A exoneração da diretora da FEF Teen, Aida Romano Rolim Scatena, comunicada na última terça-feira, causou uma das primeiras crises políticas da administração Luiz Vilar. Aida é mulher do advogado Luiz Guerreiro Scatena, um dos coordenadores da campanha eleitoral de Vilar no ano passado.
A repercussão negativa da exoneração levou pais e alunos a exigirem explicações da escola. Na quinta-feira, José Ataídes Nunes, diretor de planejamento, e a secretária geral da FEF, Rosemeire Batista de Oliveira, estiveram em todas as salas de aula da FEF Teen para explicar aos pais a decisão da direção.
Um dos argumentos levantados: teria havido evasão de alunos entre 2008 e 2009. A instituição tem que funcionar como uma empresa, disse Ataíde. Segundo ele, seria da competência da diretora evitar a evasão. Ataíde afirmou que muitas mudanças ainda aconteceriam na FEF Teen. Entretanto, não soube dizer quais seriam.
Muitos pais de alunos saíram da escola sem se convencerem dos argumentos apresentados. A Aida é muito competente, creio que há algo por trás disso, falou um pai de aluno, que pediu para que seu nome não fosse publicado, uma vez que, na última campanha, trabalhou pela eleição do atual prefeito.
No mesmo dia, vários assessores de Vilar tentaram justificar a medida a Luiz Guerreiro Scatena, que considerou o gesto uma decisão política. Até Valéria Vilar, filha do prefeito, esteve ontem na casa de Aida.
A diretora já previa, meses atrás, que poderia ser alvo de retaliação política. No dia 4 de setembro época da campanha eleitoral - Aida protocolou uma carta destinada a Luiz Vilar, então presidente da FEF. Abaixo, o inteiro teor do documento.
Fernandópolis, 04 de setembro de 2008.
Senhor Presidente,
Quando fui convidada, por Vossa Senhoria, para implantar o ensino médio na instituição (Fundação), acreditei na sua capacidade administrativa, o que não me enganei. Obtive alguma liberdade para decidir. Coloquei em prática todo o conhecimento adquirido nos anos escolares. Recomendei contratações e sugeri demissões (nem sempre atendidas). Sugeri locação de prédio para a expansão da escola. Solicitei reformas. Acompanhei e recomendei bons serviços, até mesmo de construtoras (sem sucesso muitas vezes, infelizmente). Mas, tentei. Negociei mensalidades (com autorização) procurando sempre solução para as partes. Realizamos festas. Enfim, fui além das obrigações que meu cargo exigia. Tudo perfeito. Serviço cansativo, mas gratificante, até porque sempre gostei de desafios. Só tenho a agradecer pela confiança.
Percebi, com o passar do tempo que, alguns empregados inaptos foram transferidos do Campus I para o Campus II, para eu ficar com o ônus da dispensa ou aturá-los por serem protegidos de alguém. Vossa Senhoria talvez nunca tenha percebido essa manobra covarde. Inclusive, neste exato momento está ocorrendo, mais uma vez, o acima alegado. É uma vergonha.
Com a consciência tranqüila, tenho certeza de que correspondi à expectativa da maioria das pessoas ligadas a essa Instituição, direta e indiretamente (pais, mães, servidores, etc.).
Infelizmente, nem tudo saiu como o esperado. Com esforço descomunal, jamais fui omissa ou acomodada. Recebendo, porém, como recompensa um enorme desgaste físico, talvez irrecuperável. Mas, sou assim e não me arrependo de nada.
Ocorre, Sr. Presidente, que nunca me submeti aos desejos e caprichos de algumas pessoas dessa instituição. Pessoas estas, leigas, despreparadas, parciais, inoportunas, poderosas, fuxiqueiras e acostumadas a mandar. Vossa senhoria sabe a quem me refiro.
A FEFteen, sob nossa direção, é reconhecida como a melhor escola desta cidade, mesmo com as deficiências pessoais e estruturais que possui. Ocorre que, os poderosos do Campus I, não aceitam que seus afilhados sejam advertidos por falhas funcionais e irresponsabilidades cometidas. Então, por não conseguirem me manipular e eu não aceitar a interferência deles, adquiri uma certa antipatia e rejeição.
