumir este cargo na administração aceitei por amor à cidade. Na realidade, é uma coisa que vem do coração: nasci em Fernandópolis, e quando fiz faculdade tive chances profissionais de viver e trabalhar longe de Fernandópolis. Porém, acabei retornando, porque gosto daqui. A minha intenção é voltar a dar minha contribuição agora com mais experiência do que na primeira administração do Luiz Vilar, e contribuir para que a cidade cresça. Fico furioso quando vejo alguém falar mal de Fernandópolis por qualquer motivo. Quero ver o povo de Fernandópolis tendo um diferencial de vida, uma qualidade de vida mais digna.
CIDADÃO: Quanto à questão da qualidade de vida, o diretor técnico da DRADS, Jesiel Macedo, costuma dizer que nós, fernandopolenses, deveríamos prestar mais atenção aos números que se referem a Fernandópolis, e que são altamente positivos. O Jesiel diz que não sabemos valorizar o que já possuímos.
AGUSTINI: Na verdade, só falta dar um empurrãozinho. Hoje, infelizmente, o fernandopolense joga um papel na rua sem o menor peso na consciência. O que é isso? É cultural? Sim, e talvez até devamos fazer uma campanha, mas não é só isso. Perdemos a nossa auto-estima, dizemos que qualquer lugar é melhor que aqui mas não é bem assim. Eu, que viajo muito, conheço muitas cidades da região, posso dizer que, se sopesarmos tudo o que temos de bom e compararmos com outras cidades, concluiremos que só falta mesmo um empurrãozinho. Só que esse empurrãozinho depende de uma série de medidas conjuntas, não é uma coisa isolada, afeta a esta ou aquela diretoria da administração. Há lacunas em todas as áreas, e é isso que queremos solucionar. Quando você tem uma visão global do que acontece em todas as diretorias e posso lhe garantir que estamos trabalhando muito você vê que há luz no fim do túnel. Abraçamos a causa, queremos que esta cidade mude sob todos os aspectos para melhor, claro. E pode aguardar: grandes ideias estão sendo colocadas no papel, e dentro de alguns meses elas se tornarão realidade. Espero que a gente conte com o apoio da população, que afinal é a grande beneficiada. Do ponto de vista pessoal, meu sonho é que Fernandópolis seja um lugar ainda melhor para se viver.