Luiz Olavo: “Deus é mais importante que o dinheiro”

20 de Agosto de 2025

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Luiz Olavo: “Deus é mais importante que o dinheiro”
O empresário Luiz Olavo Sabino dos Santos, um fernandopolense que enriqueceu no ramo frigorífico, fez palestra na cidade no último sábado e falou a CIDADÃO sobre sua história de vida. Em depoimento surpreendente, Olavo conta como Deus tomou lugar em sua vida. Segundo ele, sua família – composta pela esposa Janete e um casal de filhos – tem hoje paz no coração. “Acabou o vazio no meu peito”, diz Olavo, hoje um pregador da palavra divina e praticante da filantropia.

CIDADÃO: Pelo visto, sua vida sofreu uma grande transformação. O que aconteceu?
LUIZ OLAVO: Para que possa ser entendido, preciso falar da minha vida desde o princípio. Nasci em Fernandópolis, esta bela cidade, e tenho muito orgulho disso. O que houve na minha vida foi o seguinte: eu estudei até a 8ª série. Não tinha condições de cursar uma universidade. Para falar a verdade, eu não gostava muito de estudar. Por volta de 1978, eu tinha o sonho de prosperar, mas não sabia como. Um dia, conversando com o Dr. Fernando Jacob Filho, ele me sugeriu que tirasse o brevê de piloto de avião. Gostei da ideia e resolvi fazer o curso. Não tinha dinheiro para pagá-lo, mas o Orlando Garcia, o “Dim”, havia comprado as 40 horas do curso e não o fez. Ele cedeu o curso para mim, e eu me brevetei. Fui para Cuiabá e fiquei na casa do Armelindinho Ferrari e sua esposa, Margarete Rodante Ferrari, porque não tinha condições de ficar em hotel. Depois de alguns dias, surgiu uma oportunidade profissional em Cáceres. Fui para lá e comecei a voar. Nos aeroportos, conheci muitos pecuaristas, e com o tempo, passei a intermediar compra e venda de gado boliviano que era trazido para o Brasil. Em 1985, foi inaugurado um frigorífico em Cáceres. Era o Quatro Rios, de um pessoal de Votuporanga. Fui convidado a trabalhar com eles. Aceitei, era comprador de boi. Isso durou até 1987, quando foi inaugurado o frigorífico de São José dos Quatro Marcos, e recebi uma oferta de trabalho. Aceitei e, depois de seis meses, eu já era diretor. Todo o sonho que eu tinha começou a se realizar. Comecei a ganhar dinheiro e a me tornar uma pessoa conhecida no Mato Grosso, inclusive pela classe política. Pude realizar meus sonhos de consumo: automóvel Mercedes Benz, motocicleta.

