Robertão, técnico do Fefecê, pede apoio para a próxima fase

20 de Agosto de 2025

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Robertão, técnico do Fefecê, pede apoio para a próxima fase
Mesmo com todas as dificuldades estruturais vividas no primeiro semestre de 2008, o Fernandópolis Futebol Clube está virtualmente classificado para a próxima fase do campeonato paulista da 2ª Divisão – só uma improvável combinação de resultados eliminaria a “Águia”.

Fazia nove anos que o clube não passava à segunda fase do campeonato. Boa parte dos méritos cabe ao ex-jogador Roberto de Jesus Assis, o Robertão, ex-zagueiro do próprio Fefecê, onde atuou em 1993.

Baiano de Salvador, 39 anos, Robertão é hoje fernandopolense de coração, já que foi aqui que ele conheceu e se casou com Gleimes, mãe de seus filhos Roberto Jr. e Glen Luca. O técnico está cursando Educação Física na FEF.

Depois de viver a realidade dos peregrinos da bola – jogou, entre outros times, no Botafogo de Ribeirão Preto, Mirassol, União Barbarense, Nacional, Tubarão, Joinvile, Figueirense, Paraná Clube, Coritiba e Santa Cruz de Recife, onde encerrou a carreira – ele estreou como técnico no início do ano, à frente do Fefecê. De personalidade forte, amigo dos amigos, Robertão não é homem de meias palavras. Quando se faz necessário, ele “chega junto”, como fazia nos seus tempos de zagueiro.

CIDADÃO: Mesmo com tantos problemas, o Fefecê está a um ponto da classificação. Como você avalia a performance do time até agora, do ponto de vista futebolístico?
ROBERTÃO: Dentro de campo, foi uma grata surpresa. Fizemos um apanhado de jogadores da região, juntando-os aos profissionais e conseguimos montar um time, dar um padrão e a confiança necessários para que eles mostrassem resultados dentro de campo. Foi um desafio, e até este momento temos conseguido bastante proveito.

CIDADÃO: Tem-se notado que essa meninada, de certa forma, adotou a sua filosofia de acreditar até o último instante. O Fefecê atual é muito aguerrido. O time tem a sua cara?
ROBERTÃO: Com certeza. As pessoas que me conhecem sabem da minha história de vida, das dificuldades que passei. Inclusive, quando estive aqui no Fernandópolis como jogador, passei por muitas privações. Porém, sempre acreditei muito em mim, achava que tinha condição de galgar alguma coisa melhor e fui atrás do meu objetivo. É o que tento passar diariamente para esses garotos, mostrar-lhes que têm possibilidades de conquistar muitas coisas, basta que acreditem e acima de tudo trabalhem. Eles têm assimilado a mensagem e, com certeza, num breve espaço de tempo, veremos alguns desses jogadores em times de maior expressão.

CIDADÃO: Depois do batismo de fogo das primeiras rodadas, já se pode dizer que você é um treinador de futebol. É pior ficar no banco do que em campo? Sofre-se mais?
ROBERTÃO: Ser técnico é muito mais sofrido. Aquela linha ali (aponta para a marca no chão) é um espaço restrito, é totalmente diferente de estar dentro de campo. Lá, você “chacoalha” os companheiros, corre para ajudar, enfim, é complicado ficar do lado de fora. Estou ainda me adaptando, procurando assimilar essa limitação. Por outro lado, procuro ver o lado do jogador: sei das dificuldades que ele passa. Na verdade, ainda estou num momento de transição de jogador para treinador.

CIDADÃO: No último jogo, ouvi uma frase de um torcedor na arquibancada: “O Amaral é o Robertão dentro de campo, só que em miniatura”, referindo-se à garra do atual capitão do time e à evidente diferença de estatura. É isso mesmo?
ROBERTÃO: Exatamente. Amaral é um homem na acepção da palavra, um garoto que soube vislumbrar a possibilidade que tem de crescer na profissão. Antes do início do campeonato, o presidente Jesus Moreti já havia me falado bem dele. Amaral é um garoto que tem responsabilidade e bom futebol, além de muita disciplina tática. Fiz questão de dizer, na frente de todos os jogadores, que o Amaral é um atleta que quero levar para os times em que for trabalhar, porque hoje o técnico valoriza também as qualidades do jogador fora do campo. É preciso ter caráter e saber se respeitar. Amaral agrega esses fatores positivos.

