Após 5 meses inativo, “Poção I” da Sabesp é recuperado

20 de Agosto de 2025

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Após 5 meses inativo, “Poção I” da Sabesp é recuperado
Após cinco meses com as atividades paradas, o Poção I da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) de Fernandópolis - que foi inaugurado em 1976 - está sendo recuperado pela empresa. Devido a incrustações por carbonatos - que diminuíram as zonas produtoras de água - o poção foi obstruído e deixou de ser explorado em agosto do ano passado. Desde então, a Sabesp vem trabalhando para colocá-lo novamente em funcionamento.

Em fevereiro de 2006, quando o poção começou a apresentar problemas, a vazão do veio era de 220 m³/h. Em agosto de 2008, quando foi paralisado, sua vazão era de 17 m³/h, com queda da temperatura de 59°C para 42°C. No mesmo mês, uma empresa foi contratada para fazer a filmagem ótica do poço, mas não conseguiu descer além dos 875,92 metros, devido à obstrução. Em 15 de dezembro, iniciou-se o processo de recuperação do poção.

A obra está orçada em R$ 565 mil. A empresa contratada para execução do serviço é a Hidrodex Engenharia e Perfuração, que tem vários anos de experiência em perfurações e manutenções de poços tubulares profundos.

Os serviços estão na fase de desenvolvimento, através de bombeamento com compressor de alta pressão, com vazão estimada de 300m³/h, o que sinaliza a recuperação da vazão do poço em torno de 200 m³/h. Essa produção, somada às vazões dos outros três poços, será suficiente para atender à demanda de Fernandópolis nos próximos dez anos, segundo informou o gerente da unidade de Fernandópolis, Antonio Carlos de Oliveira. O prazo de conclusão dos serviços está previsto para o dia 31 deste mês.


Um poço de muitas histórias


O Natalino I – nome carinhoso dado ao primeiro grande poço de captação de água que foi perfurado pela Sabesp em Fernandópolis – jorrou no dia 29 de junho de 1975, dia de São Pedro. Diz a lenda que o prefeito da cidade, Antenor Ferrari, recebeu a notícia dentro da Igreja de Santa Rita de Cássia, onde participava de uma celebração.

Naquela noite, Fernandópolis apareceu no “Jornal Nacional” da Rede Globo: o tal “Poção”, cuja profundidade chegara a 1.250 metros, jorrava água à temperatura de 59º, suficiente para cozinhar um ovo.

Vi essa matéria em São Paulo, onde morava na época. No vídeo, muitos rostos conhecidos: Ferrari, os vereadores Waldomiro Renesto e Sakae Yoshida, os repórteres de então, como Franco Garcia e João Leone. Foi uma aparição fugaz, mas suficiente para perpetuar-se na minha memória.

Finalmente, Fernandópolis vencia o pesadelo da crônica falta de água. O problema era tão sério que as casas situadas nas baixadas valiam mais, no mercado imobiliário, do que as construídas nos espigões: nestas, a água acabava primeiro.

Em Fernandópolis desde 1965, o jornalista Alencar César Scandiuzi conta que não foram poucas as vezes em que ficou ensaboado no banheiro sob um chuveiro repentinamente seco. “Ficava com pena do ‘Zezão’(José Rodrigues Jr.), o funcionário do Departamento de Água e Esgoto da prefeitura. A comunidade telefonava pedindo soluções, mas o DAE só possuía um caminhão para atender às emergências”, relata.

Tanto a luta junto ao governo do Estado para obter a autorização da obra, quanto a própria atividade de perfuração, tiveram capítulos dramáticos. A certa altura, perfurados mais de mil metros, o Poção permanecia seco e a verba acabou. Numa reunião em São Paulo com o governador Laudo Natel, os fernandopolenses conseguiram o repasse de uma verba primitivamente destinada a Ribeirão Preto, com a aquiescência do prefeito daquela cidade – sim, esse tipo de desprendimento cívico já existiu, acreditem ou não os mais jovens.

Durante a perfuração, um dia a broca se quebrou e ficou presa nas profundezas do solo, obstruindo o poço. Ele teria que ser abandonado, concluíram os técnicos. Mas essa ideia não foi aceita pelo encarregado da obra, o velho Natalino, que criou ali mesmo, com a ajuda de seus operários, um sistema revolucionário para retirar a peça do buraco, a centenas de metros abaixo da superfície.

Com um anzol gigante, feito por ele mesmo, Natalino conseguiu “pescar” a broca e a obra prosseguiu, até que no citado 29 de junho a água jorrou, tépida e redentora. Um milagre que mudou a vida dos fernandopolenses. Em homenagem ao herói Natalino, seu nome foi dado ao velho “Poção I”, que agora será recuperado. Longa vida para ele.