É a reflexão que a CF 2008 nos propõe. Tema instigante face às ameaças e agressões constantes à vida humana e toda espécime de vida sobre a face da terra, dom precioso de Deus que impulsiona os cristãos para em nome da fé e da solidariedade engajarem-se na defesa da vida indefesa.
Nas muitas manifestações dos dons de Deus, a vida é doada a cada ser que a manifesta conforme sua natureza e singularidade na infinita bondade de Deus Criador. Embora não sejamos os criadores da vida, ameaçamo-la de muitas formas, desde a desatenção ao essencial às opções consumistas presentes no sistema capitalista. Vemos com espanto a agressão ao meio ambiente, a interferência no gene dos organismos, o que ameaça a existência de muitos seres e compromete a vida planetária. Cabe-nos perguntar: Que tipo de realidade estamos preparando para as gerações futuras?
É preocupação ainda maior a vida humana aviltada pelo aumento da pobreza e pela falta de políticas sociais que supram suas necessidades, vez que as bolsas assistenciais nada mais são do que a manutenção da miséria, da mendicância e das dependências. Além disso, é desalentadora a crescente violência estrutural e a intolerância entre as Pessoas, que em concurso com o crime organizado ceifam inúmeras vidas, dentre as quais muitos jovens. Outro dado analítico é a submissão da economia à lógica do mercado e do lucro, desvalorizando o ser humano pelo que é: suas virtudes e singularidades. A continuidade da vida em nosso planeta é posta em risco por falta de política ambiental com co-responsabilidade social e humanitária. É notória a devastação da fauna e da flora, sofremos o impacto das contaminações, poluições dos lençóis freáticos e da injeção de enxurradas de poluentes no planeta que tornam o ar impróprio em vista do progresso.
Crise ética e moral são instauradas pelo crescente número de abortos clandestinos realizados no Brasil e no Mundo todos os anos, estes seres humanos inocentes e indefesos embora rejeitados por seus progenitores em conseqüência de circunstâncias adversas, são impedidos de participar do banquete da vida. Muitas mulheres perdem suas vidas por se submeterem a abortos mal feitos. Questiona-se: O aborto seria a solução, para salvar a vida destas mulheres ainda que negando o direito à vida de seus bebês? É o que defendem alguns, desprovidos de uma visão integral do ser humano. Tal postura incorre num dilema ético-moral inconcebível diante do valor absoluto da vida, pois se a mãe não tem condições para arcar com a responsabilidade materna a sociedade imbuída de princípios éticos e morais deveria responsabilizar-se para a formação integral de valores humanísticos. Tanto a família quanto as instituições educacionais devem investir em projetos educacionais que valorizem a vida humana instituindo uma educação para o sexo consciente, preparando os adolescentes e os jovens para uma sexualidade responsável, comprometida e cônscia da possibilidade de transmitir uma vida nova que ocorre de modo não planejado tanto para os futuros pais quanto para o nascituro. Questão igualmente relevante é a pretensão de legalizar a eutanásia, que em última instância, é uma forma de intervenção intencional e direta para suprimir a vida humana.
A vontade de ser senhor absoluto da vida e da morte e de dominar o semelhante são as mais íntimas aspirações humanas e historicamente esses desejos nada trouxeram de benefício humanitário. Cabe convencermos-nos de que Deus é senhor da vida, porque só ele é capaz de chamar do nada à existência e de dar plenitude à vida humana e em seus mandamentos nos instrui a não investir contra os indefesos: não matarás!
É tarefa primordial do Estado e direito do cidadão receber proteção e promoção da vida, sobretudo a vida indefesa e frágil, tais como as dos seres humanos ainda não-nascidos, das crianças, dos idosos, dos pobres, dos doentes e das pessoas com necessidades especiais. É urgente o envolvimento solidário de todos na defesa da vida e da dignidade daqueles contra os quais são impostas todas e quaisquer formas de agressão, prepotência ou aviltamento. A capacidade de solidarizar-se é inerente a todo ser humano e sua obrigação consiste em manifestá-la como forma suprema da fraternidade.
O lema escolhe, pois, a vida (Dt 30,19b) é embasado no livro do Deuteronômio, escrito quando o povo hebreu, beneficiado pela ação libertadora e salvadora do Deus da Vida sob a liderança de Moisés deveria optar entre: escolher a vida e um futuro esperançoso para si e seus descendentes permanecendo fiel aos mandamentos de Deus, ou escolher a morte, andando por caminhos de idolatria e servindo a deuses fabricados para a própria conveniência. A vida é um princípio holístico válido para medir todas as decisões humanas: nossas escolhas têm conseqüências sobre o presente e o futuro. A escolha livre e responsável do respeito aos mandamentos de Deus e do seu desígnio de vida traz bênção, esperança, futuro. O desprezo ao desígnio do Deus da vida e seus mandamentos traz a desgraça, a morte.
A CF desse ano traz a reflexão sobre a complexa problemática que atinge a vida na Terra, em especial a humana. Está em jogo o futuro do Planeta, nossa casa comum, e de todos os seus habitantes. Uma solução responsável só poderá ser sob o prisma da solidariedade, fraternidade humana e cósmica, com pleno respeito ao desígnio de Deus Criador e Senhor da vida.