A inimiga número 1 da dengue

20 de Agosto de 2025

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A inimiga número 1 da dengue
A bancária aposentada Ioshiko Nobukuni, depois de ver a morte de perto, em abril de 2007, quando foi acometida de dengue hemorrágica, decidiu que, pelo resto da vida, iria pegar o tal mosquito pelo colarinho. Recuperada da doença, ela se lançou às pesquisas e se transformou, em dois anos, numa perita no assunto. Não há estudo ou pesquisa em andamento dos quais ela não conheça os mais intrincados detalhes. Nascida em Guariba (SP), formada em administração de empresas, Ioshiko leva sua cruzada literalmente de casa em casa, distribuindo filipetas com recomendações e orientações no combate à dengue. Diariamente, ela dispara e-mails para conhecidos e a imprensa, sempre divulgando as novidades na luta contra o aedes aegypti. Quando picaram a Ioshiko, os mosquitos não sabiam com quem estavam se metendo...

CIDADÃO: Para quem não conhece a sua história de vida pós-dengue, recapitule os acontecimentos de 2007. Como começou a sua luta contra o aedes aegypti?
IOSHIKO: Há alguns anos, começaram as campanhas de combate à dengue. Faziam arrastões, campanhas de orientação sobre os cuidados a serem tomados e tal. Isso foi por volta de 1996, ano em que me mudei para Fernandópolis. E olha, naquela época já tinha muito mosquito da dengue na cidade! Acho que esse mosquito não tinha o vírus. Só que, anos depois, começaram a aparecer os casos. Quando um caso era detectado num quarteirão, a Sucen fazia pulverizações em torno do local. Em certa noite de 2007, comecei a sentir febre. Levantei e tomei limonada gelada. Sentia também dores pelo corpo, mas na hora não liguei os sintomas à questão da dengue. Apareceram também umas manchinhas na barriga. Daí a uns dias, tive forte mal-estar, com vômitos e diarréia, além de dor no fundo dos olhos. Tenho uma cunhada que mora em Ilha Solteira e que já teve a dengue clássica. Por telefone, ela me disse: “Você deve estar com dengue, vá ao hospital tomar soro”. Fiquei dois dias no hospital, e voltei para casa ainda me sentindo muito mal. No sexto dia, amanheci roxa. Não tinha condições sequer de dirigir. Uma enfermeira me levou ao “Postão”. A chefe das enfermeiras me olhou e determinou que fosse colhido sangue a mais para fazer um hemograma. Foi a sorte, porque ela pôs “urgente” no pedido de exame. Às quatro horas da tarde, enquanto minha sobrinha foi buscar o resultado do exame, eu já estava sangrando – era dengue hemorrágica. As plaquetas estavam em 72 mil, quando o mínimo é 150 mil. Fui para o hospital de táxi, com o exame na mão. O Dr. Faleiros nem me deixou sentar no consultório, já me mandou para o quarto. Todo esse pronto atendimento foi que me salvou a vida.

CIDADÃO: Quantos dias durou a segunda internação?
IOSHIKO: Quatro dias. Mas fui para casa ainda me sentindo muito mal. Apenas estava fora de perigo. O fígado estava em pandarecos, vômito, diarréia...
CIDADÃO: Quanto tempo levou para que você pudesse dizer: “Agora estou me sentindo bem”?
IOSHIKO: Acho que até hoje não sarei totalmente (risos). Bem, para que passassem aquelas sensações ruins, acho que levou três meses ou mais.
CIDADÃO: A partir daí, você levantou a bandeira do combate à dengue. Criou o exército de uma mulher só. E virou pesquisadora, não é?
IOSHIKO: Todos os dias passo horas na Internet pesquisando formas de combate à doença. Quando encontro algo interessante, mando e-mails para todo mundo!

