Desde criança ele sempre dizia: quando crescer, quero ser bombeiro como meu pai. Sentia prazer em acompanhá-lo nas ocorrências, mesmo que fosse para ficar escondido na viatura. Aquele mundo fascinava o garoto. Aos 20 anos, Orlando Candeia Júnior abandonou o serviço de servente de pedreiro e ingressou na Polícia Militar (PM), vislumbrando a possibilidade de ingressar no Corpo de Bombeiros.
Antes, porém, teve que encarar a árdua tarefa de servir à PM na capital. Somente após um ano e meio conseguiu vaga para ingressar na escola de sargentos e teve, em seguida, oportunidade de escolher ser bombeiro no interior.
Mais de 20 anos se passaram depois que abandonou a profissão de servente de pedreiro; mas ele afirma categoricamente: Embora esteja com 43 anos, tenho muito vigor! Nas provas de teste físico, que são realizadas uma vez por mês, faço questão de manter a mesma média de pontos que eu fazia quando era mais jovem.
O amor pela profissão o fez se destacar. Eu amo ser bombeiro, não sei o que vou fazer quando me aposentar, daqui a sete anos. Vivo e respiro esta atividade. Faço cursos e mais cursos, me dedico, quero aprender e estou sempre aprendendo, disse Orlando.
Sua ousadia e bravura marca registrada de sua personalidade somada à experiência dos calejados anos de profissão lhe renderam uma viagem a Paris em 2000, depois de atender uma ocorrência de desabamento no Jardim Rosa Amarela, em fevereiro daquele ano, onde Candeia salvou uma família inteira.
Fomos acionados para averiguar uma cratera que havia se formado, devido às chuvas intensas, em uma residência no Rosa Amarela. Quando cheguei, imediatamente determinei que a família deixasse a casa, pois corria risco de desabar. Tanto a família quanto os funcionários do almoxarifado da prefeitura foram contra a minha decisão, somente o engenheiro da prefeitura concordou comigo. A família não queria sair da casa de forma alguma e dizia: para onde vamos? Não temos para onde ir. E eu dizia, não interessa para onde vocês vão, mas nessa casa vocês não ficam. Vocês não acionaram o Corpo de Bombeiros? Então agora estão sob minha responsabilidade.
Com relutância, a família acatou a ordem e foi transferida para uma casa do CDHU que a prefeitura providenciou. Naquela mesma noite a casa desabou, disse Candeia.
Por esse feito, foi escolhido para representar o 13º Grupamento de Bombeiros de São José do Rio Preto que é composto por Fernandópolis, Votuporanga, Jales e Santa Fé do Sul - nos 6º Jogos Mundiais em Mantes na França. A Olimpíada é feita de dois em dois anos e reúne integrantes dos Corpos de Bombeiros de todo o mundo. Naquele ano, a equipe do Brasil ficou em 2º lugar, perdendo apenas para a África do Sul.
Momentos como esse ficarão marcados no coração do bombeiro, assim como outros que, segundo ele, não se apagarão jamais. A ocorrência mais triste que já vivi, foi entregar os corpos de três filhos que morreram afogados no Rio Grande a uma mãe em Indiaporã.
A mais chocante, segundo Candeia ocorreu recentemente: a explosão de uma fábrica clandestina de fogos de artifícios, no bairro Coester, onde um jovem de 23 anos teve o corpo todo queimado. Cheguei ao local e me deparei com aquele rapaz que, se arrastando, vinha em minha direção pedindo socorro. Não esqueço aquela cena, me chocou muito. Em desespero ele dizia no pronto-socorro da Santa Casa: salva minha vida eu pago um churrasco para vocês depois. Pedia também para que cortássemos sua perna, pois doía demais. E antes de falecer pediu para disséssemos a sua família que ele amava a todos. Momentos como estes jamais vou esquecer, desabafou o sargento.
No Corpo de Bombeiros, Candeia é responsável pelo setor administrativo, de instrução aos bombeiros (tropa pronta) e também dá instruções de primeiros socorros a empresas e escolas. Em 2009, provavelmente será promovido a subtenente. A carreira de bombeiro lhe trouxe outras oportunidades, como a de se tornar professor. Há dois anos ele dá aulas no curso técnico de Segurança do Trabalho da Fundação Educacional de Fernandópolis. Questionado quando ao segredo de tanto sucesso, sem hesitar, responde: Deus! Quando olho para traz e lembro que eu era apenas um servente de pedreiro, agradeço a Deus. Agradeço todos os dias pelo meu trabalho, pela minha profissão, que me abriu diversas portas, como dar aulas em uma faculdade. Sem Ele, eu jamais teria chegado tão longe, pois vejo pessoas que tinham tudo para dar certo e acabaram não vencendo na vida. Por isso digo mesmo: amo o que faço e não me canso, se pudesse faria muito mais, concluiu Candeia.