Sandro Rogério Serafim, médico urologista, é um filho dileto de Fernandópolis que desde o curso primário se destacou por ser excelente aluno e pela simpatia inata. Graduado pela Famerp, membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, fez residência médica no Hospital de Base de São José do Rio Preto nas áreas de cirurgia geral e urologia. Depois de 13 anos longe da terrinha por causa dos estudos, ele retornou há alguns anos para trabalhar na sua cidade de origem. Casado e perto de se tornar pai, Sandro está feliz da vida. Nesta entrevista a CIDADÃO, porém, o assunto é sério: Sandro fala dos problemas que podem decorrer de uma infecção urinária uma doença aparentemente banal, mas que pode, se não receber os devidos cuidados, levar à morte, como aconteceu com a bela modelo brasileira Mariana Bridi.
CIDADÃO: O Brasil se assustou recentemente com a morte da modelo Mariana Bridi, de apenas 20 anos, que, depois de contrair uma infecção urinária, evoluiu para um quadro de septicemia. Por que essa infecção foi tão violenta?
SANDRO: Primeiramente, é importante ressaltar que infecção é um estado patológico onde ocorre a contaminação de um órgão/sistema do corpo humano por uma bactéria, que é um microorganismo maléfico. Para uma infecção ocorrer é necessário um desequilíbrio entre a defesa e os agentes de agressão (no caso, a bactéria) do organismo. A infecção urinária é a resposta inflamatória do urotélio (pele interna do sistema urinário) à invasão bacteriana. Pode ser complicada ou não, dependendo do grau de agressividade, da evolução e de fatores que podem colaborar para a piora da infecção. A septicemia é a evolução generalizada da infecção que, então, se dissemina a partir de um foco principal, para todo o organismo, levando a estado grave de morbidade, evoluindo muitas vezes com danos irreversíveis e muitas vezes à morte. No caso da modelo Mariana, fica difícil, sem conhecer os detalhes, saber o real motivo desta evolução que foi tão catastrófica. Fatores como a bactéria ter resistência aos antibióticos utilizados, debilidade física e/ou emocional, associação com doenças que piorem a infecção como: cálculos urinários (pedras), diabetes, baixa imunidade, podem contribuir, porém não sabemos se esta paciente tinha algum fator associado. Quando uma sepse tem seu foco numa infecção urinária, tende a ser mais catastrófica, pois atinge os rins, que são os órgãos vitais para se conseguir extirpar qualquer bactéria do organismo.
CIDADÃO: Antes de falecer, a Mariana Bridi teve mãos e pés amputados. O que provocou a necrose dos membros da modelo?
SANDRO: Quando se tem a sepse instalada no organismo, o corpo está num estado onde a necessidade de nutrientes para sobrevivência é grande. O corpo então tenta priorizar os órgãos vitais (cérebro, rins, coração, pulmões, etc...). Nessa luta associa-se uma enorme quantidade de toxinas, sendo assim ocorre vasoconstricção periférica (fechamento das vias sanguíneas) e, com isso, diminui a oferta de sangue às extremidades (pés e mãos) vindo estas a morrer e necrosar, tornando-se fontes de piora da infecção, motivo pelo qual é realizada a amputação desses membros.
CIDADÃO: A bactéria Pseudomonas aeruginosa é rara ou não?
SANDRO: Sim, não é comum essa bactéria na causa de infecções, é mais comumente encontrada em ambientes intra-hospitalares de grande fluxo de pacientes graves. A bactéria mais comum que causa a infecção urinária é a Escherichia coli, onde mais de 85% das vezes está presente.
CIDADÃO: Mulheres são mais suscetíveis à infecção urinária?
SANDRO: Após a idade de 1 ano, as mulheres são mais predispostas sim. Fatores como a uretra (canal da urina) ser mais curta e, próxima às fezes; as gestações, menopausa, facilitam esta morbidade nas mulheres.
CIDADÃO: Quais os cuidados que se deve tomar?
SANDRO: O principal cuidado que se deve ter é tomar muito líquido, especialmente água. Além disso, podemos citar também que é fundamental manter uma boa higiene genital, não reter a urina, e se a paciente tiver alterações ginecológicas, tratá-las logo, com acompanhamento adequado da menopausa; evitar o uso de roupas muito apertadas e quentes. Mas sem tomar água, vai ser difícil. Vale ressaltar que há pessoas com maior propensão a ter infecção, e nessas os cuidados devem ser redobrados.
CIDADÃO: Quais são os sintomas para diagnosticar uma infecção urinária?
SANDRO: Ardência para urinar; aumento de número de vezes que urina, geralmente com pouco xixi; acordar várias vezes para urinar; urgência para ir ao banheiro; dor na parte de baixo do abdômen; dores lombares (quando os rins estiverem acometidos); febre. Essas são as principais queixas. Sempre que ocorrer estado febril, queda do estado geral (sensação de cansaço extremo) dores intensas, deverá se ter um cuidado intenso.
CIDADÃO: Qual é a associação que se pode fazer entre cólica renal e infecção urinária?
SANDRO: Sempre que se tem um motivo para a urina ficar parada, vai-se ter uma maior chance de desenvolver infecção. E, com a estagnação, a multiplicação da bactéria ocorre muito mais rápido, tornando-se mais agressiva e com maior chance de se transformar em sepse. É bom frisar que existem cálculos que têm como motivo de sua formação a presença de bactérias em seu interior, o que facilita o desenvolvimento de infecções.