CIDADÃO: “Capitão” é cargo de confiança?
ROBERTÃO: Sem dúvida. Quando você coloca a faixa de capitão no braço de um atleta, indiretamente você está pedindo que os demais procurem se espelhar nele. Não é simplesmente um pedaço de pano; é a demonstração de que ele tem a minha confiança, e sabe que a sua responsabilidade aumenta. Os outros jogadores fatalmente observarão isso – as qualidades daquele que foi escolhido. Eu nunca daria a braçadeira para um atleta só para agradar alguém.

CIDADÃO: A virtual classificação do time foi conseguida apenas com atletas abaixo da idade de 23 anos. Já para a segunda fase, que deverá ter um nível técnico mais elevado, o presidente Moreti quer fazer contratações de alguns atletas mais experientes. Já chegaram o centroavante Sinval e o lateral Felipe. O que você espera promover com os reforços?
ROBERTÃO: Temos a convicção de que para poder brigar pelo acesso, é preciso ter material humano de qualidade e atletas experientes. É fundamental ter no grupo alguns jogadores que possam passar experiências positivas para os meninos. Essa divisão é muito ingrata, na forma como é estruturada. Você pega um grupo de jogadores novatos, que ficam olhando um para a cara do outro sem nada para passar. Quando joguei nesta divisão, a idade era liberada. Eu tinha 22 anos e meu companheiro de zaga tinha 35. Então, eu olhava seu posicionamento, sua forma de antecipar, cortar caminhos – enfim, ele tinha algo para me passar, em termos de aprendizado. Era a vivência do futebol. Conseqüentemente, acho que temos que contar com jogadores acima dos 23 anos (o regulamento autoriza três atletas nessas condições na súmula do jogo) porque eles têm uma vivência maior.

CIDADÃO: Se o Fefecê vai bem dentro das quatro linhas do gramado, não se pode dizer o mesmo em relação ao aspecto financeiro, visto que, salvo as raras e honrosas exceções, tem faltado apoio e ajuda material da sociedade de Fernandópolis. Como você analisa essa questão?
ROBERTÃO: É muito triste vermos o Fernandópolis como está agora. Acompanho o time desde 1993. Antigamente, havia muitas placas de publicidade, a gente chegava até a trombar nas placas. Hoje, você vê no máximo oito patrocinadores, e a dificuldade para manter o time. Até aqui, todas as equipes que enfrentamos neste campeonato têm uma renda mensal, conforme eles próprios nos informaram, de R$ 25 a R$ 30 mil reais. Nossa folha de pagamento gira em torno de R$ 9 mil. Veja aí as dificuldades. Montamos esse time com jogadores das cidades da região – Macedônia, Mira Estrela, Ouroeste, Cardoso – e graças a Deus eles foram rápidos na assimilação, o que possibilitou formar um time competente o suficiente para manter o atual segundo lugar na chave, mas financeiramente, da forma que as coisas andam, fica difícil tocar o futebol. Antes do último jogo, os jogadores estavam preocupados se receberiam pagamento ou não, porque estavam passando algumas necessidades em suas casas. O jogador precisa ter a tranqüilidade de saber que há comida para seu filho, para seus pais. Alguns jogadores do Fefecê são arrimo de família. Temos que nos preocupar com essas coisas. A sociedade fernandopolense poderia se preocupar com isso e nos dar um voto de confiança. Tenho dito freqüentemente que ninguém aqui quer pegar dinheiro na mão. Se um empresário porventura quiser pagar os salários de um ou dois atletas para nos ajudar, pode fazê-lo diretamente ao atleta, se preferir. Ninguém pensa em lucrar com o Fefecê: o que queremos é apenas dar ao time a condição que merece. A última divisão paulista não é o lugar digno de um clube que foi duas vezes campeão paulista, em 1979 e em 1994. É triste saber que pessoas da comunidade, que têm recursos para nos ajudar, nos deram as costas.