Médica da Santa Casa divulga documento sobre o “caso Jaciara”

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

Médica da Santa Casa divulga documento sobre o “caso Jaciara”
A médica Morisa Martins Leão Carvalho divulgou esta semana uma “nota de esclarecimento aos usuários da Santa Casa de Fernandópolis da morte do bebê de Jaciara”. Abaixo, segue o inteiro teor do esclarecimento:

“Médicos fazem um juramento para salvar vidas, porém em certas situações nem sempre é possível. Infelizmente, como no caso de Jaciara, temos que nos conformar com as fatalidades que cercam a arte de exercer a medicina.

A gestante foi atendida por mim, queixando-se de dor no baixo ventre, sintoma comum nas últimas semanas de gestação. No exame, não apresentava contrações nem dilatação, nem perda de líquido; sua pressão estava controlada e os batimentos fetais, normais.

Durante a consulta foi medicada com o remédio que a mesma deveria ter tomado, porém não havia feito. Ficou em observação por duas horas e preferiu aguardar o início de trabalho de parto em casa, pois morava perto do hospital. Naquele momento ela estava fora de trabalho de parto e não havia indicação para ficar internada.

Recebeu orientação para retornar ao hospital quando sentisse duas contrações em 10 minutos, ou perdesse líquido ou sangrasse. A mesma entendeu e foi liberada. As auxiliares Maria Rita e Roseli estavam presentes e acompanharam todo o atendimento.

A gestante havia realizado o pré-natal com outra médica, e em seu cartão pré-natal não havia dados e nem exames complementares alterados para que a mesma fosse admitida para internação ou cesariana.

Jaciara entrou em início de trabalho de parto 12 horas após a minha consulta, no plantão de outro médico no dia seguinte, onde foi constatado através da ultra-sonografia o óbito fetal.

Demos toda a assistência à mesma, inclusive realizando a cesariana a pedido da família, pois nesses casos deve-se aguardar a expulsão do feto pelo parto normal, como é indicado pela literatura médica.

Após a cesariana foi verificado que o feto apresentava peso inferior à idade da gravidez, 2490 gramas, compatível com peso de fetos de 8 meses de gestação, além de mecônio espesso. A placenta era fina e com áreas de calcificação, o que não ocorre em uma placenta normal.

Pelas características suspeitamos de insuficiência útero placentária crônica, hipóxia fetal e crescimento intra-uterino restrito, que ocorrem em pacientes com patologias prévias, usuárias de álcool, fumantes etc. Por isso mandamos a placenta e o feto para a necropsia, para sabermos a causa do óbito.

Tal diagnóstico poderia ter sido feito com a realização da ultra-sonografia com Doppler, seriada a cada duas semanas durante o pré-natal. O que não foi feito durante as consultas ambulatoriais.

Minha conduta foi considerada adequada pelos médicos do departamento de ginecologia e obstetrícia da Santa Casa, pois a paciente não estava em trabalho de parto e os batimentos cardíacos do feto estavam normais.

O Ministério da Saúde preconiza o incentivo ao parto normal no pré-natal e na internação hospitalar, pois a paciente tem uma recuperação mais rápida e menos riscos no pós-parto. A indicação de cesariana deve ser feita quando há risco de vida de mãe ou feto e no caso de cesarianas anteriores. Porém não era o quadro de Jaciara no momento do meu exame.

A Santa Casa deu toda assistência à mãe, e os médicos também, sendo equivocadas certas informações que a imprensa televisiva está divulgando. Em nenhum momento fui procurada para relatar o quadro de Jaciara no ato do meu atendimento. Estou tendo hoje a oportunidade de esclarecer o fato como realmente aconteceu.

Quero deixar claro que a conduta obstétrica é baseada nos protocolos da Unifesp e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, que são a base da rotina do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Santa Casa.

Não podemos esquecer que temos a Faculdade de Medicina que é um orgulho para o corpo clínico da Santa Casa e para seus funcionários.

Diante das mudanças visíveis, que estão sendo feitas, através de parcerias com voluntários, colaboradores, Unimed, prefeituras, Fef e Unicastelo, dentre outros, em breve seremos um hospital-escola modelo para um atendimento humanizado e padrão, com profissionais gabaritados e equipamentos de ponta, para darmos o atendimento que os pacientes merecem.

Quem sabe no futuro próximo a imprensa sensacionalista não divulgue somente as fatalidades, mas também as vidas que são salvas na Santa Casa de Fernandópolis.

Obrigado pela oportunidade que a imprensa local me deu, para esclarecer os fatos e continuar exercendo minha profissão com dignidade, tendo orgulho de ser um profissional da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis. Fernandópolis, 14 de julho de 2008. Dra. Morisa Martins Leão Carvalho – ginecologista e obstetra”.