Um empresário voltado para o social

20 de Agosto de 2025

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Um empresário voltado para o social
Durante 12 anos, Jairo Fernandes Domene foi bancário. Querendo alcançar a independência profissional, ele optou pelo caminho da agricultura. Porém, a crise do setor, em 1989, acabou transformando-o em industrial. Jairo fundou a Aço Nobre, empresa de Valentim Gentil que fabrica móveis de aço. Aos 46 anos, morando em Fernandópolis, divorciado, pai de Joyce e Mônica – a primeira é a gerente comercial da empresa – ele demonstra extrema preocupação com seus colaboradores e a sociedade de maneira geral. Obcecado pelo aprimoramento pessoal e profissional, Jairo freqüentemente participa de cursos, simpósios e congressos. Nesta entrevista, ele conta como trocou o “eu” pelo “nós”, após um profundo mergulho interior.



CIDADÃO: Como ocorreu essa grande mudança de rumo profissional em sua vida?

JAIRO: Eu era bancário, trabalhei no Banco Bandeirantes e na Caixa econômica Estadual. A agricultura foi uma alternativa para sair do banco, eu tinha que me apegar a alguma coisa. Era a atividade em evidência daquele momento. Na realidade, a agricultura foi, em princípio, uma atividade paralela, já que eu trabalhava no crédito rural. No fim, pedi demissão e inaugurei a Aço Nobre.



CIDADÃO: Você também é designer?

JAIRO: A verdade é que sou designer por conseqüência (risos). Não sou designer formado, mas 90% dos modelos, eu que crio. Inclusive a primeira cadeira Aço Nobre, que é fabricada até hoje, foi desenvolvida em fundo de quintal. Faz 18 anos que trabalhamos com ela, e eu a fiz artesanalmente em minha casa. Deu um trabalhão. Esse produto deu origem a tudo. Eu comecei vendendo peças de trator, e mudei para o setor moveleiro porque o setor da agricultura estava em crise, em 89, e Valentim Gentil tinha uma tendência para a indústria de móveis. Fui o pioneiro em móveis de aço na cidade.



CIDADÃO: Você estruturou uma grande empresa, que tem 38 mil m2 de área, gera dezenas de empregos, paga impostos. A pergunta é: o apoio do poder público ao empresário – leia-se incentivos fiscais, doação de área, terraplenagem – pesa muito na decisão do investidor, na hora da escolha da cidade em que vai instalar a empresa?

JAIRO: No meu caso, pesou. O prefeito da época me fez um desafio. Ele me passou uma área de 1.000 m2 e disse o seguinte: vou lhe passar esse lote, mas se você não construir em dois anos, o imóvel voltará para a prefeitura. Eu respondi que estava começando e não sabia se conseguiria. Ele replicou: “Conheço seu potencial. Se vira!”. Daí em diante, minha cabeça virou um poço de preocupações. Na realidade, foi quando começou o meu grande desafio. Eu tinha o imóvel, porém gravado com uma condição. Eu tinha que construir de qualquer jeito. Além disso, teria que gerar 20 empregos, pelo menos, dentro desses dois anos. Se conseguisse, o prefeito me isentaria de IPTU dentro de cinco anos. Fiquei entre a cruz e a espada. Então, a ação da administração da cidade teve peso significativo, sim. Não fosse o desafio, talvez eu não tivesse ousado. Era pegar ou largar. Peguei, e graças a Deus as coisas funcionaram.



CIDADÃO: Quais são as condições atuais desse mercado?

