Portadores de necessidades especiais alegam que a sociedade não está preparada para lidar com deficientes
Melancolia, desânimo e revolta são alguns dos sentimentos que afligem as pessoas portadoras de necessidades especiais, quando são discriminadas pela sociedade. Mesmo às vésperas do Dia Nacional da Luta de Pessoas com Deficiências, comemorado amanhã, 21, poucos parecem se importar com o problema.
Durante esta semana, a equipe de reportagens do CIDADÃO entrevistou diversas pessoas com deficiências para saber quais são as dificuldades encontradas por elas no dia-a-dia. Entre os problemas apontados, destaque para a falta de profissionais qualificados para trabalhar com eles e a ausência da inclusão social.
Em alguns casos, a falta de preparo e a discriminação são tão grandes, que os deficientes preferem abandonar trabalhos, escolas e comunidades por não suportar o constrangimento. É o caso de A.A., 8, portadora de deficiência mental, cuja mãe optou por tirá-la da escola estadual ao constatar que a filha estava sendo maltratada pela professora.
Comecei a perceber que minha filha chegava da escola irritada. Às vezes eu ia buscá-la no colégio e a encontrava chorando. Ela dizia que era saudade. Foi então que alguns amiguinhos revelaram que a professora a humilhava na sala de aula. Chamava-a de burra e a deixava fora da classe. Só buscava na hora de ir embora. A A. ficou com o emocional abalado e precisou até ser internada., desabafou S.A.
Já para Eloá Fernanda Stefani Topan, 11, deficiente auditiva, o relacionamento entre os amigos e professores é muito bom. Contudo, a mãe, Vânia Cristina Stefani Topan, e a professora de educação especial de Eloá na Apadaf (Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos de Fernandópolis), Sandra Maria da Silva Cardoso Paulique, alegam que a maior necessidade é a presença de um intérprete no ensino regular da rede estadual de ensino.
Os deficientes auditivos costumam receber mais propostas de emprego do que portadores de outras deficiências. Segundo Sandra, cerca de 15 jovens assistidos pela Apadaf já estão no mercado de trabalho.
A mesma sorte não tem o estudante E.F.M., 24, que por ser deficiente físico e andar com auxílio de muletas, vê as portas se fecharem nas entrevistas em busca de emprego.
Quando vou procurar emprego, as pessoas mal me olham e já acham que eu não vou dar conta do serviço, mesmo que seja o mais simples. As pessoas com deficiências que eles querem para preencher a cota, segundo exige a Lei, são pessoas cegas ou que perderam um dedo na mão. Quando é um deficiente como eu, eles tratam com reservas. É mais fácil pôr na vaga uma pessoa normal do que uma pessoa que vai trazer alguma limitação para a empresa, lamentou E.F.M.
Já o aposentado Sebastião Pereira, 60, vítima de trombose nas pernas, acostumou-se a levar a vida sobre uma cadeira de rodas. Sem ninguém para dividir as tarefas de casa, ele varre a casa, cozinha, lava a louça e tira o pó dos móveis. Do salário mínimo que recebe no final do mês, ele tira o dinheiro da lavadeira e passadeira, que também limpa a casa uma vez por mês pelo total de R$ 50.
Como Sebastião, Gustavo Mafra deficiente visual total - filho da presidente da ADVF (Associação dos Deficientes Visuais de Fernandópolis), Célia Mafra, luta para superar suas limitações. Contudo, de acordo com Célia, o pior dos males não se encontra na visão do filho, mas na sociedade que trata os deficientes como se não fossem seres humanos.
Já cheguei a me descontrolar ao ouvir de uma empresária da cidade que os cegos têm que ficar dentro de casa e não na rua. Como pode uma pessoa ficar presa em casa se nem um cachorro pode ficar preso? As pessoas precisam acreditar mais na capacidade de um deficiente. Meu filho faz natação, judô, toca violão, canta e leva uma vida normal, desabafou a mãe.
Para Célia, a sociedade só irá evoluir quando passar a ver estes deficientes com outros olhos e entender que eles também são gente como a gente.