Cândida de Jesus Silva Nogueira nasceu em Paulo de Faria (SP) há 53 anos. Casada com Jesus Alves Nogueira, tem dois filhos: Johnni e Cinthia. Destacada militante da Associação de Voluntários Contra o Câncer (AVCC), Candinha, como é conhecida, elegeu-se no último dia 5 vereadora em Fernandópolis, com 944 votos. Professora formada, ela também cursou Estudos Sociais. Um pouco da história de vida dessa lutadora você vai conhecer nesta entrevista, uma das mais gratificantes já feitas pelo editor deste jornal.
CIDADÃO: Por que você decidiu entrar para a política?
CANDINHA: Na realidade, eu nem cheguei a decidir isso. Recebi um convite para ser candidata. Não quis dizer não ao convite do Dr Avenor (Bim). É muito fácil dizer não, o difícil é dar a cara pra bater. Os políticos são muito criticados: é o prefeito que não faz, é o vereador que não faz.... Quando recebi o convite, resolvi aceitar para exercer meu papel de cidadã. Agora, de moto próprio, nunca tinha pensado nisso.
CIDADÃO: Chamou a atenção o fato das mulheres obterem quatro das dez vagas da Câmara Municipal da legislatura 2009/2012. A que você atribui esse fenômeno eleitoral?
CANDINHA: Penso que as mulheres estão sendo mais valorizadas nos dias de hoje. O fato da mulher ser mais delicada, sensível, também pode ter sido levado em conta. E aconteceu uma coisa muito importante: as mulheres votaram em mulheres.
CIDADÃO: Você sentiu que teve muito voto feminino?
CANDINHA: Sim. Aliás, quero aproveitar a oportunidade para agradecer muito aos meus amigos, à minha família, e a Deus, em primeiro lugar, por ter me dado a oportunidade. Meus amigos assumiram o compromisso de me ajudar espontaneamente, nem precisei lhes pedir. E, entre esses amigos, havia muitas mulheres, trabalhando com entusiasmo.
CIDADÃO: Dizem que, quando você não podia ir a alguma palestra, os outros candidatos diziam: Olha, estamos pedindo votos pra nós e para a Candinha! Seu grupo era assim unido?
CANDINHA: Era sim, e sempre fomos bem recebidos aonde chegávamos. Em muitas visitas que fizemos, acabávamos chegando às casas de gente que passou pela AVCC. Isso ajudou muito, porque os próprios pacientes às vezes pediam a palavra nas palestras para pedir que votassem em mim. Agora, quando nosso grupo chegava a uma residência onde já existia placa de algum candidato, nós respeitávamos. Tem que ter ética. Como vou falar em ética, em moral, se tentar pedir voto ali, naquela casa, onde o morador está manifestando uma predileção por um candidato de outro partido? É direito dele, democracia é isso. Tem que respeitar a opção. Só que às vezes a gente não notava a placa e batia palmas. De repente, notávamos que havia placa e pedíamos desculpas, mas o próprio morador nos deixava à vontade, dizendo que não havia problema.
CIDADÃO: Você sofreu alguma crítica, no sentido de dizerem que você estaria usando a AVCC para fazer política, já que, como militante e fundadora da entidade, não poderia fazer isso?
CANDINHA: A política existe em todas as relações humanas. O que não se pode é misturar política e politicagem. Fazendo parte da igreja, de reuniões de quarteirões, do Grupo São Miguel, de certa forma tenho uma atitude política. A AVCC nunca teve grandes problemas com os políticos, porque todo mundo a ajuda. Na Câmara atual, por exemplo: acho que a AVCC não pode reclamar de nada, esses vereadores sempre foram extremamente receptivos às nossas reivindicações. No começo da campanha, até que me questionaram um pouco, mas não vejo lado negativo. Acho que o cargo de vereadora me ajudará a trabalhar pela entidade. E garanto: não usei a AVCC na campanha. Inclusive, me perguntaram por que não usei na campanha o nome Candinha da AVCC. Achei que não poderia fazer isso. É verdade que houve situações em que a pessoa me dizia: Eu conheço você! Eu perguntava de onde, e ela dizia: Você entrega lanche de madrugada!. Claro, ela se referia ao trabalho que fazemos de distribuição de lanches ao pessoal dos ônibus que vão para Barretos e São José do Rio Preto. Isso foi gratificante, uma experiência única.
