Crise econômica mundial, Lei de Responsabilidade Fiscal, falta de recursos...Nada disso parece obstáculo intransponível, aos olhos do otimista prefeito eleito de Fernandópolis, Luiz Vilar de Siqueira. Na última quarta-feira, minutos antes de revelar em cerimônia pública a grade de shows da Exposição com cinco meses de antecedência, portanto Vilar concedeu esta entrevista exclusiva a CIDADÃO e falou de suas metas administrativas. Garantiu que vai cobrar resultados da equipe e que a prefeitura não se transformará num cabide de empregos. Mais: na opinião do novo prefeito, o parque industrial de Fernandópolis deve ser implantado na região próxima à Brasilândia, para servir de cartão de visitas da cidade.
CIDADÃO: Como é que o sr. vê o desafio de assumir a prefeitura sob os efeitos da crise econômica mundial que começou em setembro de 2008?
VILAR: Realmente, essa crise preocupa, porque ninguém sabe o que vai ser. Muitos economistas falam, o governo toma medidas, mas não se sabe se ela está no começo, no meio ou no fim. Então, temos que ter preocupação, tanto como cidadão quanto como prefeito. Nesse último caso, a responsabilidade aumenta muito, não posso começar a gastar. Terei que sentir o caminhar da crise. Vamos prosseguir com algumas obras que já estavam em fase de licitação, e que são convênios com o governo. Se não fizermos, perderemos o dinheiro. Assim, vamos tocar normalmente os processos. As obras em andamento com recursos exclusivos do município, essas eu já brequei. Podem até ser importantes, mas não é o momento de gastar. Trabalharemos muito em cima do nosso plano de governo. Dei uma cópia dele para cada diretor, e quero que eles o leiam toda semana. Priorizaremos o plano de governo, mas isso não significa que não façamos algumas obras fora dele. É possível que, ao final dos quatro anos, alguma obra não tenha sido feita, por causa do custo. Vai depender da situação econômica. Quero cautela dos diretores. Nos primeiros seis meses, vamos priorizar pequenas obras, de R$ 20 mil, R$ 30 mil, que tragam bons resultados. Em vez de fazer uma obra de R$ 500 mil, faremos 15 obras de pequeno valor, mas que também são importantes. Passados os seis meses, se a crise diminuir, passaremos a ser mais atirados. O município precisa ter uma economia sadia, com condições de pagar seus fornecedores e funcionários.
CIDADÃO: É a primeira vez que o sr. é prefeito na vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal. Muitos prefeitos dizem que essa lei amarra o administrador. O sr. também pensa assim?
VILAR: Na outra vez em que fui prefeito, realmente essa lei não existia, ela entrou em vigor no ano seguinte ao fim do meu mandato. De fato, era mais tranqüilo trabalhar sem as amarras dessa lei. Mas vejo muitos prefeitos respeitarem a lei na sua totalidade e fazerem boas administrações. O que é preciso é ter mais cuidado, às vezes demorar um pouco mais nos processos de licitação para evitar problemas, não se pode resolver as coisas de bate-pronto, é preciso ouvir a assessoria jurídica e os técnicos. Mas dá para fazer uma boa administração adequada à lei.
CIDADÃO: Depois de uma semana de trabalho, já foi possível ter uma noção precisa do quadro administrativo e da situação financeira do município?
VILAR: Não. Estamos levantando a situação. Veja esta listagem, por exemplo: pelo que entendi, no dia da transmissão do cargo, a prefeita falou de um saldo que estaria deixando em caixa, mas não falou em dívidas. Se falou, eu não entendi. Até agora já apuramos de restos a pagar R$ 1,3 milhão. E também sei de obras que não estão pagas, porque empreiteiros me ligaram querendo saber quando é que vou pagar, e essas dívidas ainda não estão relacionadas. Então, estamos levantando toda a realidade dos recursos deixados no caixa e das dívidas. Ainda não fizemos qualquer pagamento. Somente no início da próxima semana deveremos ter dados confiáveis.
CIDADÃO: O quadro de funcionários municipais vai inchar?
VILAR: Não, ele vai diminuir. Nós estamos fazendo algumas dispensas dos funcionários que não são concursados. Estamos nos sentando com os responsáveis de cada diretoria, porque os diretores já fizeram uma análise das necessidades de recursos humanos, e todos aqueles que não forem necessários na diretoria estão sendo dispensados. Alguns serão contratados, mas posso lhe dizer que no saldo final, haverá mais dispensas do que contratações. Haverá necessidade de contratações futuras quando for criado, por exemplo, algum órgão. Hoje mesmo liberei uma escola para ser construída, com recursos obtidos pela administração anterior junto ao MEC, e a obra estava por ser licitada. Isso vai acontecer, e quando essa obra estiver pronta, para que ela funcione é uma creche se não for possível remanejar funcionários, teremos que contratar. Mas não vamos contratar por contratar; os atendimentos políticos, dos nossos compromissos de campanha, já estão encerrados. Agora, é hora de administrar o município, e não podemos inchar o quadro de funcionários.
