Quis o destino que um dia o fernandopolense Paulo Roberto Fantini (que estudou no Rio de Janeiro) e a cearense Francisca Goreth Malheiro Moraes Fantini (formada pela Universidade da Paraíba) se conhecessem na paulista Ribeirão Preto, para onde os levaram os estudos de aperfeiçoamento. A paixão pela mesma área da medicina a neurologia facilitou o início do namoro, que resultou num sólido casamento, no nascimento dos filhos Paola e Enzo e na união profissional da neurologista Goreth ao neurocirurgião Paulo. Nesta semana, eles participaram da I Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho promovida pela Santa Casa, a Sesmt e a Cipa (entidades de segurança do trabalho) com alunos das faculdades de Fernandópolis. Antes da palestra de Paulo, CIDADÃO ouviu o casal.
CIDADÃO: Por que vocês decidiram iniciar uma campanha de prevenção do neurotrauma?
PAULO: O fato é que a prevenção do neurotrauma é uma campanha que a Sociedade Brasileira de Neurocirurgia tem colocado para que meus cirurgiões possam ir colocando esse questionamento na sociedade, nas facções das regiões, de maneira a discutir o crescimento acentuado que tem havido de casos de neurotrauma, em especial os relacionados aos acidentes de trânsito.
CIDADÃO: Segundo as estatísticas policiais, aconteceram cerca de 500 acidentes de trânsito em Fernandópolis em 2007, dos quais 400 tinham motocicletas envolvidas. Os motoqueiros são hoje os grandes vilões do trânsito da cidade ou as principais vítimas?
PAULO: Os grandes vilões são aqueles condutores que não seguem as normas de trânsito e os motoqueiros se destacam como a maior população envolvida nesses acidentes. Então, de alguma forma, os motoqueiros, pela sua velocidade e agilidade, acabam sendo vilões nos acidentes de trânsito. Mas são vítimas também, porque há problemas de sinalização, falta de semáforos e fiscalização.
CIDADÃO: O delegado de trânsito informou que a cada mês 200 motos são licenciadas em Fernandópolis. Teria que haver uma mudança drástica nesse sentido? Quais seriam essas mudanças?
PAULO: A legislação de trânsito é boa, considero até como perfeita, mas o fato é que ela não é seguida com rigor. Se ela fosse seguida de punições e prevenções, possivelmente o índice de acidentes e até as motocicletas deixariam de estar envolvidas como vilãs, e assumiriam seu papel original, qual seja, a de veículos de classe econômica, onde se colocam como as prediletas da população.
CIDADÃO: Em Fernandópolis nós temos pontos críticos nas avenidas Expedicionários Brasileiros e Avenida dos Arnaldos. Você considera que seja urgente mexer nessa sinalização de trânsito, com radares, por exemplo, que é uma idéia que está surgindo na cidade?
PAULO: Os radares, ou os famosos pardais eletrônicos, são um avanço da tecnologia, eu acredito que mexendo apenas numa das partes mais sensíveis do ser humano o bolso será possível diminuir a incidência de acidentes e a negligência do trânsito.
(A partir desse momento da entrevista, Paulo Fantini passou a bola para a esposa Goreth, já que ele iria dar início à palestra que fez durante a I Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho Sipat), e cujo tema era Neurotrauma e acidentes de via pública)
CIDADÃO: Quais são os cuidados principais para evitar os traumas neurológicos?
GORETH: É difícil dizer quais são. O trauma neurológico, no caso dos acidentes, incide dentro de um veículo, na cabeça contra o pára-brisa, coluna cervical contra o volante, numa motocicleta em que o pára-choque passa a ser o crânio ou a coluna, então é difícil. O ideal é colocar o cinto de segurança e quando comprar o carro, optar por um veículo que possua airbag. Se não puder, use seu cinto de segurança corretamente. No caso das motocicletas, é imprescindível o uso de capacete, dos retrovisores e principalmente dirigir com cautela e prudência, seguindo as normas de trânsito.
