O Espaço Fernandopolense de Estudos Psicanalíticos (EFESP), que tem no médico psicanalista João de Lima Stefanini uma de suas figuras de proa, promoverá na próxima sexta-feira, 8 de agosto, palestra cujo tema é: Novas configurações familiares: o espaço da criança e do adolescente. A palestrante será a médica psiquiatra infanto-juvenil Maria Aparecida Quesado Nicoletti, coordenadora da Comissão de Atendimento de Família e casal do Centro de Atendimento Psicanalítico da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Nesta entrevista, Stefanini, que é membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise, explica as razões que levaram o EFESP a eleger a questão família como tema crucial do trabalho que a entidade desenvolve em Fernandópolis.
CIDADÃO: Afinal, qual é a importância da família?
STEFANINI: Para se ter uma idéia, vamos pensar no ser humano sem uma referência, ou seja, quem sou eu; aonde moro: a quem pertenço; sou filho de quem; qual é a minha origem. Assim podemos ver a necessidade que as pessoas têm de se localizar tanto na sociedade como no ambiente em que vivem. Pois, do contrário, elas correm o risco de ficar sem identidade.
CIDADÃO: Como é possível compreender a influência da família?
STEFANINI: Penso não ser muito fácil definir ou conceituar o que é uma família. Se nós consultarmos o dicionário, veremos inúmeras maneiras de definir o conceito de família. Sendo assim, acho oportuno lançar mão de um olhar psicanalítico sobre o conceito de desamparo, pois esse conceito é de relevante importância na obra de Freud tanto numa visão teórica como clínica. Quero também aproveitar para pensar em um outro autor muito conceituado dentro da teoria psicanalítica, ou seja, Donald Winnicott, que disse o seguinte: Não existe essa coisa de um bebê sem uma mãe. Seguindo esse raciocínio, podemos pensar que não existe mãe sem pai e estendendo um pouco mais podemos dizer que não existe bebê sem mãe, nem bebê sem pai e sem família. Portanto, voltando ao conceito de desamparo, vemos que o ser humano ao nascer encontra-se em profundo desamparo e, portanto há necessidade de que ele pertença a uma família, que seja suficiente e competente, para que essa situação seja amenizada e o novo ser possa viver com melhores condições de lidar com o sentimento de desamparo. Isso é possível desde que ele consiga, com a ajuda da família, formar uma personalidade mais estruturada, organizada e fortalecida.
CIDADÃO: O que significam as novas configurações familiares?
STEFANINI: Realmente esse é um assunto bastante atual, o interesse por esse tema, em relação ao livro de Rudinesco, surgiu da constatação feita por diversos autores de profundas transformações da família na contemporaneidade. Entre essas mudanças se destacam as relacionadas às condições de procriação e à composição das famílias; à freqüente recomposição dos casais e à passagem da soberania paterna para a materna. Sendo assim, as novas configurações familiares influenciaram, de maneira acentuada, nas grandes mudanças que estamos assistindo nos comportamentos da sociedade atual, como por exemplo: um hedonismo desenfreado que é alimentado por um narcisismo acentuado, ou seja, um significativo número de pessoas com comportamento excessivamente egoísta, sempre em busca do prazer imediato, ambição desmedida pelo poder, necessidade de ficar em evidência e o interesse muito aumentado pelo dinheiro e pela beleza - isso tudo levando a uma diminuição dos valores afetivos nas relações humanas, nas dificuldades das pessoas se aproximarem e se ligarem afetivamente. Observa-se que nas convivências atuais existe pouco cuidado de uma pessoa pela outra. Há um predomínio da individualidade levando os indivíduos a se isolarem no mundo virtual através dos computadores e outras parafernálias eletrônicas decorrentes do grande desenvolvimento tecnológico. Agora, partindo da premissa de que sem um relacionamento afetivo adequado ocorrem sérios prejuízos para desenvolvimento da personalidade e do caráter, estamos assistindo, nos dias atuais, um grande aumento da criminalidade, da violência, do uso de drogas como o álcool e outras substâncias ilícitas, bem como o aumento das chamadas doenças ligadas a transtornos do afeto como as depressões, fobias, pânicos etc.
CIDADÃO: Dentro desse quadro alarmante que o sr. apresentou, o que pode ser feito? Há meios de resgatar valores como a generosidade e o sentimento coletivista?
STEFANINI: Vou citar um pequeno exemplo: Stalin, durante o período em que ocupou o poder na Rússia, decidiu que as famílias seriam desfeitas e que o Estado cuidaria das pessoas. Isso causou um verdadeiro desastre. Foi então que o ditador reconsiderou e ordenou: Que voltem as famílias. Assim, podemos deduzir que um bebê ao nascer necessita de uma convivência muito especial com a mãe e as pessoas mais próximas como pai, avós, tios e outras pessoas que participam da vida daquele bebê. Desse modo processos como incorporação, projeção, introjeção e identificação fazem o bebê se organizar como ser humano. Atualmente está acontecendo que, devido a situações políticas, econômicas e sociais, a mãe passou a trabalhar fora de casa, o pai também e o bebê acabou ficando sem o referencial e o vínculo necessários para o desenvolvimento.Isso que estou dizendo, na verdade, é bastante sucinto e simples. Quero então aproveitar para convidar as pessoas interessadas nesse tema tão importante, para a vida das crianças e adolescentes, a assistirem a palestra da Dra. Maria Aparecida Quesado Nicoletti com seguinte titulo: Novas Configurações Familiares, o espaço da criança e do adolescente, que será realizada no dia 08/08/2008 as 20:00h no salão de conferências da UNIMED de Fernandópolis. Um resumo desta palestra enviado pela autora é o seguinte: O tempo da adolescência tem especificidades biológicas, psicológicas e sociais que causam impacto, ao mesmo tempo, no jovem em formação e na sua família. As transformações do adolescer, no entanto, só são compreensíveis ao olhar de um observador atento, que sabe onde deve olhar, o que precisa enxergar naquilo que olha e como deve agir frente as descoberta que faz sobre a criança em transformação. Nessa apresentação serão abordados, de maneira prática e sob o vértice da psicanálise de família, os principais aspectos da teia de vínculos familiares, sua dinâmica e suas contradições, no tempo do adolescer.