CIDADÃO: Mas o que havia de errado, que o incomodava?
LUIZ OLAVO: Ainda havia um vazio muito grande na minha vida. Eu morava numa região de fronteira com a Bolívia, e com o passar do tempo fui tentando buscar prazeres em outros lugares. Freqüentava lugares pouco recomendáveis, e por causa dos riscos, montei um esquema de segurança pessoal. Andava com 12 homens armados para minha proteção. Tínhamos nessa época mais de 100 carretas e mais de 100 caminhões boiadeiros, crescíamos muito, ganhávamos dinheiro. Minha esposa não concordava com meu estilo de vida. Eu replicava, dizendo que muitas mulheres gostariam de estar no lugar dela, com uma bela casa, motorista, avião à disposição. “Não é isso que quero para minha vida”, ela dizia. Enfim, eu ganhava muito dinheiro, mas a alegria desapareceu da nossa casa. No ano 2000, resolvi “dar um tempo” naquilo, já não agüentava mais risco de vida, conviver com seguranças 24h por dia. Meu sócio gostava de comprar terras, e eu não. Decidi voltar para Fernandópolis. Naquele ano, eu tinha 50 mil cabeças de boi. Decidi parar de trabalhar. Livrei-me da necessidade de andar com seguranças, gostava de estar aqui, mas continuava um vazio no coração. A idéia de me separar da Janete voltou à tona. Nessa época, teve início a construção de um novo frigorífico, este em Vila Rica (região nordeste do Mato Grosso) na divisa com o Pará. Terminei a sociedade em São José dos Quatro Marcos e no final daquele ano fui parar em Vila Rica. Só que por problemas de transporte, o frigorífico, cujas instalações eram novas em folha, parou as atividades depois de dois meses. Quando retornei a Fernandópolis, minha mulher me disse que naquela noite haveria um jantar da ADHONEP (Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno) no Água Viva. Lá, o Julio Pansani e outros me falaram de uma pessoa que poderia me tirar esse vazio do peito. Decidi: “Quero conhecer essa pessoa. Quem é ela?” “É Jesus”, eles responderam. Aí, fiz um propósito: eu voltaria a Vila Rica e reabriria o frigorífico. Se Jesus me abençoasse, fazendo os negócios serem bem sucedidos, eu doaria 100% da renda para obras benemerentes. Voltei para Vila Rica, pusemos o negócio de pé. Em um mês, era a unidade mais rentável do grupo, que tinha seis unidades. A primeira obra assistencial a que me dediquei, então, cumprindo o prometido, foi no Hospital do Câncer de Barretos, que atende duas mil pessoas por dia. Construí um alojamento com refeitório e dormitório para os pacientes. Um dia, estava aqui em Fernandópolis, passeando no Shopping, quando encontrei a Dra. Marylande e as senhoras Maridéia Carnelossi e Geni Migliorini. Elas estavam vendendo panos de prato para juntar dinheiro, porque queriam iniciar uma Casa de Apoio aos doentes de câncer. Falei que as ajudaria, e perguntei como. Elas disseram que bastaria comprar os panos de prato, por R$ 500 ou R$ 600, que já seria uma grande ajuda. Eu repliquei: “Não, vamos ver onde será construída essa Casa de Apoio que eu dou R$ 100 mil. Isso foi em 2001. A família Arakaki doou o terreno – onde está hoje a AVCC – e teve início tudo isso que aí está. Participei de outras obras, no Mato Grosso, fiz doações a igrejas. O Espírito Santo me fazia entrar numa igreja assim sem mais nem menos, bastava estar passando em frente. Numa delas, havia um Homem de Deus ali orando. Abordei-o e falei da minha intenção de bancar as reformas da igreja, que precisava de consertos. Ele me disse, chorando: “Isso é resposta de Deus às minhas orações!”

