Jamanta era o terror dos policiais na década de 70. Quando se embriagava, ficava violento, furioso até. Dotado de imensa força física, nem dez soldados o seguravam. Quebrava bares, terminava com festas e bailes. Às vezes, era detido. Respondeu a vários processos.
A saga de valentia de Jamanta terminou no dia 15 de setembro de 1979. Nessa data, ele fez na Associação Anti-Alcoólica de Fernandópolis o voto de parar de beber. Dali em diante, ele passaria a ser o cidadão Dalberto Antonio, dedicado pai de família.
Mais de 28 anos se passaram, e Jamanta ou Dalberto, se preferirem mantém firme o voto de abstinência. Sequer chupo balas de rum, e não uso vinagre na comida, garante ele, que está com 63 anos. Sabe que o alcoolismo é uma doença incurável, e que a única solução é evitar a primeira dose.
O alcoólatra é diferente do indivíduo que toma umas cervejas no final de semana, e depois consegue ficar tempos sem beber. Ele é compulsivo, perde totalmente o controle, explica Jamanta, que desde o último dia 1º preside a AAA de Fernandópolis.
Fundada em 14 de março de 1972, a AAA é a mais antiga da região. Jamanta e seus companheiros se orgulham de ter ajudado a fundar AAAs em 19 cidades paulistas, duas de Minas Gerais (Iturama e União de Minas), uma no Mato Grosso do Sul (Paranaíba) e uma no Paraná (Goio-Erê).
Na noite de ontem, Jamanta e o deputado estadual Valdomiro Lopes tinham palestra marcada na cidade de Indiaporã. Atividades assim têm sido freqüentes na vida do antigo brigão, que descobriu um objetivo na vida desde que recuperou a sobriedade: ajudar ao próximo.
Muitos recuperandos são encaminhados pela Justiça à AAA, onde devem participar das reuniões e das atividades que são desenvolvidas. A entidade faz constantes visitas a residências de pessoas com problema de alcoolismo. Muitas vezes somos mal recebidos, mas não desistimos, assegura.
Catedrático no assunto, Jamanta explica que a Organização Mundial de Saúde OMS considera a doença incurável e de custo altíssimo para os governos. Dizem que a cachaça tem três espíritos: o do macaco, que fica fazendo graça, o do leão, que fica valente, e o do porco, que atenta todo mundo), diz o presidente.
Ele e seus companheiros de diretoria, como o diretor de patrimônio Orlando Mateus e o tesoureiro Oswaldo Silva, estão preocupados com a falta de um veículo para a entidade. A lataria do velho Passat que possuíam apodreceu. Precisamos de um automóvel para fazer as visitas e transportar os recuperandos, explica Jamanta.
A entidade promove reuniões aos sábados às 20h. Quem quiser conhecer o trabalho da AAA pode comparecer sem problemas. A sede fica na Rua Rio Grande do Sul nº 1046.