A amônia é um gás incolor e de odor picante. Quando respirada repentinamente, produz lacrimação e quando inalada em grandes quantidades pode ser sufocante e de extrema irritação aos olhos, garganta e trato respiratório. Dependendo do tempo de exposição, podem ocorrer efeitos que vão de suaves irritações a severas lesões no corpo, devido a sua ação cáustica alcalina. A exposição a altas concentrações por um período de 30 minutos pode ser fatal.
Há 6 mil quilos de amônia estocados no Frigorífico Mozaquatro, que virou IFC, que não consegue se tornar Frigoestrela. É o que garantem três funcionários que, mesmo sem receber os salários, continuam trabalhando na manutenção dos tanques que guardam o gás. A amônia era utilizada para resfriar as câmaras frias. Como não foi retirada, ela está criando pressão na tubulação, o que pode ocasionar vazamento nas válvulas e até mesmo o rompimento de algum cano antigo, afirmou o funcionário Zumiro Zaqueta de Abreu, que está preocupado com a situação.
Zumiro tem severas razões para temer uma tragédia: Na manhã de um domingo de 2006 houve vazamento de aproximadamente 500 quilos de amônia. Mais de 20 pessoas foram parar no hospital. Os passarinhos que sobrevoaram a área do vazamento caíram mortos. As árvores e vegetação próxima secaram. Foi horrível. Fico imaginado o que pode acontecer se esses 6 mil quilos vazarem. Com certeza muitas pessoas dos bairros Paulistano e Santa Helena e as que estiverem passando por aqui poderão morrer, desabafou.
Dorival Barbosa Leopoldino é um dos funcionários que cuida da manutenção dos tanques. Só não abandonamos nossos postos de trabalho porque temos consciência de que se fizermos isso, muitas pessoas poderão perder a vida. O fornecimento de água da minha casa está cortado, o serviço de fornecimento de energia elétrica também vai ser cortado, mas mesmo assim, não posso procurar outro emprego. Tenho que cuidar da saúde dos moradores da cidade, disse Dorival.
Temos que fazer circular a amônia pela tubulação para evitar maiores problemas, mas quando mexemos nela, ela cria mais pressão. A amônia está em estado líquido e depois se torna um gás volátil. Posso dizer que, hoje, Fernandópolis é uma bomba-relógio, afirmou Zumiro.
Os três funcionários estão trabalhando sem folga, na proporção de 12 por 24 horas. Já estão exaustos. Eles estudam a propositura de uma ação judicial para solucionar o problema. Éramos quatro. Com a saída de um colega, que foi trabalhar de pedreiro, a coisa complicou, disse Dorival.
Sem salário e sem oportunidade de emprego
Os funcionários do antigo Frigorífico Mozaquatro, que completaram em julho três meses sem receber o salário, se reuniram na manhã do dia 9, quarta-feira, com o intuito de contratarem um novo advogado para cuidar da causa trabalhista que envolve os mais de 590 trabalhadores da empresa. O motivo, segundo os manifestantes, é que o advogado do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Votuporanga não teria proposto a ação requerendo a baixa na carteira de trabalho. Quando vamos procurar outro emprego não conseguimos a vaga porque nossas carteiras de trabalho ainda estão em aberto, disse um dos funcionários.
Antonio Donizete do Nascimento afirma estar decepcionado com a atuação do sindicato: Por que o presidente do sindicato não vem falar com os trabalhadores? Sempre pagamos a contribuição sindical corretamente e agora que precisamos deles, pisam na bola, desabafou.
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Casal de trabalhadores está desesperado
Sidnei Rosati e Osmarina Aparecida Beijo trabalhavam, respectivamente, nos departamentos de abate e higienização do frigorífico. Com dois filhos, Joyce de 11 anos e David, de apenas 5, o casal diz estar sobrevivendo da ajuda de amigos, familiares e vizinhos.
Estamos com as contas todas atrasadas. A luz só não foi cortada na semana passada porque pegamos emprestado com um amigo R$ 100,00 para pagar a conta, mas agora não sabemos nem como vamos saldar a dívida. Não temos nem leite para dar para nossos filhos. Fui procurar emprego, consegui uma vaga na empresa Minerva, aqui de Fernandópolis, só que não pude ser contratada porque ainda não deram baixa na minha carteira, disse Osmarina com lágrimas nos olhos.
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Sem dinheiro para a comida
Célia Solange Alves, que trabalhava no departamento de higienização do frigorífico, recebia mensalmente R$ 586,00 e com isso sustentava seus cinco filhos e pagava a prestação do lote onde construiu sua casinha.
Seu marido trabalha como servente de pedreiro e recebe R$ 25,00 por dia trabalhado (não é sempre que ele consegue trabalho). Meu filho quer leite de manhã e não tem. É muito humilhante. Tenho que ficar pedindo cesta básica. Ontem não tinha nada para fazer no jantar (emoção)... Na segunda-feira fui cedinho ao banco para sacar os R$ 76,00 que o IFC deposita mensalmente referente ao acordo, mas o banco já havia pegado o dinheiro por causa dos juros que estou devendo. Fiquei arrasada, pois com este dinheiro ia comprar comida. Ainda bem que as crianças estavam comendo na escola, mas e agora nas férias?, disse Célia, muito emocionada.