CIDADÃO: Nessas pesquisas, qual é a forma de combate à dengue – entre armadilhas, plantas, etc – que você descobriu que considera mais eficaz?
IOSHIKO: Há no mercado um produto novo, criado por um médico de Minas Gerais, que parece ser muito bom. É um aparelho parecido com aqueles que atraem mosquitos nas churrascarias e os mata com um choque. O inventor colocou CO2 no aparelho, para simular a respiração humana e atrair o mosquito. Assisti ao vídeo demonstrativo, e aparece o pernilongo grudado na grade. Ontem, comecei a testar em casa um outro aparelho. É uma luz violeta que fica girando e atrai o bicho. Depois ele cai numa tela. Ainda não o desliguei, mas vi pela tela que havia um monte de mariposas e até uma joaninha. Parece que também tem mosquitos da dengue!
CIDADÃO: Os números oficiais de casos de dengue divulgados pelo serviço público refletem mesmo a realidade?
IOSHIKO: Não. Quando tive dengue, fizeram questão de não computar o meu caso. Apesar de ter tido dengue hemorrágica, não entrei para as estatísticas. Foi assim: depois de colher sangue, recebi a informação de que me telefonariam quando o resultado chegasse do Instituto Adolfo Lutz. Estava demorando muito, fui à Central de Saúde várias vezes. Diziam que demorava porque havia uma epidemia, e coisa e tal. Depois, disseram que haviam acabado os kits de exame, e não sei o quê. No fim, levou quase dois anos para o resultado chegar às minhas mãos! Depois, eu soube que o resultado do exame tinha chegado a Fernandópolis em dezembro de 2007. O sangue tinha sido colhido em abril. Oito meses depois, chegou, mas não me entregaram. Só o recebi neste ano de 2009.

CIDADÃO: Corre na cidade um boato dando conta de que haveria um surto de dengue no prédio do Fórum de Fernandópolis. Você sabe alguma coisa?
IOSHIKO: Sim. Minha empregada é vizinha de uma mulher que faz faxina no Fórum. Essa mulher está doente, e pela descrição, parece que é dengue. Essa mulher disse que ficou sabendo que haveriam mais cinco pessoas infestadas pela dengue no Fórum. Ela garante que pegou a dengue lá, porque há uma obra inacabada e os funcionários afirmam que há focos lá.
CIDADÃO: A Vigilância Epidemiológica tomou alguma providência?
IOSHIKO: Pelo que ouvi falar, eles estariam esperando os resultados dos exames realizados para tomar uma atitude. Creio que o certo seria fazer uma busca para localizar eventuais focos, independentemente dos resultados dos exames de sangue.
CIDADÃO: Por que o aedes aegypti é tão resistente?
IOSHIKO: O aedes é um bichinho doméstico. Ele não é como seu “primo” selvagem, que não vem morar na cara da gente. O aedes é muito mais doméstico do que o pernilongo comum. Adaptou-se às casas.

CIDADÃO: Antigamente, parece que os venenos de aspersão matavam todos esses bichos. O que aconteceu, que o veneno agora não funciona mais?
IOSHIKO: Todas as pesquisas científicas apontam que o aedes aegypti se tornou resistente a inseticidas. Dizem que a gente nem deve passar inseticida na casa, porque mata todos os bichinhos que comem o mosquito da dengue. Ele fica sem predador.
CIDADÃO: A lagartixa é um desses predadores?
IOSHIKO: Sim. Aliás, na minha casa, como não uso veneno, tem muita lagartixa, de todos os tamanhos.

CIDADÃO: E a planta chamada citronela, cujo plantio você sugere às pessoas? Qual é o seu efeito em relação ao mosquito?
IOSHIKO: Para combater a dengue, temos que estar armados até os dentes. A citronela exala um cheiro que, aparentemente, repele o mosquito. Se você amassar um punhado de folhas de citronela e jogá-lo nos cantos dos cômodos da casa parece ajudar muito. Creio que a planta libera alguma toxina que os bichinhos não toleram. E para o ser humano, o cheiro é muito gostoso e inofensivo. Não se deve plantar a citronela em vasos, e sim em canteiros. No vaso, em oito meses ela enraíza demais. Já existe até spray de citronela, que muita gente passa no carro, porque o mosquito também gosta de ficar no interior de veículos. Ela funciona como repelente e como inseticida. E mata a pupa, também.(N.R.: “pupa” é o estágio de desenvolvimento do inseto entre a fase larval e a adulta). Fiz o teste e funciona.

CIDADÃO: Você continua com suas campanhas de porta em porta?
IOSHIKO: Claro! Só dei um tempo momentâneo, por causa da divulgação que estava fazendo do Ora pro nobis. Conversei com o Diretor do Meio Ambiente, Ângelo Roberto Veiga, que me aconselhou a procurar a diretora de engenharia de alimentos Márcia Luzia Rizato, e levei o bolo de Ora pro nobis. Todo mundo gostou, e a professora Márcia me falou que quer produzir a farinha verde de Ora pro nobis para levar à Pastoral da Saúde. Pode até ser que seja misturado ao pão da AVCC. E continuo produzindo minhas mudas de plantas anti-dengue e testando as novas invenções. Eu não paro!