CIDADÃO: Há alguns meses, foi criado o Centro de Acidente vascular Cerebral da Santa Casa de Misericórdia e a Liga Acadêmica de Neurologia e Neurocirurgia. Quais são os objetivos dessas instituições?
GORETH: O Centro de Acidente Vascular Cerebral da Santa Casa existe desde a época em que o doutor Vanderlei Magalhães praticava neurologia, só que com o avanço da ciência neurológica e com o avanço do tratamento no acidente vascular cerebral, foram necessárias mudanças terapêuticas. No mundo inteiro hoje é dado um enfoque diferente no tratamento do AVC, onde o lema time is brain (tempo é cérebro) tem que ser executado. Diante disso, foi necessário fazer uma nova padronização, um novo protocolo e com isso melhorar o tratamento do acidente vascular. Os objetivos na verdade são resgatar, restituir a circulação cerebral em tempo suficiente para evitar o dano neurológico. Quanto à Liga Acadêmica de Neurologia e Neurocirurgia, trata-se de uma necessidade que vem ao encontro da realidade dos alunos e a universidade. Os objetivos são fazer com que o aluno tenha maior acesso à literatura, que estude mais, e possa ter um acesso melhor ao reconhecimento das doenças e tratamento das patologias neurológicas e também em termos de prevenção; finalmente, que o aluno esteja o mais ligado à comunidade e dessa forma previna as doenças neurológicas.
CIDADÃO: Na região noroeste de São Paulo, há muitos casos de AVCs. Por que? Isso tem a ver com hábitos alimentares, clima, alguma coisa do tipo?
GORETH: Na verdade não é só na região noroeste de São Paulo. O AVC é a doença que mais mata no mundo hoje em dia, e também a que mais deixa danos e seqüelas nos pacientes. Na região Noroeste de São Paulo ela é apenas uma parcela do que existe em confronto com a literatura mundial. Estamos diante de uma realidade que é do Brasil, da região noroeste e do mundo todo; em termos de risco existem fatores não-modificáveis como a idade, o sexo, a raça. O negro tem, por propensão hereditária, mais chances de ter o AVC do que o branco. O homem, muito mais do que a mulher. Além disso, existem fatores modificáveis como o tabagismo, a obesidade, o uso de anticoncepcional, uso de drogas que tem como evitar esses fatores, melhorar a alimentação, ter uma vida mais saudável, praticar exercício que tem como melhorar o final nessa prevenção.
CIDADÃO: A mídia televisiva incentiva bastante a prática de exercícios, caminhadas. Isso tudo vale mesmo a pena? Qual a forma mais barata e racional da pessoa minimizar os riscos de um acidente vascular cerebral?
GORETH: Desde a infância e adolescência até a vida adulta, e chegando à velhice, o indivíduo deve ter uma melhora na qualidade de vida. Isso significa fazer o controle de peso, não ser sedentário, ter uma dieta balanceada, rica em frutas e vegetais, consumir baixa quantidade de sal, de gorduras, frituras, praticar exercícios semanalmente, avaliar a questão do uso do anticoncepcional, controlar o peso, evitar uma vida extravagante, com excesso de bebida, evitar o consumo de droga. Dessa forma vai haver prevenção dos riscos.Uma coisa importante é o tratamento da fase aguda do AVC. Hoje em dia, o doente que tenha sintomas do que poderá ser AVC - e quais são esses sintomas? Perda de força, alteração da sensibilidade, distúrbio visual, distúrbios tido como entre aspas labirintite, tontura, vômito que pode não ser um sintoma de labirintite e ser sintomas da circulação posterior - diante de sinais de sintomas como esses, o doente deve procurar rapidamente um centro de tratamento de AVC. Um hospital de grande porte e que tenha tratamento para essa fase aguda que é fundamental para a recuperação. Mas da hora que o doente passa mal até ter sido concluído esse tratamento não pode passar de três horas.