CIDADÃO: Depois de muita polêmica, o município adquiriu uma área na rodovia Euclides da Cunha para a implantação do novo parque industrial. Na sua administração, ele vai ser ocupado por empresas?
VILAR: Aquela área não é adequada à implantação de um parque industrial, porque está longe da cidade, e para implantar as benfeitorias que são necessárias ficará muito caro. Então, nós pretendemos, durante a nossa administração, comprar outras áreas, mas na entrada da cidade. Quem vier de São Paulo, ou da região de Rio Preto, a primeira impressão que terá da cidade será o parque industrial. A região da Brasilândia precisa se desenvolver, ali aconteceu o início de Fernandópolis, e ela ficou relegada durante todos esses anos. Então, pretendo instalar o parque industrial naquela região, que é a porta de entrada de nossa cidade. A área que foi comprada pela administração anterior está inclusive com problemas, porque os proprietários alegam que não foi pago um valor justo. Parece que a prefeitura está depositando o pagamento em cartório, mês a mês. Assim, eu vou fazer uma proposta para eles: que eles fiquem novamente com a área e devolvam à prefeitura aqueles recursos, corrigidos. Com esses recursos e mais alguma verba, quero comprar outra área, naquele setor do qual falei. Deverei procurar a família Simonato, proprietária da área, para tentar uma negociação. Aí, mandaremos um projeto para a Câmara, uma coisa bem transparente, e com esses recursos vou adquirir uma área na entrada na cidade.
CIDADÃO: Qual é a meta prioritária da sua administração em 2009? Não me refiro às áreas com destinação obrigatória de verbas, como Saúde e Educação, e sim algum projeto que seja uma intenção pessoal do prefeito para este primeiro ano de administração.
VILAR: É fazer os anéis viários. Esse é um sonho antigo de Fernandópolis, inclusive quem traçou o primeiro projeto dos anéis viários foi o arquiteto Dreison Santini, hoje morando em Campinas. O Dreison teve a felicidade de traçar um projeto que é uma maravilha, e que será muito importante para a cidade quando for executado. A gente sabe que o custo é muito alto, mas vamos atacar essa questão. O anel viário ligará a Incubadora de Empresas à Unicastelo e ao terminal de açúcar da Coruripe, num trecho de aproximadamente 4,2 km, e que tirará o trânsito de caminhões do perímetro urbano. Isso também facilitará o transporte das cargas de açúcar para os portos e para as regiões consumidoras. Além disso, facilitará a vida dos alunos e professores da Unicastelo, que vêm de cidades do Mato Grosso do Sul, de Jales, de Santa Fé do Sul, etc. É um trecho cujo projeto já estava pronto desde a administração do prefeito Rui Okuma. A área já está doada, a faixa que vai ser usada já está demarcada. O maior trecho dessa estrada está em terras da família Arakaki. Essa será a primeira obra, que acredito que em maio já será iniciada. E aproveitamos o período posterior às eleições para conversar com o secretário de governo Aluisio Nunes Ferreira Filho, que é um grande amigo, e nessa audiência, na qual também estavam os deputados Analice Fernandes e Julio Semeghini, conseguimos a aprovação também do trecho entre o CAIC e a rodovia Euclides da Cunha. Essa ligação facilitará a vida de todo o pessoal do CAIC, já que hoje moram naquela área cerca de 16 mil pessoas. Quem precisar ir para Votuporanga, Rio Preto, São Paulo, não precisará mais passar pelo centro da cidade: poderá sair direto na rodovia Euclides da Cunha, depois da Brasilândia. E veja o detalhe: essa parte do anel viário estará exatamente dentro da área que pretendemos comprar para ser o novo distrito industrial. Então, essa via servirá ao distrito industrial e ainda desafogará o trânsito do centro da cidade. Outro trecho que conseguimos, já está em fase de projeto no DER, é a ligação da rodovia João Carlos Estuqui, que liga Fernandópolis a Pedranópolis, passando por trás da FEF, ao lado da Exposição inclusive completando o asfalto em volta da Expô e saindo por cima, até a rodovia Antonio Faria, que leva a Macedônia. Esse é um outro trecho do projeto do Dreison Santini que estabelece uma proposta de construção de vias perimetrais em