Vereador mais votado nas últimas eleições, com 1960 votos, André Giovanni Pessuto Cândido, 32 anos, casado com Mara Elisa e pai da garota Amanda, não escondia que estava ansioso no início da tarde de ontem algumas horas antes de debutar no Legislativo, na sessão extraordinária convocada pela presidência. Coisa normal para um jovem lúcido e de sensibilidade como ele, músico, bacharel em administração de empresas, MBA em gestão pública, ex-diretor de Cultura do município. Fernandopolense da gema, André já não pensa em sair da cidade, como aconteceu tempos atrás. As portas se reabriram para ele, que agora quer retribuir a confiança do eleitorado e marcar época na Câmara.
CIDADÃO: O técnico Wanderley Luxemburgo costuma dizer que, apesar de toda sua experiência, uma estreia sempre causa um friozinho na barriga. Daqui a seis horas (a entrevista foi feita ao meio-dia de ontem) você vai estrear como vereador de Fernandópolis. Dá o tal friozinho?
ANDRÉ: Por sinal, o Luxemburgo é meu técnico favorito. Creio que o frio não é só na barriga, mas também na espinha, nos cabelos, no corpo todo. Isso, pela responsabilidade de representar o povo fernandopolense e de cara com a votação de dois projetos importantíssimos, a questão salarial do funcionalismo público e da Câmara, o que, aliás, ensejou a realização dessa sessão extraordinária. Até como músico, posso lhe afirmar que toda estreia causa um pouco de calafrio. Porém, como sou uma pessoa emotiva, tenho a impressão de que sempre que chegar à Câmara sentirei essa emoção porque é minha missão chegar ao Legislativo para representar com dignidade a minha população. Claro que não se deve deixar a emoção sobrepujar a razão, mas é preciso tirar proveito dela.
CIDADÃO: E você chega à Câmara com 1960 votos o mais votado, portanto. Isso e o nível de expectativa que se criou em torno de sua atuação parlamentar aumenta sua responsabilidade?
ANDRÉ: Com certeza. Não só pela votação, mas porque após a eleição participei de programas de rádio na Difusora, na Águas Quentes e na Mais FM, e senti esse retorno da população. Recebi um grande número de cartas, de pessoas que falavam da minha pessoa e também da minha família, do berço que tenho. Assim, tenho uma responsabilidade não só com a população, mas ainda de dignificar e honrar o nome de uma família tradicional de Fernandópolis. Repito: vou para o Legislativo não só para honrar os 1960 votos, mas a memória de Bernardo Pessuto, meu avô, um homem que só plantou o bem.
CIDADÃO: Cobrindo as sessões da Câmara posteriores a 5 de outubro último, vimos que você e outros vereadores novatos tiveram a humildade de comparecer ao Legislativo para aprender, como vocês diziam. Deu para aprender o mecanismo legislativo?
ANDRÉ: Deu, claro que nem tudo foi possível assimilar. Mas deu pra entender o mecanismo. A gente ainda não entendeu bens coisas como inversão de pauta etc., mas felizmente a Câmara de Fernandópolis tem o privilégio de possuir uma assessoria fantástica. Não vou citar nomes para não esquecer alguém, mas da pessoa que faz o cafezinho até o assessor técnico mais experiente o nível é excelente. Essas pessoas com certeza nos darão o respaldo para conduzir os trabalhos legislativos da melhor maneira possível.
CIDADÃO: Na condição de músico e de pessoa ligada à cultura e às artes em geral você foi inclusive diretor de cultura do município você pretende dar ênfase a que projetos nessa área?
