“Entre outros fatores, amor envolve respeito”, diz psicólogo

20 de Agosto de 2025

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“Entre outros fatores, amor envolve respeito”, diz psicólogo
Diocélio Xavier Rosa é psicólogo, filósofo e teólogo. Nasceu na cidade de Pai Pedro em Minas Gerais, é casado com Rose dos Santos Rocha, tem um filho: Pietro Lutero dos Santos Rocha. Como psicoterapeuta, ele analisa o caso Eloá/Lindemberg, ocorrido em Santo André e que chocou o país, sob a ótica familiar e dá algumas dicas aos pais sobre como educar os filhos, o que fazer quando eles se aproximam das más companhias e qual a idade certa para namorar.

CIDADÃO: O caso de Eloá e Limderberg pode ser considerado como um crime passional?
DIOCÉLIO: É mais do que certo que foi um crime passional, alguém movido “por alguma coisa parecido com amor”; mas na realidade nós não podemos considerar aquilo como amor. Porque o amor tem outras implicações, envolve respeito, companheirismo e em nenhum momento houve isso. Junto com o crime passional, a gente tem que entender também a personalidade do Lindemberg, ele não é uma pessoa equilibrada. Durante os seus pronunciamentos foi possível perceber que ele não tem uma linha de raciocínio lógica. Obviamente ou provavelmente tenha se manifestado naquele momento pela crise, pela separação, pelo rompimento que eles tiveram; mas obviamente ele tinha um distúrbio de personalidade. E o tipo de personalidade que mais se aproxima da dele é a borderline, que é literalmente alguém que está na borda do amor, do ódio, entre a paixão e a compaixão e a vingança. É alguém que está sempre nos seus limites, eles não uma linha clara de raciocínio. Por isso ele está sempre nos cantos, nos precipícios, a qualquer momento aquilo rompe de uma forma negativa. E aconteceu de romper bem no término do relacionamento e pela fala dela a gente percebe que realmente havia um transtorno de personalidade. Provavelmente uma personalidade borderline, seguida obviamente dessa paixão que ele tinha por ela.

CIDADÃO: Uma garota de 12 anos está apta a namorar?
DIOCÉLIO: Não se trata de uma garota, mas sim de uma criança de 12 anos. Na psicologia há níveis de desenvolvimento - desde quando a criança nasce até a sua morte – tem ciclos na vida que não podem ser antecipados ou quebrados. E quando se trata de uma criança de 12 anos, obviamente ela não estará apta para uma relação. Quando a gente está falando de uma relação afetiva a gente pensa em uma coisa com projeto, com propósito e não tem como você pensar que uma criança está pensando de uma forma madura sobre o que é o amor, o que é ter filhos, sobre sexualidade, sobre rompimentos. Ela não tem estrutura cognitiva para, por exemplo, tentar entender o Lindemberg, saber os traços de personalidade. Nos adultos já é muito difícil, um jovem para conhecer o outro jovem é muito difícil, agora imagina uma criança de 12 anos na mão de uma pessoa de maior idade. Uma criança de 12 anos não tem essa capacidade.
Outra coisa importante, é que nós temos o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – a Eloá tinha 15 anos, mas ela começou a namorar com 12, então é muito evidente a caracterização também de que ela foi ciente. Tiveram relação sexual no começo do namoro, e é evidente também que além do crime ele vai ser responsabilizado por estupro. Aí existe uma discussão das pessoas dizendo que os pais permitiram e que ela permitiu, mas essa lei não existe. Menor de 14 anos, com ou sem consentimento dos pais, é caracterizado, não abuso, mas como estupro. Então se tem uma lei que caracteriza que, em uma relação sexual antes dos 14 anos, mesmo com a autorização dos pais é caracterizada como estupro, então nós temos que concluir, obviamente que uma criança de 12 anos não tem capacidade cognitiva, psicologia, social e cultural para entrar em uma relação.