CIDADÃO: E você continuava ganhando muito dinheiro. Qual foi o outro problema que surgiu nessa ocasião?
LUIZ OLAVO: Naquela época, os frigoríficos eram um negócio muito rentável. Assim, muita gente não conseguia entender como é que eu ganhava tanto dinheiro. Eu sempre trabalhei muito, desde as 5h da manhã. Nessa época (2000) surgiu um comentário de que eu mexia com drogas. Isso me levou ao fundo do poço, porque você não tem como provar para as pessoas que aquilo era mentira, parece que em todo lugar as pessoas olhavam torto. Eu jamais entraria numa coisa dessas, que só pode levar a dois lugares: cadeia ou cemitério. Você não vê nenhum bandido prosperar com isso, porque Deus não honra. Entrei em depressão, esse foi um dos motivos que me fizeram sair do Mato Grosso. Em Vila Rica, na minha segunda investida mato-grossense, fiquei até 2004. Um dia, uma pessoa me disse: “Faça uma visita à missionária Lúcia, em Goiânia, que ela fará uma oração com você”. Eu andava muito triste, com aqueles problemas conjugais – felizmente, Deus nunca deixou que nós nos separássemos. Saí de Vila Rica e fui de avião a Goiânia. Peguei um táxi e fui à casa dessa missionária. Era uma casa muito humilde, e ela fez a oração. Nesse mesmo dia, Deus falou comigo pela primeira vez. Disse que iria me levar a muitos lugares para falar do amor. Fiquei perplexo. Ele disse também que eu iria ter uma grande fazenda para cuidar. Não entendi bem: ele queria que eu, um sujeito só com 8ª Série, levasse a Sua palavra às pessoas, e ainda dizia que eu iria administrar uma fazenda, coisa de que nunca gostei? Bem, poucos dias depois, tomei conhecimento de que uma grande empresa agropecuária estava à venda em Alta Floresta. Uma área de 103 mil hectares. Fui com um amigo conhecer o local, muito bonito por sinal, pertencente a um grupo francês. Pedimos dois anos de prazo e eles nos deram. Resultado: naquele mesmo ano, com o boom da soja, a terra valorizou, conseguimos lotear metade da fazenda, vendemos pelo preço do total e a outra metade ficou de graça! Essa fazenda tem hoje 50 mil hectares. Comecei a buscar cada vez mais a palavra do Senhor. É como ele disse: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Entendi que “dizimar” é entregar a Deus uma parte do que você conquistou pela vontade Dele. Isso me tornou muito melhor, e aquilo que eu buscava na vida mundana, na prostituição, passou a me fazer mal, tomei nojo dessas coisas. Deus foi me libertando. Deus restaurou meu casamento, temos uma família maravilhosa. Tenho uma filha estudando Arquitetura em Rio Preto, um filho que trabalha em Alta Floresta. Em 2004, recebi outra mensagem de Deus, para que em dezembro daquele ano deixasse o frigorífico. Perguntei-me como iria fazer aquilo, se era uma unidade que rendia R$ 1 milhão mensal e abatia 15 ou 16 mil bois. Chamei meus sócios e disse que iria sair da sociedade. Em dezembro de 2004, estourou uma operação da Receita Federal com a Polícia Federal nos frigoríficos, sobre sonegação de INSS. A primeira empresa que abordaram foi na cidade de Rio Verde (GO). Lá, prenderam os dois donos do frigorífico e o advogado da empresa, porque na casa dele encontraram um revólver calibre 38. Estiveram também em São José dos Quatro Marcos, e na minha casa havia armamento pesado – eu até já havia esquecido, mas na minha casa de Quatro Marcos, que eu mantinha até então, havia aquelas armas dos meus seguranças da época. Liguei para meu advogado, e ele disse para eu sair da cidade por uns dias, porque poderiam decretar minha prisão. Peguei o avião e fui para a fazenda. No terceiro dia, não agüentei mais e voltei para Vila Rica. Não conseguia dormir, deixava o piloto de prontidão, porque não queria ser preso. No quinto dia, lembrei da missionária Lucia e liguei para ela. A partir disso, recebi esta mensagem divina: “Eu sou seu Deus. Tudo acontece sob minha autorização, e toda autoridade é constituída por mim. Dentro de oito dias, te darei o livramento para que saibas que eu sou o seu Deus”. Desliguei o telefone e comecei a chorar. No oitavo dia, tocou o telefone. Era o Dr. Renato Salum, delegado da Polícia Federal. Ele falou que havia estado em minha casa de Quatro Marcos e aprendido as tais armas. Em seguida, me disse. “Vou sair de férias no dia 20 (isso foi no dia 15). Até o dia 20, venha aqui (Cuiabá) e entregue as armas espontaneamente à campanha do desarmamento”. Isso foi na época dessa campanha no Brasil. No outro dia, eu me preparava para voar pra lá, falei com meu sócio que tentou mudar minha opinião: “Você vai ser preso”. Mas Deus me havia dado garantias, eu fui para Cuiabá e cheguei ao prédio da Polícia Federal. No terceiro andar, o delegado estava me aguardando. Ele me mandou ao quinto andar, com as armas, que estavam na sala dele, e fiz a entrega e ainda recebi R$ 100 por arma! Doei o dinheiro ao Hospital do Câncer de Cuiabá. Esse foi o Livramento que Deus concedeu na minha vida. A partir dali, já fui até à Europa pregar a palavra de Deus e o amor de Jesus. É isso que Deus faz: muda as pessoas, ajuda. Hoje, eu, Janete e nossos filhos somos profundamente felizes. Só Jesus pode preencher este espaço vazio que muitas vezes o homem sente no coração.