Suzi, na eterna luta pelas crianças

20 de Agosto de 2025

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Suzi, na eterna luta pelas crianças
Suzi Ferrarezi é uma das fundadoras da Associação Assistencial Nosso Lar, que a cidade de Fernandópolis se acostumou a chamar de “Orfanato”. Agora, Suzi, que retornou à presidência com o integral apoio do marido Claudemir, tenta injetar força nova na instituição, cujos problemas crônicos de manutenção financeira persistem, malgrado a boa vontade demonstrada a todo instante pela comunidade fernandopolense. A instituição convive há 12 anos com o drama das crianças carentes – por abandono, desleixo paterno ou mesmo por força da miséria, esse flagelo que insiste em assolar o povo brasileiro, mesmo no século XXI. Os filhos – Rodrigo, de 15, e Fernando, de 14 – compreendem a luta da mãe e a incentivam a seguir em frente. Assim, essa brasileira de alma sensível e de fibra herdada da mãe Alice hasteia agora uma nova bandeira: a da construção da sede própria.

CIDADÃO: Como vai sua gestão à frente da instituição?
SUZI: Focamos na continuação do trabalho que foi muito bem desenvolvido pela Bete Viana, que ficou neste cargo por nove anos. O nosso trabalho é baseado no bem-estar das crianças, o que queremos é melhorar a auto-estima e a condição de vida delas. Isso sempre com a participação da sociedade que é muito ativa. Sempre que precisamos temos o apoio de todos os setores. Quando precisamos de médicos, dentistas, psicólogos nós sempre temos apoio. Os colaboradores mensais também nos ajudam muito. Não podemos esquecer dos clubes de serviço, maçonarias, igrejas e do leilão de gado e jantar dançante, que são eventos anuais que nos ajudam a pagar as despesas mensais que chegam a R$12 mil aproximadamente. A verdade é que recebemos ajuda de muitas pessoas. Fernandópolis é uma cidade solidária.

CIDADÃO: Hoje (quinta-feira, dia 14) um grupo está desenvolvendo um trabalho aqui. Sobre o que é?
SUZI: São alunos do curso de enfermagem da FEF, que vieram aqui para explicar às crianças sobre sexualidade e tirar algumas dúvidas. Assim como esse grupo, recebemos várias visitas pedagógicas, que apóiam e ajudam de acordo com as nossas necessidades. Abrimos a casa para esse tipo de trabalho também.

CIDADÃO: Qual é o maior desafio de sua gestão?
SUZI: O maior desafio é conseguir uma sede própria para o orfanato. Esse é o nosso maior objetivo neste momento.

CIDADÃO: A cidade foi abalada esta semana com a notícia de uma mãe que deixou sua filha sozinha em casa e foi viajar. A criança está no orfanato. Em quais condições ela se encontra?
SUZI: Ela está sob nossos cuidados e está bem, porém muito assustada como o assédio em torno do caso. Ela é bem esperta e sabe exatamente o que está acontecendo. Eu compreendo que a sociedade esteja abalada, mas não podemos nos esquecer que temos aqui 35 casos dramáticos como este vivido por G., com desfechos muito tristes. Hoje (quinta-feira, dia 14), a irmãzinha dela também veio para cá. Estão as duas aqui. A casa está cheia, com todas as vagas preenchidas e todas essas crianças só estão aqui porque estavam em situação de risco e maus tratos.

CIDADÃO: Então ela compreende o que está acontecendo?
SUZI: Perfeitamente, ela é muito esperta, muito viva, e está incomodada com as notícias. Ela quer retomar sua vida, ter uma rotina, como ir à escola, por exemplo. Ela não pode sair no portão que as pessoas querem conversar com ela, tirar fotos. Várias emissoras de televisão e rádio vieram até aqui para tentar falar com ela. Nós proibimos porque isso está incomodando a criança. Ela não pode nem assistir televisão porque o caso está em todos os canais. Esses dias, nós só estamos colocando filmes para eles assistirem. O que ela mais quer é voltar para a escola, rever os amigos. Para se ter uma idéia, ela não quer falar sobre o assunto.

CIDADÃO: Como vocês fazem para conviver e lidar com esses dramas?
SUZI: Para conviver com os dramas precisamos ser fortes e ter vontade de trabalhar com as crianças. Precisamos ter amor, carinho e dedicação para dar a eles. Além de ter vontade de mudar a situação em que eles se encontram. Mostrar também que podemos viver melhor. Atualmente os valores da humanidade estão distorcidos. Nós não podemos nos esquecer que as crianças serão adultos amanhã e o mais grave é que repetirão o que recebem hoje. Precisamos dar exemplos, precisamos ser os exemplos. As pessoas precisam ter consciência principalmente na hora de gerar um filho, saber das conseqüências e das responsabilidades.

CIDADÃO: As adoções na região aumentaram ou não nos últimos tempos? Por quê?
SUZI: Estão aumentando sim. Aqui em Fernandópolis nós contamos com o trabalho primoroso do juiz da Infância e Juventude Dr. Evandro Pelarin e do Promotor de Justiça Denis Henrique da Silva que estão dando andamento aos processos. Isso tem ajudado muito. Agora podemos contar também, com uma listagem nacional de crianças que poderão preencher os pedidos de pais que querem adotar em todo Brasil.

CIDADÃO: É muito demorado adotar uma criança?
SUZI: Não é que seja tão demorado assim como algumas pessoas pensam, mas existe um processo, onde vários pontos são analisados por profissionais qualificados, isso leva tempo. . Uma adoção precisa ser muito bem refletida.

CIDADÃO: Existem alguns casos onde os pais devolvem os filhos que adotam?
SUZI: Infelizmente existe sim, não é comum, mas existe. É por isso que as crianças passam por um período de adaptação. As pessoas que buscam a adoção sempre querem os bebês, mas os “maiores” estão aqui, prontos para serem adotados e ganhar uma família nova que lhe dê carinho, atenção e muito amor. As adoções servem para fazer pais e filhos felizes. O que se precisa levar em consideração é que as crianças possuem personalidade própria e vontades. Isso precisa ser respeitado pela família que pretende adotar uma criança.

CIDADÃO: Existem no orfanato crianças de todas as idades. Algumas já querem sair, fazer algumas atividades fora daqui. Como vocês lidam com isso?
SUZI: Nós entendemos que essas crianças precisam sair da instituição e se preparar para a vida. Dentro do possível tentamos atender alguns pedidos “sonhos”, que às vezes são até coisas simples. Os mais velhos são mais vaidosos, querem cuidar da saúde, do corpo, então conseguimos colocá-los em uma academia. Outra gostaria de freqüentar aulas de inglês, então, conseguimos matricular em uma escola. Tudo para que tenham uma vida mais feliz, normal. Quando querem sair, levamos para passear no shopping ou tomar um sorvete. Eles aprendem a pagar, receber o troco. São coisas simples, mas que para eles faz toda a diferença. Eles se sentem capazes. Um dia vão precisar de um emprego e formar uma família, precisam estar preparados para isso. Aqui nós procuramos oferecer um suporte tanto material quanto emocional.
Temos também, famílias cadastradas, que as vezes levam algumas crianças para passear.