Maria Aparecida da Silva, 61, é um exemplo de mulher guerreira que nunca desiste de seus sonhos. Enquanto alguns se contentam em ficar sentado à beira do caminho, lamentando a vida, a aposentada segue a todo vapor em busca do seu grande sonho: reativar a mata do antigo jardim zoológico como espaço de cultura e lazer e fazer progredir o Clube de Assistência Pequenos Gigantes, do qual é presidente.
Os Pequenos Gigantes começou há oito anos, debaixo de um pé de Jatobá com oito crianças, na casa da aposentada. Aos poucos o trabalho foi ganhando credibilidade e confiança dos jovens, que se multiplicaram e superlotaram o local.
Com o aumento, a presidente requereu à Prefeitura o direito de se instalar na casa do antigo zelador do Zoológico, bem como aproveitar o espaço de um alqueire da mata. Os Pequenos Gigantes já chegou a ter cerca de 80 jovens. Hoje, devido à falta de recursos, restam aproximadamente 20.
A presidente não recebe qualquer tipo de ajuda, exceto a isenção do pagamento de água e luz e alguns pães e carne moída que são doados todos os finais de semana pelo Supermercado Pessotto da Cohab Antônio Brandini.
De acordo com dona Cida, as crianças e adolescentes que fazem parte do grupo são todos carentes e vêm aos encontros esperando ter algo para comer, pois em casa não há. Embora Os Pequenos Gigantes seja um trabalho de escotismo, não adianta só ensinar nozinhos às crianças, elas têm fome. Os próprios pais mandam eles para cá, por não terem o que comer em casa ou por não suportarem a presença deles. Como dizer não aos coitadinhos?, desabafou Silva. A solução muitas vezes é desembolsar dinheiro da pequena aposentadoria para não ver o trabalho morrer.
Mas, a falta de recursos não é o único problema. Desde que a mata foi desativada, em 1993, o local tem sido alvo de usuários e traficantes de droga, que se aproveitam da área aberta para fins ilícitos.
Alguns moradores pensam até em se mudar do bairro. Ao redor da mata tinha um alambrado, mas a molecada quebrou e a Prefeitura veio e arrancou o resto e não providenciou mais. Isso aí só serve para esconderijo de traficante e usuários de droga, 24 horas por dia. Se vocês ficarem com uma câmera filmando vão ver o absurdo. Isso é um transtorno, estou até mudando daqui, reclamou o mecânico José Vieira dos Santos, 51, morador há 17 anos no bairro.
De acordo com o Sargento do Corpo de Bombeiros, Orlando Candeia Júnior, o local já sofreu vários incêndios. Até que esse ano diminuiu bastante. Teve um ano que em um único dia fomos lá sete vezes, disse Candeia.
Muitos desafios dona Cida teve que enfrentar por abraçar esta causa. O maior deles foi uma ameaça de morte por parte de um usuário de drogas que freqüentava a mata.
Eles viviam fumando maconha na mata e eu sempre dizia: não fiquem aqui. Quando foi um dia eu chamei a Polícia. Foi quando um deles me enfrentou e disse: eu ainda te pego. Eu disse: olha rapaz, eu não tenho medo de cara feia, morrer a gente morre uma vez só, disse Cida. No outro dia, na parede da antiga lanchonete - construída na época em que o Zoológico funcionava havia a seguinte mensagem pichada: Vou mata você Cida.
No entanto, mesmo sob a pressão de ameaças, a corajosa mulher de aproximadamente 1,60 de altura, não se intimidou. Chamou novamente a polícia e o caso foi parar no fórum. Na frente do juiz, o traficante, amedrontado, retirou a ameaça. Contudo, embora a voluntária defenda com unhas e dentes a área, ninguém parece se importar com a mata. No final de 2007 a prefeitura disse que já tinha um projeto para o local e que, no próximo mês, daria início. Até hoje a promessa não foi cumprida.
Polícia Ambiental: A mata corre sérios riscos
De acordo com o comandante da 2ª Companhia da Polícia Ambiental de Fernandópolis, capitão Antônio Ulmidevar Dutra Junior, a reserva corre sérios riscos de sofrer danos irreversíveis e pode desaparecer completamente se não for adotada nenhuma medida de proteção.
O que pode se constatar após vistoria no local, é que a mesma já se encontra nesse processo, que a médio e longo prazo levará ao seu total desaparecimento. Conclusão esta baseada pelo fato da falta de estrutura, conscientização da população e uso inadequado do espaço por moradores e transeuntes, que podem provocar danos ainda mais irreversíveis. Muitos moradores da região exploram a mata de forma irregular e até a presente data não foi possível identificar e responsabilizá-los pelos danos ali causados. Pelas características do local - caso houvesse interesse da municipalidade ou empresários - o local poderia se tornar um parque ecológico, o que contribuiria para melhoria da qualidade de vida, criando-se opção de lazer e contribuindo para preservação do local, alertou Dutra.
O capitão afirmou ainda que a mata pode ser considerada como um dos pontos que, dentro do perímetro urbano de Fernandópolis, contribui para melhor qualidade de vida.
Assim como mais três pontos da cidade, que apresentam aglomeração de vegetação em estágio significativo, estando elas localizadas nas proximidades da Unicastelo e dentro da área pertencente à Universidade
Pesquisa revela que a mata é uma das maiores preocupações dos moradores
No ano de 2000, pesquisa feita pela Associação dos Moradores do Jardim Paraíso, revelou as preocupações dos moradores, onde a mata aparece em 5º lugar entre os problemas apontados. De acordo com Jocelino da Silva - presidente da Associação em 2000 - a pesquisa foi realizada com objetivo de detectar carências do bairro sob a ótica dos moradores. O resultado foi tabulado em janeiro de 2001. Participaram da pesquisa 309 moradores que apontaram 37 itens. Desse total, três itens relacionavam-se à mata. Tais como: pedido de asfalto nas ruas vizinhas a área; transformação da mata em área de lazer e regularização do serviço de limpeza na área do antigo Zoológico.