A imponente casa em estilo colonial espanhol que durante mais de cinco décadas imperou na esquina da Rua Bahia com a Avenida Amadeu Bizelli, na região central de Fernandópolis, foi demolida esta semana.
Na terça-feira, 24, apenas a torre redonda, onde funcionava o escritório, lembrava o que havia sido a fachada da casa. Nesse escritório, trabalhou e fez política por muitos anos o ex-prefeito Percy Waldir Semeghini, que governou a cidade entre 1963 e 1968.
Advogado, Percy mantinha o escritório na torrinha, anexa à residência. Por ali transitavam livremente dezenas de pessoas, diariamente. Era hábito de Dona Célia, mulher de Percy, servir um farto café, com bolo de fubá, pão caseiro, manteiga feita em casa e outras delícias aos clientes, visitantes e correligionários políticos.
Muitas vezes a residência foi palco de reuniões que decidiram candidaturas. Líder de uma das duas alas políticas então existentes no município, Percy abria a casa a todos os companheiros de seu grupo.
Na última quinta-feira, o deputado federal Julio Semeghini filho de Percy e criado na casa, onde brincava em seu grande quintal - lamentou a demolição: Evidentemente, respeito o direito à propriedade e a livre utilização do imóvel, que nem mesmo era tombado. Mas é doloroso, porque ali passei minha infância e tenho ótimas recordações, disse o deputado.
De Brasília, Júlio contou por telefone que costumava mostrar a casa aos filhos, quando passava por ela: Eu dizia às crianças: era ali que eu brincava. O parlamentar prosseguiu nas reminiscências: Uma vez, estava em Fernandópolis com o governador Mario Covas e ele me disse: Vamos ver a casa do seu pai. Ponderei que ela não era mais da família, mas ele insistiu. Fomos até lá e o Dr. Paulo Oda (dentista que comprou a casa de Percy, hoje morador de Capão Bonito), ao abrir a porta, viu o próprio governador de São Paulo!, diverte-se.
Julio narrou um detalhe que dá mostra da personalidade de Percy Semeghini. Nunca viajávamos com a família inteira. Um dia, quando isso aconteceu, descobrimos que ninguém mais tinha a chave da casa. As portas nunca eram trancadas, afirma. Mesmo assim, o chaveiro não foi chamado: Meu pai pediu a um amigo que dormisse lá. As portas ficavam apenas encostadas, à noite, diz.
O advogado Jorge Aidar, companheiro de Percy na política dos anos 60, considera que a casa era o quartel-general do PSP, partido em que militavam. Ele atribui a demolição à força da transformação, ao poder dinâmico da vida. Segundo Aidar, as lembranças ficarão apenas para quem viveu aquele período. Para as novas gerações, isso não representa nada. Mas naquela casa foram tomadas grandes decisões que influíram no próprio destino de Fernandópolis, assegura.
Nos últimos tempos, Paulo Oda havia alugado a casa para a Unimed. Depois que a empresa de saúde se mudou para o prédio próprio, o dentista vendeu o imóvel para um empresário, que construirá quatro salões comerciais no terreno.