O jovem Marco Antonio Longo da Silva, de 20 anos, é um bom exemplo para apresentar à meninada de hoje, nas proximidades do dia 22, quando se comemora o Dia da Juventude do Brasil.
Marco nasceu em São Paulo, mas quando tinha 12 anos, seu pai ficou desempregado na Capital e decidiu mudar-se para o interior. Hoje, eles vivem no Sítio São José, na Rodovia Percy Waldir Semeghini. O rapaz conta que ouve galos cantando na madrugada e é despertado pelos pássaros. O sítio é seu pequeno paraíso.
Mas é na cidade que Marco exerce suas atividades: inspetor de alunos na Escola Estadual Joaquim Antonio Pereira, o JAP, onde ingressou por concurso temporário, ele procura dar conselhos aos alunos, que nem sequer são muito mais jovens do que ele. À noite, assiste às aulas do curso de Letras da FEF está no 6º Semestre. E ainda acha tempo para se dedicar ao EJOCRI Encontro dos Jovens com Cristo um movimento organizado pela Igreja Católica.
Calmo, tranqüilo, de fala mansa, Marco é desses meninos que nos fazem acreditar que exista alguma luz no final do túnel, mesmo nesses tempos bicudos de individualismo e de gente adepta da Lei de Gerson.
CIDADÃO: Onde você nasceu?
MARCO: Em São Paulo. Morei lá até os 12 anos, e depois vim para Fernandópolis. Meu pai foi mandado embora e decidiu morar no sítio. Estou na mesma casa desde então, faz oito anos. O sítio fica no caminho de Brasitânia.
CIDADÃO: O sítio é administrado pela família?
MARCO: Sim, é regime de economia familiar. É pequenininho, só tem 2,5 alqueires. Dá pra tirar um pouco de leite, plantar alguma coisa...Eu venho para a cidade todo dia no ônibus dos trabalhadores da prefeitura.
CIDADÃO: A sua família é muito religiosa?
MARCO: Bastante. Lá em São Paulo, eles participavam do Movimento Familiar Cristão e dos encontros de casais. Aqui, eles participam também. Eu participo do EJOCRI, vou à missa todos os domingos, tomo parte.
CIDADÃO: Particularmente, como é a sua visão de Deus?
MARCO: Eu acredito em Deus e acredito também que aquilo que Deus reserva para a gente, às vezes pode parecer, num primeiro momento, que não é o melhor. Porém, basta passar algum tempo para a que a gente compreenda que Deus escolheu o melhor caminho para nós. A sabedoria de Deus é fantástica.
CIDADÃO: Como foi o seu ingresso no Encontro dos Jovens com Cristo?
MARCO: Quando aconteceu o 7º EJOCRI, eu queria fazer, até porque estava numa idade em que você começa a ter vontade de participar de alguma coisa diferente, conhecer gente nova. Não foi possível, mas no ano seguinte, eu participei do 8º EJOCRI. Faz quatro anos.
CIDADÃO: Depois de conhecer em profundidade o EJOCRI, qual é o seu conceito a respeito do movimento?
MARCO: É algo que me completa. O EJOCRI mexe com a sua espiritualidade, com sua vida pessoal, com o seu jeito de se relacionar com as pessoas. São três dias de muita reflexão e emoção. Comigo não foi diferente. E tudo o que é falado lá, você acaba usando como base de reflexão, e conseqüentemente vai achando caminhos. As pessoas que participam já têm uma certa noção do que é certo e do que é errado, mas com os testemunhos que se ouve no EJOCRI, você revê conceitos, sem dúvida.
CIDADÃO: Você viu casos de jovens que eram tidos como rebeldes e problemáticos, que tenham mudado por força da participação?
MARCO: Sem dúvida. Os adultos que organizam o encontro procuram cuidar bem disso. E o próprio encontro debate os problemas de drogas, há testemunhos de jovens que decidiram deixar uma vida meio prostituída, digamos assim, por causa dos estímulos que receberam no encontro.
CIDADÃO: Existem muitos jovens em Fernandópolis voltados para as coisas do espírito, como você, ou a grande maioria é mesmo a turma latinha de cerveja/caminhonete/Bruno & Marrone?
MARCO: (Risos) Olha, não acredito nessa história de que a minha geração não tem salvação. Vejo de outro jeito, até como inspetor de alunos. Procuro conversar com os meninos de uma forma diferente. Afinal, mudaram os costumes, mudaram os sujeitos, mas tem salvação, sim. Os jovens são mais individualistas, sim, mas isso é culpa da Internet. Com a Internet, acabou aquele costume de sair todo mundo junto, turmas de 20 ou 30 pessoas, para bater papo. Hoje, cada um fica no seu MSN, ou num grupinho mais fechado. Mas ainda existe o espírito de turma, de amizade, principalmente em uma cidade como Fernandópolis, que não é tão grande.
CIDADÃO: Há quanto tempo você é inspetor de alunos no JAP?
MARCO: Há quatro meses. É difícil impor autoridade aos alunos porque eu sou apenas três ou quatro anos mais velho do que eles, mas eu procuro o diálogo, e tem sido compensador porque os meninos vêm me contar acontecimentos da vida deles, pedir conselhos, é muito legal. Ajudo a resolver os problemas deles, na medida do possível, e isso faz com que eu me sinta útil. Tem sido uma experiência de vida muito boa.
CIDADÃO: A experiência de participante do EJOCRI o ajuda a atuar como inspetor?
MARCO: Ajuda muito, porque, como inspetor, você tem que ter uma vida regrada, senão não vai inspirar respeito. Fernandópolis não é uma cidade muito grande, como eu disse, e aonde você vai você é visto pelos alunos. Então, é preciso ter conduta irrepreensível.
CIDADÃO: Vocês do EJOCRI organizam o baile De bem K vida. Qual é a finalidade desse baile?
MARCO: O De bem K vida é que sustenta o próximo EJOCRI, porque o encontro tem um custo muito elevado. Esse custo não é repassado para os jovens participantes. Assim, a renda do baile é para pagar as despesas. Agora, o próximo encontro, que deve acontecer em final de março ou começo de abril do próximo ano, será pago com a renda do baile de 2008. Na verdade, podemos dizer que o 13º EJOCRI já começou com o baile De bem K Vida deste ano.
CIDADÃO: Vocês têm outras atividades no EJOCRI?
MARCO: Como os demais setores da igreja, fazemos trabalhos comunitários, como visitar os idosos no Lar dos Velhinhos. Levamos a ele uma palavra amiga, um pouco de alto astral. Eles levam uma vida meio melancólica, a gente vai lá pra fazer um pouco de barulho (risos).
CIDADÃO: Por que você resolveu estudar Letras?
MARCO: Olha, foi meio problemático, porque gosto de várias áreas, como Economia, Pedagogia, Filosofia. Acabei optando porque disseram que há mais campo.
CIDADÃO: E o que você quer fazer no futuro?
MARCO: Tenho uma coisa comigo: vontade de militar na política. Acho que tenho essa vocação. E, se um dia tiver chances, quero trabalhar pela geração de empregos, pela urbanização de todos os bairros, pela educação e por mais lazer para os jovens. Nossa, já estou falando como candidato! (risos).