ANDRÉ: Acho que o principal passo é criar o Fundo Municipal de Cultura. Já estive conversando com a diretora Iraci Pinotti, e veremos qual será o melhor mecanismo para colocar esse projeto se através do Legislativo ou do Executivo para que a cultura possa efetivamente ter verba específica para atividades culturais. Sabemos que grande parte do orçamento da pasta vai para a Exposição não que eu seja contra a Expô como atividade cultural só que tem que ver o outro lado. Então, a criação desse fundo permitirá ao diretor de cultura trabalhar com mais tranqüilidade. Esse projeto, eu o considero fundamental para o fomento dos projetos culturais. Outros projetos que temos em mente: uma sede para a Orquestra de Sopros, essa jóia fernandopolense que é reconhecida internacionalmente você sabia que ela tem convênio musical com a Austrália?; o Coral de Violas que gostaria de ver transformado em entidade de utilidade pública, porque tenho certeza de que ele ainda ganhará renome nacional; o coral municipal de vozes, formado principalmente por pessoas da terceira idade; temos a moçada do hip-hop, que faz um belo trabalho voltado para o social eles estão preocupados com a questão das drogas em Fernandópolis, é uma coisa diferenciada. Esses meninos já criaram uma associação, que permitirá que se torne de utilidade pública. Enfim, temos valores culturais na cidade que, se forem devidamente explorados nesses quatro anos, transformarão Fernandópolis num celeiro cultural. Quando fui diretor de Cultura, criamos o CTC Centro de Tradições Caipiras que foi o primeiro do Estado de São Paulo. O secretário estadual mandou um representante, o Toninho Macedo, para ver o que estava acontecendo! O Macedo é responsável pela pasta que cuida das questões da cultura de raiz, e ficou impressionado com o que estávamos fazendo. A cultura de raiz é uma das minhas grandes preocupações. E a diretora Iraci poderá contar comigo para o que for necessário.
CIDADÃO: Qual é a sua expectativa para a região de Fernandópolis nos próximos quatro anos?
ANDRÉ: Acredito que Fernandópolis, neste mandato, voltará a ser uma das lideranças regionais. A morte de dois prefeitos e outros azares da vida criaram na cidade um clima esquisito, mas acho que voltaremos a ser uma das cidades líderes da região. A perspectiva é grande. Temos a questão da agroindústria, o setor sucroalcooleiro. O governo deve liberar mais usinas para a região. A questão do Porto Intermodal, que eu considero fundamental para a região. A construção de um aeroporto de cargas...enfim, há várias questões elencadas, alusivas ao desenvolvimento regional. A perspectiva é das melhores, porque o nosso país tem que ser otimista, porque é auto-sustentável, tem petróleo, tem bio-combustível, é o campeão em tecnologia de energia renovável. O Brasil tem gente para comer e para se manter então, é um país que com certeza terá destaque a partir inclusive da crise mundial. Temos que erguer a cabeça, ver que o negativismo, o aspecto psicológico é o pior da crise e dar a volta por cima como, aliás, os brasileiros sabem fazer muito bem.
CIDADÃO: Houve um momento em sua vida no qual você pensou em ir embora de Fernandópolis. E agora? Você foi aprisionado para sempre?
ANDRÉ: Na verdade, certas decepções que acontecem na vida da gente às vezes nos levam a pensar em soluções mais radicais mas isso logo passa. Fernandópolis está no meu DNA, nasci aqui. Veja este exemplo: conversei esta semana com um empresário fernandopolense que tem negócios fora da cidade. Pois bem: mesmo não vivendo aqui, ele vive e respira a nossa cidade! Então, não dá para ir embora. Tive boas oportunidades, financeiramente falando, para sair daqui. Poderia morar de frente para o mar, numa cidade do litoral, perto da minha irmã, e ganhando duas vezes mais. Acabei ficando. Mesmo ganhando menos, pelo amor pela terra e pela vontade de acompanhar e participar do desenvolvimento do nosso município.
CIDADÃO: Sua mãe (Maria José Pessuto Cândido) que é uma pessoa de muita espiritualidade, deu algum conselho ao vereador André?
ANDRÉ: Ela não deu um conselho, deu vários: todos os dias, quando saio de casa, passo na casa dos meus pais, tomo café com eles. É um hábito que tenho e que não quero perder enquanto eles estiverem vivos. Quero curtir isso enquanto for possível: esse relacionamento de amor de mãe com o filho, de pai com o filho. E a gente sempre conversa, troca opiniões. Agora, certamente vai ser muito mais: creio que toda quarta-feira posterior às sessões da Câmara ela vai ter muito que conversar. E sei que terei muito que aprender com a espiritualidade dos meus pais, duas pessoas que admiro. Quero trilhar o seu caminho: o do bem, da paz, da ética, da responsabilidade, da seriedade e da espiritualidade.