Sugui assume o desafio de ouvir a comunidade

20 de Agosto de 2025

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Sugui assume o desafio de ouvir a comunidade
Carlos Takeo Sugui, 51 anos, casado com Mari, pai de Gabriel e Carolina, advogado, comerciante, presidente da ACIF e agora Ouvidor Público do município de Fernandópolis. Decididamente, o paulistano Sugui incorporou Fernandópolis e vice-versa. Nesta entrevista exclusiva, o primeiro ocupante do cargo criado por uma lei de 2007 fala das suas expectativas sobre a nova função e do desafio que é implantar um novo órgão a partir do zero.

CIDADÃO: Você já assumiu o cargo?
SUGUI: Já saiu a portaria de designação, portanto estou exercendo o cargo de Ouvidor. Só não estou “instalado” ainda, porque estamos verificando a possibilidade de utilização de um espaço no prédio da prefeitura na Rua São Paulo. Mas isso ainda não está definido, porque a idéia da prefeita é que haja independência total da Ouvidoria – por ela a sede da Ouvidoria seria fora da prefeitura. Enfim, estamos estudando o que fazer.

CIDADÃO: Qual é a sensação de entrar para a história como o primeiro Ouvidor Público do município de Fernandópolis?
SUGUI: É uma honra e uma grata satisfação. Para mim, foi uma surpresa a indicação do meu nome, e fiquei orgulhoso disso. Puxa, ser o primeiro Ouvidor da história da cidade...

CIDADÃO: Quais serão exatamente as suas funções?
SUGUI: A Ouvidoria funciona da seguinte maneira: o Ouvidor não possui o poder de polícia, nem a função investigativa, além de não ter o dever de apontar ou punir pessoas ou órgãos. Sua função é ouvir a comunidade a aproximar seus pedidos, interesses ou indicações da administração. Agora, caberá à administração atender ou não, segundo seus critérios de avaliação. Cabe, sim, à Ouvidoria acompanhar o andar dos fatos a bem dos interesses comunitários.

CIDADÃO: É uma ponte entre a administração e a comunidade?
SUGUI: Exatamente. O Ouvidor leva a voz da população à administração.

CIDADÃO: O Ouvidor goza da autonomia de que dispõe, por exemplo, um ombudsman, que não pode ser demitido e tem liberdade para criticar e apontar erros? Você já conversou sobre isso com a prefeita?
SUGUI: Ainda não, mas de toda forma, a autonomia do Ouvidor está prevista em lei, ou seja, o Ouvidor só pode ser afastado ou demitido do cargo se houver alguma falta grave. Logicamente, o Ouvidor tem que ter a liberdade de fazer críticas ou reclamações – só que quando estas emanarem da comunidade. Simplesmente ele tem que fazer com que essas reclamações cheguem ao órgão ou departamento da administração, quando não ao próprio prefeito. Outra função específica é acompanhar a solução que será dada ao determinado problema. O Ouvidor não investiga, não tem uma Corregedoria – a corregedoria, no caso, é o Ministério Público. Na história dos ouvidores, verifica-se que existia um delator que passava informações ao rei. A coisa funcionava assim. Na Ouvidoria da prefeitura de São Paulo, a idéia era compilar as denúncias feitas contra os próprios órgãos da administração. Só que aí extrapola a noção de ouvidoria, porque eles tinham poderes até de realizar oitivas etc.

CIDADÃO: E do ponto de vista político, das inter-relações da sociedade? Há algumas entidades que reclamam de que estaria acontecendo um processo de clausura dentro da administração atual. Você pretende fazer essa ligação entre as aspirações das entidades e a administração pública?
SUGUI: Sem dúvida. A meu ver, isso ficará até mais fácil porque em nenhuma das entidades existem barreiras. Então, acredito que se houver alguma divergência de opinião entre as entidades e a administração, a Ouvidoria irá mediá-las. Só que mediar não significa arbitrar. Significa, isso sim, colocar os problemas na mesa e tentar conduzir as partes a uma solução que seja do interesse de todos.