JAIRO: Como todos os mercados, o setor de móveis tem suas oscilações. Aliás, é um setor meio sazonal. Não está fácil, mas o mercado existe para quem inova, corre atrás, não pára no tempo. Por exemplo: na semana passada, participei de um grande congresso de recursos humanos em São Paulo, onde estavam grandes empresários, como o presidente da Sadia e outros. O que eu fui fazer num congresso de RH? Fui buscar alternativas, conhecer as tendências de mercado. A gente ter que ter perspectivas de futuro. Superar os limites. Nossa filosofia de vida e de empresa é: “não querer ser nem o maior, nem o melhor, e sim fazer o nosso melhor”. Isso porque, quando você se propõe a fazer o seu melhor, você luta a cada dia, tem que se superar, não há limites. Se a proposta é ser o maior, no dia em que você conseguir, você se acomoda. Fazer o seu melhor é diferente, é uma questão de superação. Na verdade, o seu “melhor” não existe. Na Aço Nobre, está escrito bem grande: “Supere-se a cada dia, e terá um lugar ao sol”. Isso serve para a empresa e pra nós como pessoas. Também sou adepto de não copiar nada, é preciso criar, inventar o novo. Quando vou a uma feira não é pra copiar coisa alguma: vou para observar tendências.



CIDADÃO: E como é a concorrência nesse setor?

JAIRO: Para que se tenha uma idéia, na área de móveis de aço, as maiores fábricas, se não quebraram, estão em fase decadencial. Nossa empresa não sente tanto os efeitos das dificuldades de mercado porque não ficamos comparando preços para estabelecer o preço final do produto. Eu faço o produto, acredito nele, e estabeleço o preço. Não aceito a tese de que o preço vem de fora para dentro. Isso, de certa forma, até faz sentido, mas a verdade é que, quando o consumidor entra numa loja e a esposa se apaixona por determinado produto que custa 50 ou 100 reais a mais, não será por causa dessa diferença que ele deixará de comprar.



CIDADÃO: A Aço Nobre exporta?

JAIRO: Sim. Hoje um pouco menos, por conta da variação cambial. Posso dizer que nesse momento a gente está apenas se mantendo no mercado externo, mas chegamos a exportar para 26 países. Se o dólar estivesse no patamar de 1,8 ou 2,0/1, estaríamos no mínimo com 40% de exportação.



CIDADÃO: A gente nota que sua filha Joyce trabalha na empresa. Faz parte de sua filosofia o trabalho em regime familiar?

JAIRO: A Mônica só não trabalha na empresa porque está fazendo faculdade de Direito, mas ela faz estágio com uma pessoa que presta serviços para a Aço Nobre. Então, quero crer que mais cedo ou mais tarde ela estará também na empresa.



CIDADÃO: E a Joyce, como tem se saído como diretora comercial?

JAIRO: Sou extremamente profissional na relação com ela. Acho que não se pode misturar as coisas. Às vezes, nós batemos de frente. Além de ser inteligente, ela é questionadora, e isso é muito positivo. Tivemos problemas no início, até que ela entendeu que ali a relação não é de pai e filha. Hoje, ela trabalha como qualquer outro, tem que cumprir horários e tal. Tento prepará-la para ser minha sucessora na empresa, porém ela sabe que isso só acontecerá se efetivamente tiver capacidade para isso. Ela começou no arquivo, e quero que passe pelo setor financeiro, enfim, por todos os setores. Quero que esteja preparada de fato. Empresa familiar é problemática. Não quero cabide de emprego na Aço Nobre.



CIDADÃO: E o cidadão Jairo, como é? Sabemos que você apóia alguns projetos de cunho social, como o “Sonhadores”, de Fernandópolis. Explique esse novo projeto, o “Vida sim, droga não”?

JAIRO: É um movimento que fundamos no final do ano passado, preocupados com a questão social em relação às drogas, e a idéia é fazer um trabalho de conscientização, de caráter preventivo. Li em uma reportagem que apenas 25% dos dependentes clínicos, mesmo que façam tratamento, conseguem se recuperar totalmente. A omissão é imperdoável, a sociedade não pode mais virar as costas para as suas mazelas. Hoje, posso garantir: eu me preocupo muito mais com o “ser” do que com o “ter”, porque este passa. Deus me deu grandes privilégios na vida, no aspecto material. Houve tempo – e a gente tem que ser humilde para admitir isso – eu perdi um pouco o foco do mundo, visava mais o meu bem-estar, a minha felicidade. E na realidade, a felicidade da gente consiste em fazer os outros felizes. Assim, quando você faz uma obra social – independentemente de empresa, de marketing – é que você se aproxima da felicidade e se sente completo.