Funcionária alerta para denúncias de compra de votos

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Funcionária alerta para denúncias de compra de votos
Debie Cristina Imenes tem 43 anos, é divorciada, possui dois filhos e ocupa o cargo de técnico judiciário na 302ª Zona Eleitoral de Fernandópolis. Trabalha no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) desde 1989. Dentro do TRE desempenhou diversas atividades. Em 2000, foi convidada a trabalhar no Cartório Eleitoral de São Paulo. No ano de 2005, porém, ela prestou um concurso interno para remoção a cidades do interior, passou, e optou por vir para Fernandópolis. Nesta entrevista, Debie analisa o processo eleitoral de Fernandópolis e região em 2008. Embora considere que os candidatos se comportaram bem no curso da campanha, a funcionária pública revela que a Justiça Eleitoral recebeu muitas denúncias de tentativas de compra de votos. Como se vê, os velhos métodos calcados no abuso do poder econômico ainda fazem escola.

CIDADÃO: Você poderia fazer um panorama das eleições 2008?
DEBIE: Eu acho que as eleições estão decorrendo dentro da normalidade. Dentro do ponto de vista do Cartório Eleitoral, nosso serviço está normal, a preparação para as escolas já está certa, os mesários já receberam os tratamentos, as urnas já foram lacradas, já vamos proceder às revistas das escolas no sábado, entregar as urnas no domingo. Com relação às eleições e à propaganda eleitoral, este ano correu tudo dentro da normalidade, dos acordos que foram firmados entre a Justiça Eleitoral e os candidatos. Não houve pichação de muro, não houve sujeira na cidade, não colocaram bandeiras, não prejudicaram o trânsito. Nessa parte eu achei que foi bem tranqüilo, mas por outro lado recebemos inúmeras denúncias sobre eleitores que estão recebendo muita tentativa de compra de votos, tudo o que você possa imaginar, distribuição de combustível, de dinheiro, de cesta básica, de churrascos. Recebi denúncias de que eles estão cadastrando famílias, distribuindo dinheiro, anotando número de título eleitoral e sessão para dizer que depois eles vão confirmar para saber se as pessoas realmente votaram neles.

CIDADÃO: Tem como saber para quais candidatos foram os votos dos eleitores?
DEBIE: Não tem como saber, é impossível. Em primeiro lugar, o Tribunal Regional Eleitoral nos disponibiliza dentro do número do eleitor apenas um cadastro básico dos eleitores. Que é filiação, data de nascimento, onde o eleitor mora e como anda a vida do eleitor dentro do parâmetro eleitoral. Ou seja, se ele votou ou não, se ele tem algum problema judicial. A gente tem controle do número eleitoral apenas de quem votou ou não. Nós temos um caderno de votação que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com todos os números dos eleitores com aquele ticketizinhos. Votou ele recebe, não votou ele não recebe. A urna apenas faz a computação do número de votos. Ela não computa dessa maneira: ‘título tal pertence a tal pessoa’. Aquele número é digitado na urna apenas para liberação para o eleitor votar. Inclusive existem números até fictícios que também liberam a urna aqui para votação em um treinamento. A urna computa os votos no geral, por sessão, quantos votos tiveram. E também possível saber se você vota na sessão, por exemplo, 49.

CIDADÃO: São quantas sessões e quantas escolas?
DEBIE: São 111 sessões e 16 escolas.

CIDADÃO: Como estão os processos de impugnação de candidatos na sede da comarca? Há candidatos inelegíveis?
DEBIE: Existe apenas um processo correndo a respeito da elegibilidade que é contra o candidato a vereador, Edjair Martins Tosta, atualmente ele interpôs um recurso ao TSE, mas ainda não houve julgamento. Ele participará das eleições e a situação dele é de indeferido com recurso. Enquanto for julgado pelo TSE ele não terá uma posição definida. Se o TSE concordar com a candidatura dele, ele já terá participado das eleições e se ele teve votação suficiente para ser eleito ele terá condições para ser diplomado. Caso contrário, os votos que ele venha a receber serão considerados como nulos.

CIDADÃO: Qual é o traje que o eleitor não poderá usar na cabine de votação?
DEBIE: Logicamente que o de praxe, ir sem camisa e com trajes de banho, que não é o caso aqui da nossa cidade. De preferência que não use nada que faça alusão aos candidatos, tipo bonés, camisetas. Se ele estiver com um adesivo do candidato na blusa, nós não vamos pedir para ele retirar, mas a gente não quer que ele fique fazendo propaganda aos demais da fila. Como a Justiça já proibiu a distribuição de chaveiros, bonés e outros, nós esperamos que não haja esse tipo de coisas lá.

CIDADÃO: Quais os documentos que as pessoas devem levar para votar?
DEBIE: Um documento oficial com foto na falta do título eleitoral, mas nós pedimos para que, de preferência, o eleitor leve o título eleitoral. Até para facilitar para ele saber a escola, sessão, para nós sabermos o número dele.

CIDADÃO: Celulares serão permitidos?
DEBIE: Não. De forma alguma.

CIDADÃO: Qual a previsão de horário de encerramento da apuração?

DEBIE: Como agora é sistema eletrônico e tudo é computadorizado, o processo é muito rápido. Eu creio que, atrasando muito, acabará por volta das 20h. Se não houver nenhum problema.

CIDADÃO: Com as urnas eletrônicas, a cada ano que passa a tendência é fazer com que o tempo da apuração seja cada vez mais reduzido?

DEBIE: Como eu já trabalhei tanto aqui no interior como na grande São Paulo, percebo que eles têm melhorado, pois os programas vão se modernizando e eles vão passando instruções mais lógicas para a gente. Eles dão todo o amparo legal, técnico. A tendência agora é melhorar. Eles já estão partindo para aquela parte de modernizar o próprio título de eleitor, parece que agora vai ter foto, vai ser oficial também, como o RG, como a carteira de motorista. Vão ter todos os dados do eleitor, talvez impressão digital. Eles estão fazendo de tudo para que a Justiça Eleitoral seja mais clara e transparente possível.

CIDADÃO: Vai ter telão no cartório para as pessoas poderem acompanhar a votação?
DEBIE: Nós não íamos colocar o telão, porque a divulgação é tão rápida que nós achávamos que era uma coisa desnecessária, mas está todo mundo pedindo. Então nós vamos fazer um orçamento, nós temos que fazer licitação para isso. Então nós vamos fazer isso rapidinho e por esse telão para o pessoal.