CIDADÃO: Qual a idade exata para um jovem iniciar o namoro, segundo a psicologia?
DIOCÉLIO: Depende muito da pessoa, mas é difícil apontar uma menina de 14 ou 15 anos e dizer que ela tem uma estrutura cognitiva para entrar em uma relação, pensando em uma relação séria. Existe um verbo no Aurélio que se chama namoricar; é quando você fica com uma pessoa sem pretensões futuras. Quando você tem apenas um beijo, abraço, não se preocupa em amanhã. Mas o grande problema é quando uma garota de 14 anos de idade, por exemplo, entra em uma relação apenas para namoricar que é diferente de namorar, mas o grande problema é se ela tem estrutura para saber com quem ela está brincando. E de repente ela entra em uma brincadeira com um rapaz, mas ela não sabe a personalidade que está do outro lado. Então o que para ela pode ser brincadeira, para a outra pessoa pode ser algo muito sério e o rompimento dessa brincadeira, podemos concluir com o mesmo rompimento de Eloá. De repente na cabeça dela era só uma fantasia de adolescente, mas para Lindemberg, era a mulher da vida dele. Nesses casos, você nunca sabe quem é a outra pessoa que está envolvida na relação. Então por isso não podemos dizer tal idade. Eu acredito, eu quando dou palestras para jovens sempre digo: entre em uma relação pensando em um projeto para o amanhã. Na minha visão, se os pais pudessem - embora na nossa sociedade hoje seja impossível - o pai deveria ensinar a pensar nisso depois dos17 ou 18 anos, antes disso é precipitado.

CIDADÃO: Como os pais devem agir quando percebem que os filhos estão sendo influenciados por más companhias?
DIOCÉLIO: Eu acho que não deve se proibir nunca. Há um princípio que a lei incita ao erro, quanto pior for melhor é. Os pais quando percebem que os filhos estão indo para uma relação perigosa, devem usar o diálogo. E geralmente os pais não dialogam, ele fecham os filhos, castigam, punem. E obviamente, isso vai incitar a rebeldia, porque o grupo do qual ele faz parte vai fazer a cabeça dele dizendo: ‘está vendo, seus pais não te amam, não pensam em você, como eles podem te amar fazendo assim?’. E para um adolescente é mais fácil seguir o caminho errado. Às vezes você ensina seis ou sete anos alguma coisa boa para o seu filho, um belo dia ele vai a um lugar errado com pessoas erradas, ele é capaz de esquecer em um dia os sete anos de coisas boas que você ensinou a ele. Isso é uma coisa da própria natureza humana, a coisa errada, quebrada nos atrai mais. Então a resposta da pergunta se chama diálogo. E quando os pais vêem que não estão dando conta é ai que entra a ajuda de um especialista de um profissional que vai tentar ajudar os próprios pais e os filhos.

CIDADÃO: Diante do caso Eloá e Lindemberg, que abalou o país, qual a mensagem que você daria hoje, primeiro aos pais, depois aos filhos?
DIOCÉLIO: Primeira coisa: os pais têm que começar a pensar na formação dos filhos não quando eles fazem dez, 12 ou 13 anos, porque geralmente é tarde. Eu creio em uma personalidade durante o processo da vida. E aí tem várias teorias acerca disso, uns acham que é com 18, 19 anos, outros que é a vida inteira que nós estamos nos formando, eu não vou entrar nesse caso. Eu acredito que os pais têm que se preocupar em ser espelho, principalmente até os dez anos de idade, dar exemplo dentro de casa. Porque é complicado um filho que nunca viu o pai e a mãe se beijarem saber o que é amar, nunca viram os pais se abraçarem e saber o que é abraçar, nunca viram os pais terem compromisso e saber o que é compromisso. Responsabilidade gera responsabilidade. Os pais, então, devem se preocupar em ser exemplo. Segundo, eles devem se preocupar em dialogar com os filhos, falar e fazer ao mesmo tempo, Porque falar e não mostrar como funciona na prática, dentro de casa, o filho não consegue aprender. Existe uma frase que eu gosto: “O que você faz, fala tão alto que as pessoas não conseguem ouvir o que você está dizendo”. Sem hipocrisia, os pais devem falar, mas fazer e também ensinar esses valores aos seus filhos. O caso da Eloá é um caso que choca, mas eu creio que daqui a duas semanas, no máximo um mês será esquecido. Então é importante que os pais não deixem que esse acontecimento seja esquecido, pensando em seus filhos. E aos jovens eu deixo a seguinte mensagem: não entre em uma relação por acaso, por que você não sabe quem está do outro lado da linha, você não sabe a procedência, personalidade, família. Para que gastar energia em lugares errados? No amor não há lugares para aventureiros, só para pessoas que sabem o que querem e para onde estão indo.