CIDADÃO: Como nasceu a Candinha samaritana? Você sempre foi assim ou foi a sua doença que a transformou na pessoa atual?
CANDINHA: Acho que recebi muita ajuda na minha vida. Perdi meu pai quando tinha 10 anos. Meu cunhado foi me buscar em Paulo de Faria e me trouxe para Indiaporã. Trabalhei por dez anos como doméstica na casa dos Arantes, da dona Candinha, minha xará. Ali aprendi muita coisa, a família Arantes sempre ajudou muita gente. E o fato de você ser ajudada, você não esquece. Jamais. Aliás, eu acho que não faço nada. Sinto prazer em ajudar, gostaria de fazer muito mais.
CIDADÃO: Você acha que levantar às 3h30 para levar lanches gratuitos aos viajantes que vão em busca da quimioterapia é não fazer nada?
CANDINHA: Veja, nós temos 40 equipes de lanches! Nesse esquema, temos 20 equipes que dão o lanche a quem vai para Rio Preto e 20 equipes responsáveis pelos que viajam pra Barretos. Como é tudo bem organizado, não há sacrifício. É que alguma fama sempre sobra pra mim, porque, dentro da AVCC, sou considerada pidona (risos). E é verdade: tenho mais cara-de-pau de pedir as coisas à população para ajudar a AVCC do que de pedir voto...
CIDADÃO: Quais serão as prioridades de seu mandato de vereadora?
CANDINHA: Quando fui convidada para ser candidata, fiquei preocupada porque na verdade não me achava capacitada para isso. Porém, como acredito em Deus e sei que o comando é Dele, deixei para Ele decidir. Conversei muito com Deus, e pedi que Ele decidisse, já que nós somos instrumentos de Deus. Minha amiga Malu Mandarino, durante a campanha, me perguntava qual era o meu programa, minha plataforma. Eu respondia que Deus é que resolvia. Mas Deus lhe dá a resposta?, ela perguntou. Eu disse: Deus responde a todos aqueles que evocam o Seu nome e acreditam. Aí, um dia, apareceu na minha cabeça a seguinte tese: eu não deveria apresentar um projeto parlamentar. Eu deveria era ouvir o povo para estabelecer um plano de ação juntamente com a população. Prometi, e vou cumprir, voltar constantemente aos bairros. Fazer reuniões com as lideranças e escutar as reivindicações. Sinto que o povo quer opinar, é ele quem sabe suas reais necessidades. Não é pelo povo nem para o povo: é junto com o povo.
CIDADÃO: A experiência de percorrer a cidade inteira a fez dizer a uma amiga a seguinte frase: mesmo se eu não for eleita não vou ficar parada, depois de tudo que vi na periferia de Fernandópolis. Já que foi eleita, quais são os problemas que a chocaram tanto?
CANDINHA: Muita coisa. Fazer campanha é sair do comodismo de estar dentro de si mesmo e enxergar a realidade do próximo. Nessa situação, só podem acontecer duas coisas: ou você se conforma com a realidade ou você se choca e se propõe a mudar os fatos. O impacto maior foi no Jardim Ipanema, além do Uirapuru. Foi difícil ver pessoas sem perspectiva de vida. Faltava-lhes trabalho, faltava emprego, faltava comida, faltava escola, faltava Deus. Vejo-me na obrigação de buscar parcerias e soluções para trabalhar por essa gente. Um trabalho sem eu, mas do nós, um trabalho que possa mudar esse estado de coisas. O pior é que as pessoas se acomodam em situação boa e também em situação ruim. Fiquei muito chocada com a carência geral dessas pessoas. Não poderemos ter medo de encarar esse desafio.
CIDADÃO: Você é otimista?
CANDINHA: Sou. Acredito em Deus, não poderia ser diferente. Quem tem fé é otimista. Luto há 14 anos contra um câncer e estou aqui, eleita vereadora, estudando o Regimento Interno e a Lei Orgânica do Município. Já imaginou se eu fosse pessimista? Nem estaria mais aqui!