Quem olha para o metalúrgico Devacir Benedito Pinto, 42, não imagina quantas foram as dificuldades enfrentadas na vida para chegar a ser o empresário bem-sucedido que é hoje. Alguns atribuem o seu sucesso à sorte; mas com muito orgulho ele declara: tive que passar por muitas dificuldades para chegar até aonde cheguei, não sou fruto do acaso.
Mesmo levando vida muito agitada, Devacir ainda encontra tempo para dedicar-se ao projeto Os Sonhadores. Ao lado de Marcos Vilela - idealizador do projeto social que é voltado para jovens carentes - Devacir luta para ver todos os garotos bem-encaminhados na vida.
Aos finais de semana eles oferecem atividades esportivas, culturais, educativas e, ainda, ensinam uma profissão: a mesma que Devacir aprendeu quando tinha 11 anos de idade, a de artesão.
Em 1977, Devacir começou a trabalhar em uma fábrica de móveis em Fernandópolis, profissão essa que o ajudou a desenvolver diversos dons artísticos. Nas horas vagas, ele lançava mão de suas habilidades para criar seus próprios brinquedos.
Bastava uma lata vazia de leite em pó ou de qualquer outro produto para que a imaginação do jovem começasse a borbulhar idéias para driblar a falta de recursos.
Nessa fábrica de móveis trabalhou seis anos; mas a vontade de alçar vôos ainda maiores o fez partir para a cidade de Limeira (SP) em busca de algo melhor. Com o dinheiro da passagem contado e só de ida, Xté como é conhecido pelos amigos partiu para a cidade grande.
Seu objetivo era fazer um curso técnico no Senai e conseguir um emprego para sobreviver.
Depois de dois meses sem encontrar trabalho, decidiu arrumar as malas para voltar. Antes, porém, teve a idéia de passar novamente na primeira empresa que havia visitado quando chegou à cidade. Foi quando as portas se abriram.
Devacir foi aprovado nos testes e passou a trabalhar em uma empresa metalúrgica. Seu trabalho era empurrar um carrinho de mão o dia todo para abastecer uma máquina de matéria-prima. Devido ao seu porte físico raquítico, um gerente chegou a dizer: Ele é muito magro, não vai dá pra fazer nada aqui. Mas Devacir dizia convicto: Me dê apenas uma chance. A intenção do jovem era mesclar o conhecimento de marcenaria com a metalurgia e fazer um trabalho diferenciado.
Xté passou então a trabalhar na empresa. Sua vida não era nada fácil. Entrava às 5h30 e saía às 22h, chegava em sua casa, lavava roupas e preparava o almoço e o jantar do dia seguinte.
Fiquei três anos comendo arroz, tomate e ovo frito e tinha muita vergonha de comer perto dos outros funcionários, por fim criou-se um mistério em torno da minha marmita. Todos queriam saber o que eu comia, mas eu nunca mostrava. O meu salário ficava todo para o meu pai, pois ele era muito doente. Eu morava em um barraco em uma favela e dormia no chão. Fiquei por três anos nessa condição até que recebi uma promoção, disse Devacir.
A empresa em que Xté trabalhava pertencia a uma multinacional que era coligada a uma empresa alemã. Após três anos de trabalho, um dos diretores alemães lhe ofereceu o cargo de vendedor técnico. Devacir, muito sem jeito, alegou que ele sequer sabia falar ao telefone e que também não tinha roupas para trabalhar na área administrativa.
Sem aceitar as desculpas, o diretor dobrou o salário de Xté, diminuiu sua carga horária que passou a ser das 7 às 17h30 e lhe deu roupas e calçados novos.
A partir desse dia, o jovem passou a ter uma nova vida. Mudou-se da favela para um lugar melhor, passou a enviar mais dinheiro para o pai, para que ele pudesse comprar uma casa e passou a dedicar-se a sua nova função dentro da multinacional.
Após dois anos na área administrativa Xté teve a oportunidade de entrar em contato com grandes empresas, como Bosch, Mercedes Benz, TV Globo e muitas outras. Poucos anos depois passou a trabalhar na área de supervisão de vendas.
Vendo o potencial do funcionário, a empresa propôs um desafio. Eu tinha que desenvolver um produto, uma peneira para classificar pepitas de ouro. Fiquei 50 dias na região do Matogrosso e Pará, onde havia grandes garimpos, sem ter como me comunicar com ninguém. Nenhum engenheiro queria ir, pelo fato de ficar longe da família. Em gratidão a empresa pediu para que eu escolhesse uma cidade para montar o meu próprio negócio, disse Devacir.
Sem hesitar, Xté escolheu a cidade de São José do Rio Preto, por ficar mais próximo de sua família. Devacir passou, então, a prestar serviços à multinacional em que trabalhava. Tempos depois ele foi convidado pela empresa para estagiar na Alemanha.
A empresa desenvolvia produtos direcionados a indústria pesada, por meu intermédio, a empresa passou a agregar esses produtos na área de arquitetura e decoração e eu comecei a produzir esse material no Brasil, pela primeira vez, passei também a ganhar comissão e tive a oportunidade de estagiar em outros paises como Alemanha e Estados Unidos, relatou o metalúrgico.
Por quatro anos seguidos, Devacir passou a viajar para a Europa, onde conheceu mais de 33 países. Em seguida passou a prestar serviço para empresas européias no Brasil e montou uma empresa, para sua família, de assessórios para móveis. Mas depois de quatro anos acabou falindo devido ao mau gerenciamento da família. Como eu nunca desisto dos meus sonhos hoje tenho uma empresa de metalurgia aqui na cidade e dei início a um sonho antigo que eu tinha que era de ajudar crianças carentes a ter uma vida melhor, relatou Xté.
Devacir deu início um projeto de escoteirismo em Fernandópolis, chamado Desbravadores, e hoje está à frente do projeto Os Sonhadores. Eu comprei uma chácara e a preparei para iniciar esse trabalho, foi quando me veio ao encontro o Marcos Vilela - que vivia vagando com essas crianças sem ter um local fixo para desenvolver seus projetos. Foi então que eu adotei Os Sonhadores, pois na realidade eu sempre fui um sonhador. Mas com a graça de Deus - que sempre esteve ao meu lado - tenho alcançado meus objetivos. Já os funcionários que trabalhavam comigo naquela época e que sempre me diziam: pra que se esforçar e trabalhar feito um louco? Eles continuam levando a mesma vidinha, da mesma forma com que eu os deixei estão. Eu, porém, continuo avançando e ainda vou mais além, porque creio que Deus está comigo e Ele me faz triunfar, finalizou Devacir Pinto.