Os métodos e sistema de ensino, bem como o trabalho administrativo, são, com certeza, o que há de melhor na escola, sempre visando o bem estar do aluno. Jamais foi levada em consideração a paixão irracional de alguns pais ou vovozinhos.
Acontece, Sr. Presidente, que tudo tem um limite. O tempo desgasta as pessoas. A convivência desgasta as relações funcionais, principalmente quando o interesse e desejos de incompetentes, desinteressados, incoerentes e apaixonados são contrariados.
A instituição (Fundação), não por sua culpa, possui alguns vícios, herdados do passado, que dificilmente serão sanados. Servidores de capacidade duvidosa e remuneração elevada armam e articulam contra pessoas de boa-fé. Infelizmente, isso sempre foi assim, e sempre será, pelo que se observa. Em muitas circunstâncias, Sr. Presidente, pessoas desagregadoras e mal intencionadas foram ouvidas e acreditadas, e a mim, nem foi dado o direito de defesa, prevalecendo os maus costumes, típico dos inoperantes que querem justificar seus salários.
Algumas dessas assertivas acima não servem para Vossa Senhoria, pois muitas vezes também não tem conhecimento dos atos de algumas pessoas que o rodeiam. Há servidores que agem sorrateiramente e, enquanto o adulam, ardilosamente, obtêm e mantêm as benesses almejadas, objetivando a perpetuidade no poder.
As escolas, hoje, principalmente as particulares com pouca tradição, são vítimas de um sistema financeiro injusto, em que alguns pais despreparados (poucos felizmente), porque pagam, sentem-se no direito de questionar profissionais conceituados e/ou métodos de ensino eficientes. E esta minoria de pais conhece os filhos problemas que possuem. Entretanto, na hora de recepcionar as sanções impostas contras os comportamentos inadequados de seus filhos/netos, ficam do lado destes, criticando a conduta do Conselho de Classe. A não aceitação dos erros destes filhos impede a formação de bons profissionais e homens de caráter.
A direção e coordenação desta unidade sempre atenderam, com prontidão, as ordens oriundas de Vossa Senhoria. Porém, com este acontecimento e com o parecer do Conselho de Professores, fica inviável a ordem de reintegração do aluno na escola. O Conselho de Professores é soberano e, conforme o regulamento escolar, deve ser respeitado. É o que proponho para o momento. Essa direção nada fará para que o Conselho recue na decisão de expulsar o aluno, pivô desse transtorno, até porque a decisão foi tomada com serenidade e isenta de perseguição. A decisão tomada visa PROTEGER OS DEMAIS ALUNOS DA ESCOLA, principalmente os da sala de aula do adolescente expulso.
Não podemos, Sr. Presidente, de forma alguma, aturar rebeldias de alunos, até porque, se assim procedermos, estaremos prejudicando os demais e, conseqüentemente, maculando o bom nome da escola, bem como será uma demonstração de desrespeito com os pais e alunos comprometidos com a qualidade.
Sabemos que, determinados procedimentos, muitas vezes, causam desconforto, mais são necessários para se ter uma escola de qualidade. Qualidade esta, tão exigida por Vossa Senhoria.
Caro Presidente, não somos de fugir às nossas responsabilidades, principalmente em horas difíceis, mas, não podemos ceder aos caprichos de algumas pessoas, em detrimento dos anseios da grande maioria séria.
Com o passar do tempo, aprendi que tudo tem a sua hora. Hora de começar. Hora de mudar. Hora de refletir. Hora de recomeçar. E, também, como não poderia deixar de ser, hora de parar.
Sei que minha permanência nessa Instituição não será prolongada por muito tempo, até porque não possuo o perfil que se encaixe neste conluio existente de longa data. Entretanto, não perderei minha dignidade.
Portanto, senhor Presidente, considerando todo o anteriormente exposto, tem o presente à finalidade de deixá-lo à vontade, para tomar a decisão que melhor lhe convier.
Sendo o que tinha para o momento, agradeço por tudo.
Atenciosamente.
AIDA ROMANO ROLIM SCATENA
ILMO. SR. DR.
LUIZ VILAR DE SIQUEIRA
M.D. PRESIDENTE DA F.E.F.