Cresce o uso de táxis e vans; fãs do aperitivo vão a pé aos bares ou pedem carona à esposa
O dia 20 de junho de 2008, no futuro, provavelmente será lembrado menos pela adoção da Lei 11.705, chamada de Lei Seca, do que pela verdadeira revolução nos costumes que ela tem provocado.
Assustados com as quase 300 prisões efetuadas pela Polícia Rodoviária Federal apenas nos dez primeiros dias da vigência da lei, os brasileiros começam a mudar um comportamento que, durante décadas, admitiu o binômio álcool/automóvel.
As estatísticas comprovam: motoristas alcoolizados são a principal causa dos acidentes de trânsito, que matam e ferem milhares de pessoas e provocam prejuízos de milhões de reais a cada ano.
Apesar de pipocarem as críticas ao aspecto formal da lei, principalmente sob o ponto de vista da legitimidade (veja Box), já há indícios de diminuição no número de acidentes pelo país afora. Melhor: os brasileiros estão aprendendo a deixar o carro na garagem e irem a pé, de táxi ou de carona ao bar predileto.
Em Fernandópolis, um exemplo é M., 59, profissional liberal. Adepto da cervejinha pós-expediente, hoje ele deixa o automóvel do ano em casa e caminha vários quarteirões até o conhecido Bar 7, onde bebe cerveja em paz com a lei e a consciência. É até mais saudável, opina.
Já o bancário aposentado C., de 64 anos, prefere pedir carona à esposa. Findo o expediente no bar, basta um telefonema e lá está a diligente companheira para levar o marido para casa. E jovens moradores de repúblicas, que estudam nas faculdades de Fernandópolis, descobriram as vans de aluguel. É uma farra tremenda, fica até mais divertido, além de aumentar a segurança, opina Thiago, estudante de Direito de 19 anos.
Há os recalcitrantes, é claro. Como o comerciante A., de 64 anos, que avoca seu passado de motorista sem acidentes para justificar a conduta. A., entretanto, reconhece que um dia ele terá que mudar o comportamento. É duro transformar os costumes depois de certa idade. Mas que a lei é coisa de primeiro mundo, disso não resta dúvida, admite.