CIDADÃO: E quem é que vai ouvir o Ouvidor, dentro da administração?
SUGUI: Serão os órgãos da própria administração e a própria prefeita, mesmo, que utilizará a Ouvidoria para saber quais são os problemas que afligem a população em geral.

CIDADÃO: Vocês já definiram como funcionarão esses contatos? Haverá uma reunião semanal de trabalho?
SUGUI: Não, como disse nós estamos instalando a Ouvidoria, e começar do zero é um tanto quanto complicado. Não existe ainda nenhuma norma, nenhum formulário para ser preenchido. Então, estou usando o tempo para criar formulários, estabelecer critérios e métodos de trabalho. Assim, se você vai até a Ouvidoria e diz: “Eu gostaria que cortassem a árvore da minha rua”, você terá que se identificar num formulário e justificar o pedido. Porque não é serviço do Ouvidor ir até a sua rua e verificar qual é a árvore e se efetivamente ela deve ser cortada – quem vai avaliar o problema é o órgão competente da administração.

CIDADÃO: Certamente, nesse formulário haverá espaço para um relatório, não é?
SUGUI: Sim, exatamente. Ali será descrito de maneira circunstanciada o pedido ou reclamação que foi formulado.

CIDADÃO: E o horário de atendimento ao público, como será?
SUGUI: Em princípio, nós estamos pensando em introduzir o serviço de atendimento no período da manhã, provavelmente a partir das 8h. Depois, o restante do expediente seria empregado para a concretização do serviço de relatórios e encaminhamento à administração. Se a gente misturar atendimento e execução, atrapalhará o trabalho.

CIDADÃO: Não existe o risco – principalmente num ano eleitoral – de que se tente fazer uso político da Ouvidoria?
SUGUI: Essa é uma questão importante. Caberá ao Ouvidor discernir o que é de interesse público ou pessoal da comunidade, do que é interesse político. Temos que valorizar toda informação que chegar, toda sugestão que vier, mas também precisaremos avaliar as reais necessidades. Ah, é bom lembrar que nenhuma denúncia poderá ser anônima. Não haverá anonimato. A não ser que se trate de uma denúncia cujas circunstâncias poderá colocar em risco a pessoa. Aí, o caso será levado ao Ministério Público.

CIDADÃO: Você é advogado e evidentemente sabe o que é capitulado como crime. Como a Ouvidoria agirá se houver a denúncia de um ato da administração classificado como criminoso?
SUGUI: Conversei sobre isso com a Ouvidora do município de São Paulo, Maria Inês Fornazaro, e ela revelou que o procedimento é o seguinte: eles pegam a denúncia e levam diretamente para o prefeito, que decidirá se essa denúncia será encaminhada à Corregedoria. Ou seja, prefeito, Ouvidoria e Corregedoria trabalham juntos. Aqui em Fernandópolis também será assim, com a diferença que, em lugar da Corregedoria, estará o Ministério Público.

CIDADÃO: Particularmente, você está entusiasmado com esse novo rumo em sua vida?
SUGUI: Todo desafio novo é gostoso, eu pelo menos gosto disso. Principalmente em algo em que é preciso começar do zero. Já passei por uma experiência assim em São Paulo. O banco em que eu trabalhava não possuía auditoria de câmbio. Fui contratado para implantar essa auditoria, e tive que começar do zero. Implantei o processo e, quando saí do banco, já contávamos com seis auditores. Foi muito gratificante aceitar aquela incumbência e ver um projeto sair do papel e se concretizar – exatamente porque alguém confiou em você e em sua capacidade de trabalho.
CIDADÃO: A partir de agora, mesmo sendo descendente de japoneses, você vai ter que ficar de olhos e ouvidos abertos?
SUGUI: Agora muito mais de olhos abertos (risos). Ouvir, a própria descendência já nos ensina a fazer desde pequenos. Somos condicionados a ouvir mais do que falar.