A médica Morisa Martins Leão Carvalho divulgou esta semana uma nota de esclarecimento aos usuários da Santa Casa de Fernandópolis da morte do bebê de Jaciara. Abaixo, segue o inteiro teor do esclarecimento:
Médicos fazem um juramento para salvar vidas, porém em certas situações nem sempre é possível. Infelizmente, como no caso de Jaciara, temos que nos conformar com as fatalidades que cercam a arte de exercer a medicina.
A gestante foi atendida por mim, queixando-se de dor no baixo ventre, sintoma comum nas últimas semanas de gestação. No exame, não apresentava contrações nem dilatação, nem perda de líquido; sua pressão estava controlada e os batimentos fetais, normais.
Durante a consulta foi medicada com o remédio que a mesma deveria ter tomado, porém não havia feito. Ficou em observação por duas horas e preferiu aguardar o início de trabalho de parto em casa, pois morava perto do hospital. Naquele momento ela estava fora de trabalho de parto e não havia indicação para ficar internada.
Recebeu orientação para retornar ao hospital quando sentisse duas contrações em 10 minutos, ou perdesse líquido ou sangrasse. A mesma entendeu e foi liberada. As auxiliares Maria Rita e Roseli estavam presentes e acompanharam todo o atendimento.
A gestante havia realizado o pré-natal com outra médica, e em seu cartão pré-natal não havia dados e nem exames complementares alterados para que a mesma fosse admitida para internação ou cesariana.
Jaciara entrou em início de trabalho de parto 12 horas após a minha consulta, no plantão de outro médico no dia seguinte, onde foi constatado através da ultra-sonografia o óbito fetal.
Demos toda a assistência à mesma, inclusive realizando a cesariana a pedido da família, pois nesses casos deve-se aguardar a expulsão do feto pelo parto normal, como é indicado pela literatura médica.
Após a cesariana foi verificado que o feto apresentava peso inferior à idade da gravidez, 2490 gramas, compatível com peso de fetos de 8 meses de gestação, além de mecônio espesso. A placenta era fina e com áreas de calcificação, o que não ocorre em uma placenta normal.
Pelas características suspeitamos de insuficiência útero placentária crônica, hipóxia fetal e crescimento intra-uterino restrito, que ocorrem em pacientes com patologias prévias, usuárias de álcool, fumantes etc. Por isso mandamos a placenta e o feto para a necropsia, para sabermos a causa do óbito.
Tal diagnóstico poderia ter sido feito com a realização da ultra-sonografia com Doppler, seriada a cada duas semanas durante o pré-natal. O que não foi feito durante as consultas ambulatoriais.
Minha conduta foi considerada adequada pelos médicos do departamento de ginecologia e obstetrícia da Santa Casa, pois a paciente não estava em trabalho de parto e os batimentos cardíacos do feto estavam normais.
O Ministério da Saúde preconiza o incentivo ao parto normal no pré-natal e na internação hospitalar, pois a paciente tem uma recuperação mais rápida e menos riscos no pós-parto. A indicação de cesariana deve ser feita quando há risco de vida de mãe ou feto e no caso de cesarianas anteriores. Porém não era o quadro de Jaciara no momento do meu exame.
A Santa Casa deu toda assistência à mãe, e os médicos também, sendo equivocadas certas informações que a imprensa televisiva está divulgando. Em nenhum momento fui procurada para relatar o quadro de Jaciara no ato do meu atendimento. Estou tendo hoje a oportunidade de esclarecer o fato como realmente aconteceu.
Quero deixar claro que a conduta obstétrica é baseada nos protocolos da Unifesp e da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, que são a base da rotina do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Santa Casa.
Não podemos esquecer que temos a Faculdade de Medicina que é um orgulho para o corpo clínico da Santa Casa e para seus funcionários.
Diante das mudanças visíveis, que estão sendo feitas, através de parcerias com voluntários, colaboradores, Unimed, prefeituras, Fef e Unicastelo, dentre outros, em breve seremos um hospital-escola modelo para um atendimento humanizado e padrão, com profissionais gabaritados e equipamentos de ponta, para darmos o atendimento que os pacientes merecem.
Quem sabe no futuro próximo a imprensa sensacionalista não divulgue somente as fatalidades, mas também as vidas que são salvas na Santa Casa de Fernandópolis.
Obrigado pela oportunidade que a imprensa local me deu, para esclarecer os fatos e continuar exercendo minha profissão com dignidade, tendo orgulho de ser um profissional da Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis. Fernandópolis, 14 de julho de 2008. Dra. Morisa Martins Leão Carvalho ginecologista e obstetra.