Que ninguém diga que o arquiteto Ricardo Henrique Alves Corrêa, chefe do departamento de trânsito da administração municipal, não se esforça na busca pelo aperfeiçoamento profissional e do tráfego de Fernandópolis. Aos 43 anos, esse fernandopolense que estudou no Coronel, como gosta de dizer, casado com Maristela, pai de Ulisses e Cecília, formado pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) continua à busca de instrumentos teóricos e práticos que o gabaritem para solucionar o complicado ir e vir do meio urbano. Ricardo fez curso de pós-graduação em Planejamento Urbano Desenho e Gestão do Território Municipal - e atualmente cursa outra pós-graduação, desta vez sobre MBA (Trânsito, Mobilidade e Segurança) no Inbrapec. Ele também é membro do Conseg Conselho Comunitário de Segurança. Na opinião do entrevistado, ainda há muito por ser feito. Mas o começo, ele assegura, tem que ser mesmo pela educação de quem dirige um veículo, seja de que natureza for. De todo modo, Ricardo já colhe alguns frutos, como o plano diretor e a instalação recente de novos semáforos, que representaram uma espécie de bandeira branca no complicado trânsito da cidade.
CIDADÃO: Qual é o balanço que se pode fazer da Semana de Prevenção de Acidentes de Trânsito?
RICARDO: A semana faz parte do calendário do trânsito, por instituição do Denatran. Este ano, o tema é a criança no trânsito, por sinal muito oportuno, porque costumamos observar uma série de desrespeitos à legislação de trânsito no tocante à criança, especialmente no seu transporte. Por exemplo, tem motoristas que transportam crianças com menos de 10 anos no banco da frente, às vezes do colo da mãe ou do pai. Tem gente que estimula a criança a aprender a dirigir, numa idade muito precoce. O papel das entidades este ano nós fizemos uma parceria ampla com a Santa Casa, a Polícia Civil e Militar e os clubes de serviço, para resgatar aquilo que é correto em relação à criança, ou seja, que ela seja olhada como pedestre. Através da programação da semana, bastante extensa, acreditamos ter levado essa mensagem e que a população tenha aprendido e altere seu comportamento relativamente à segurança da criança.
CIDADÃO: O que mudou no perímetro urbano de Fernandópolis com a chegada dos novos semáforos?
RICARDO: A questão da instalação já vinha sendo debatida nas reuniões da comissão municipal de trânsito. Já havíamos diagnosticado a necessidade de investimento na instalação de semáforos em alguns cruzamentos. Havia alguns cruzamentos uns por questão de fluidez, como é o caso do cruzamento da Avenida dos Arnaldos com a Rua Bahia e outros por questão de segurança, como é o caso da mesma avenida na esquina com a Rua Rina de Gênova, já que é uma rua de mão dupla que cruza com avenida. Os problemas desses lugares foram resolvidos.
CIDADÃO: Os acidentes parecem ter diminuído. Vocês têm estatísticas sobre isso?
RICARDO: Com a instalação dos semáforos, diminuiu, sim. Temos acompanhado os dados de acidentes de trânsito. Estou fazendo um trabalho para mapear os locais de Fernandópolis com maior incidência de risco. Dependendo da análise que fizermos, estabeleceremos as prioridades e definiremos como atuar preventivamente nesses locais. Enfim, vamos fazer uma investigação para detectar o que realmente acontece. Nosso acompanhamento mostra que o número de acidentes tem se mantido estável, e em alguns casos aumentou em relação à frota. O que tem diminuído é a gravidade desses acidentes, hoje menos severos por força da fiscalização, da sinalização e ainda da Lei Seca.
CIDADÃO: Você acha que a Lei Seca diminuiu os acidentes graves?
RICARDO: Não há dúvida de que a Lei Seca é bem-vinda, os dados estão aí para comprovar inclusive a Santa Casa, em seu pronto-socorro, e o Corpo de Bombeiros, com o resgate, têm informações importantes acerca da diminuição dos acidentes graves. Esse é um dado concreto.
CIDADÃO: Voltando à questão do planejamento, um dos bairros mais complicados de Fernandópolis é o Coester, particularmente na região da Avenida Presidente Castelo Branco. Qual foi o grande erro original que se cometeu ali?
RICARDO: Se você pegar o mapa da cidade, é possível identificar que, pela expansão viária, algumas regiões, como a leste e a oeste, não têm avenidas projetadas. E o nosso eixo de expansão está justamente nesses dois flancos tanto no lado do Ana Luiza e do Planalto, quanto do lado do Jardim Rosa Amarela. Nesses locais, não há barreiras físicas, como a linha férrea ao sul e a rodovia Euclides da Cunha ao norte. Enfim, o crescimento está sendo induzido para esses dois lados (leste e oeste) e justamente ali não há vias expressas existentes ou projetadas. Não foram previstas no mapa de expansão viária, para fazer a interligação com o sistema viário básico. Qual é a saída? Planejar e regulamentar o plano diretor. Não há outra alternativa senão fazer vias binárias, que são preferenciais com mão dupla. Algumas ruas e avenidas serão escolhidas, vias que já servem de ligação com os bairros. Mas aí é quem começam a ocorrer alguns problemas, porque a população terá um impacto com as mudanças.
CIDADÃO: Você acha que o que está sendo feito está sendo correto em relação ao futuro, ou seja, para um crescimento sustentável de demanda?
RICARDO: O que está sendo feito agora tem que ser pensado pelo menos para daqui a 10 ou 20 anos. O mapa viário básico tem esse horizonte. Evidentemente, outra condicionante do projeto de Fernandópolis é o adensamento populacional. Com os vazios que a gente tem hoje ao longo da malha viária já existente, há condições da cidade crescer e a população aumentar, aumentando o adensamento. Sem espraiar a cidade, enfim. Isso era um erro que vínhamos cometendo. O plano diretor deve alterar isso, com uma lei de perímetro urbano mais restritiva, que coíba novos loteamentos em regiões muito distantes, fazendo uma maximização do sistema viário atual. É preciso incentivar o adensamento populacional nessas áreas vazias. Outro fator importante será o controle de velocidade nessas vias.
CIDADÃO: A velha guerra entre motoristas e motociclistas é um problema educacional? Como fazer para equacionar isso?
RICARDO: Acho que não há uma receita pronta. Vemos os dados de outras cidades alguns assustadores, como os de São Paulo, onde morre 1,3 motoqueiro por dia. Há uma questão de formação do condutor brasileiro, que não é preparado uma deficiência das nossas escolas e estrutura de formação e a própria configuração da moto, que é um veículo que expõe as pessoas a risco. Na mesma velocidade e situação, é evidente que o risco para o passageiro ou condutor de uma moto é maior do que para o passageiro ou condutor de um automóvel. Há muitas coisas que podem ser mudadas, como o respeito ao motociclista e o respeito do próprio motociclista às leis de trânsito.