Após cinco meses com as atividades paradas, o Poção I da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de Fernandópolis - que foi inaugurado em 1976 - está sendo recuperado pela empresa. Devido a incrustações por carbonatos - que diminuíram as zonas produtoras de água - o poção foi obstruído e deixou de ser explorado em agosto do ano passado. Desde então, a Sabesp vem trabalhando para colocá-lo novamente em funcionamento.
Em fevereiro de 2006, quando o poção começou a apresentar problemas, a vazão do veio era de 220 m³/h. Em agosto de 2008, quando foi paralisado, sua vazão era de 17 m³/h, com queda da temperatura de 59°C para 42°C. No mesmo mês, uma empresa foi contratada para fazer a filmagem ótica do poço, mas não conseguiu descer além dos 875,92 metros, devido à obstrução. Em 15 de dezembro, iniciou-se o processo de recuperação do poção.
A obra está orçada em R$ 565 mil. A empresa contratada para execução do serviço é a Hidrodex Engenharia e Perfuração, que tem vários anos de experiência em perfurações e manutenções de poços tubulares profundos.
Os serviços estão na fase de desenvolvimento, através de bombeamento com compressor de alta pressão, com vazão estimada de 300m³/h, o que sinaliza a recuperação da vazão do poço em torno de 200 m³/h. Essa produção, somada às vazões dos outros três poços, será suficiente para atender à demanda de Fernandópolis nos próximos dez anos, segundo informou o gerente da unidade de Fernandópolis, Antonio Carlos de Oliveira. O prazo de conclusão dos serviços está previsto para o dia 31 deste mês.
Um poço de muitas histórias
O Natalino I nome carinhoso dado ao primeiro grande poço de captação de água que foi perfurado pela Sabesp em Fernandópolis jorrou no dia 29 de junho de 1975, dia de São Pedro. Diz a lenda que o prefeito da cidade, Antenor Ferrari, recebeu a notícia dentro da Igreja de Santa Rita de Cássia, onde participava de uma celebração.
Naquela noite, Fernandópolis apareceu no Jornal Nacional da Rede Globo: o tal Poção, cuja profundidade chegara a 1.250 metros, jorrava água à temperatura de 59º, suficiente para cozinhar um ovo.
Vi essa matéria em São Paulo, onde morava na época. No vídeo, muitos rostos conhecidos: Ferrari, os vereadores Waldomiro Renesto e Sakae Yoshida, os repórteres de então, como Franco Garcia e João Leone. Foi uma aparição fugaz, mas suficiente para perpetuar-se na minha memória.
Finalmente, Fernandópolis vencia o pesadelo da crônica falta de água. O problema era tão sério que as casas situadas nas baixadas valiam mais, no mercado imobiliário, do que as construídas nos espigões: nestas, a água acabava primeiro.
Em Fernandópolis desde 1965, o jornalista Alencar César Scandiuzi conta que não foram poucas as vezes em que ficou ensaboado no banheiro sob um chuveiro repentinamente seco. Ficava com pena do Zezão(José Rodrigues Jr.), o funcionário do Departamento de Água e Esgoto da prefeitura. A comunidade telefonava pedindo soluções, mas o DAE só possuía um caminhão para atender às emergências, relata.
Tanto a luta junto ao governo do Estado para obter a autorização da obra, quanto a própria atividade de perfuração, tiveram capítulos dramáticos. A certa altura, perfurados mais de mil metros, o Poção permanecia seco e a verba acabou. Numa reunião em São Paulo com o governador Laudo Natel, os fernandopolenses conseguiram o repasse de uma verba primitivamente destinada a Ribeirão Preto, com a aquiescência do prefeito daquela cidade sim, esse tipo de desprendimento cívico já existiu, acreditem ou não os mais jovens.
Durante a perfuração, um dia a broca se quebrou e ficou presa nas profundezas do solo, obstruindo o poço. Ele teria que ser abandonado, concluíram os técnicos. Mas essa ideia não foi aceita pelo encarregado da obra, o velho Natalino, que criou ali mesmo, com a ajuda de seus operários, um sistema revolucionário para retirar a peça do buraco, a centenas de metros abaixo da superfície.
Com um anzol gigante, feito por ele mesmo, Natalino conseguiu pescar a broca e a obra prosseguiu, até que no citado 29 de junho a água jorrou, tépida e redentora. Um milagre que mudou a vida dos fernandopolenses. Em homenagem ao herói Natalino, seu nome foi dado ao velho Poção I, que agora será recuperado. Longa vida para ele.