Fernandópolis. Outra coisa: já está em fase de aprovação pelo governo do Estado a obra de duplicação da rodovia Euclides da Cunha no trecho urbano de Fernandópolis. Independentemente da duplicação da rodovia Euclides da Cunha, o que deve acontecer provavelmente até 2011, neste ano deveremos duplicar o trecho urbano na região da empresa Fasolo onde há pista dupla que se transforma em simples. Dali, a duplicação irá até a Madeireira Capital. Outra obra será a duplicação da rodovia Percy Waldir Semeghini do trevo até um pouco adiante do Vips Eventos. Haverá, ali, um viaduto para travessia, ligando o Jardim Uirapuru às Cohabs Antonio Brandini e João Pimenta. Esse viaduto evitará acidentes na área. Só essa obra tem uma previsão de custo de R$ 38 milhões. A execução está prevista para este ano. Estivemos na Secretaria Estadual dos Transportes, no Departamento de Estradas e Rodagem e as coisas estão bem avançadas. Além disso, há ainda as avenidas Getulio Vargas e Raul Gonçalves Jr., alvos da negociação com a Sabesp na época da renovação do contrato. As obras serão iniciadas no máximo em março. São obras importantes para a expansão urbana de Fernandópolis. Hoje, a Getulio Vargas está totalmente impedida. A Raul Gonçalves, depois do Fórum, não tem qualquer benfeitoria.
CIDADÃO: Existe previsão de data para a liberação dos recursos devidos pela Sabesp?
VILAR: Isso já está acertado. Em março essas obras entrarão em execução.
CIDADÃO: O sr. é um homem com fama de exigir de seu grupo muito trabalho e muitos resultados. Para isso, o administrador também precisa de muito apoio parlamentar. Considerando, por exemplo, que o deputado João Dado (PDT) se assumiu como deputado de Votuporanga (já na última segunda-feira, ele compareceu ao gabinete do prefeito Junior Marão para se colocar publicamente à disposição do município), o sr. cobrará mais consistência no apoio dos parlamentares ligados ao seu grupo político?
VILAR: Nem será preciso. Temos uma ligação muito grande com alguns deputados: o Julio Semeghini, o Rodrigo Garcia e a Analice Fernandes. A esses três deputados que apoiaram a União por Fernandópolis se aliaram outros parlamentares, como o Régis de Oliveira, e eles trabalharão muito por Fernandópolis. Nessa parte de apoio parlamentar eu estou tranqüilo, temos uma ligação direta com o Palácio dos Bandeirantes através do Dr. Aluisio Nunes Ferreira Filho. Não faltará apoio a Fernandópolis, a população pode ficar tranqüila. Todos esses deputados têm compromisso conosco.
CIDADÃO: De que maneira o sr. encarou o até breve dito pela ex-prefeita Ana Bim no dia da transmissão do cargo?
VILAR: Olha, acho que essa pergunta teria que ser feita a ela. Não sei se ela está pensando em ser novamente prefeita daqui a quatro anos, ou se esse até breve seria, por exemplo, sinal de que ela seria candidata a deputada estadual ou federal em 2010. Sinceramente, não sei o que ela quis dizer com aquelas palavras. Acho que ela mesma é que tem que responder o significado da frase.
CIDADÃO: Para finalizar: o sr. está otimista?
VILAR: Muito otimista. Mesmo com a crise que estamos vivendo, da qual já falamos na primeira pergunta, e que tem que nos preocupar como prefeito e como cidadão, estou otimista de conseguir muitas coisas para a cidade. Precisamos mudar, Fernandópolis necessita melhorar o relacionamento com a imprensa, com os clubes de serviço, as associações de bairro. É um momento de conversar e ouvir muito, fazer com que as coisas aconteçam. Pode ter certeza: minha equipe vai trabalhar muito. É um compromisso que os assessores têm comigo e com a cidade. Não estamos aqui para brincar. E há diretores que compreenderam a missão importante de ajudar Fernandópolis a voltar a crescer e abriram mão de maiores ganhos no setor privado justamente para cumprir esse papel. Poderiam ganhar muito mais. Só que preferiram aceitar a convocação do amigo e a convocação para servir sua cidade. Esse é o nosso grupo. E tenho a certeza de que contarei com o apoio dos funcionários públicos municipais. A grande maioria é composta por gente que veste realmente a camisa de Fernandópolis. Tenho a certeza de que conduziremos a prefeitura com sucesso.