Vilar fala das demissões de professores na FEF

20 de Agosto de 2025

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Vilar fala das demissões de professores na FEF
O presidente da Fundação Educacional de Fernandópolis, Luiz Vilar de Siqueira, não se negou a explicar as razões que levaram a FEF a demitir nada menos que 49 professores da instituição. Para o presidente, era um remédio amargo que não podia ser evitado. “É preciso evoluir para sobreviver no mercado”, acredita Vilar. De sua parte, o SINPRO – sindicato que representa os professores - prefere aguardar o início das homologações para se manifestar. O presidente Cássio Tenani disse que “as demissões são um ato discricionário do presidente” e que é importante apurar se elas aconteceram durante o período letivo ou no recesso, o que garantiria aos professores o pagamento do primeiro semestre de 2008.

CIDADÃO: Quantos professores foram demitidos pela FEF no final de 2007?
VILAR: Dispensamos 42 professores da área de graduação, cinco da FEF-Teen e dois professores do Yazigi, sendo 49 no total.

CIDADÃO: Qual o motivo que levou a FEF a tomar essa decisão?
VILAR: Primeiro, o cenário nacional da educação é preocupante. Nos últimos seis anos o número de instituições no Brasil duplicou e o de alunos diminuiu. Hoje, na região, Votuporanga, Fernandópolis, Iturama, Jales, Santa Fé do Sul, Auriflama, Aparecida do Tabuado, Paranaíba, todas as principais cidades possuem instituição de ensino superior e isso reduz as possibilidades das já instaladas em manter o número de alunos e crescer. Especificamente em Fernandópolis, tínhamos uma grande demanda nas regiões mais longínquas, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás. Ainda temos muitos alunos desses estados, mas já diminuiu, porque os mesmos cursos que temos na FEF foram abertos em faculdades dessas regiões, o que leva os alunos a optar por ficar em suas regiões. Assim, as instituições de ensino de maneira geral fizeram uma grande demissão no final de 2007. Não dá para suportar pagar professores com mensalidades tão baixas, como as da nossa região. Um curso que na FEF custa R$ 600, de Araraquara para frente custa no mínimo R$ 1.400,00. Um professor, com título de mestrado, ganha o mesmo por hora/aula na FEF ou em uma faculdade de Araraquara. Antes eram somente Fernandópolis e Votuporanga que possuíam o curso de Enfermagem. Hoje, todas as faculdades abriram este curso. Felizmente, o da FEF é muito bem qualificado e o aluno já sai praticamente com o emprego garantido, então nós temos um “algo mais”, porém a maioria dos cursos oferecidos atualmente pela FEF também é oferecida em outras faculdades da região. A batalha de trazer alunos para os vestibulares tem ficado cada vez mais complicada, difícil e onerosa. É lógico que nós da Fundação não gostaríamos de dispensar funcionários ou professores, porém, temos responsabilidade sobre a FEF e não podemos deixar que ela chegue a encerrar suas atividades depois de mais de vinte anos de atividade. Por isso, essas medidas extremas, que nada mais são do que a redução de custo em todos os aspectos, inclusive na área pedagógica e administrativa. Estamos fazendo realmente uma grande reengenharia dentro da instituição, assim como todas as outras instituições responsáveis do Brasil. Nós teríamos duas maneiras: ou fazer de uma vez só ou fazer por etapas. Optamos pelas etapas. Em 2006, reorganizamos a parte administrativa, onde foram dispensados em torno de 25 funcionários e agora em 2007 houve dispensas de professores no meio do ano e agora, mais significativamente em dezembro. O que está acontecendo na educação hoje é o que aconteceu em outras atividades, como foi o caso dos bancos. Há algum tempo, existiam inúmeros bancos e grupos econômicos e hoje existem apenas alguns. O número de funcionários desses bancos também foi reduzido devido à chegada da tecnologia. Por isso estamos fazendo essa reengenharia na FEF, mudando muita coisa, mas para melhor. Reduzindo custos, colocando novas tecnologias e visando sempre a melhoria na qualidade do ensino.

CIDADÃO: Os professores receberam a demissão via telegrama. Por quê?
VILAR: As instituições de ensino dispensam professores em dezembro ou junho. E isso não pode ser feito depois desses meses, pois se passar esse prazo, mesmo não trabalhando mais, a instituição tem que pagar o semestre seguinte para ele. Para aqueles a quem foi possível entregar uma correspondência, inclusive justificando o motivo da dispensa, foi entregue. Agora, já estava num período de férias e muitos professores já tinham viajado e outros são de fora. A lei permite que a instituição dispense o professor por telegrama, correspondência ou até mesmo por um telefonema. Então, normalmente as instituições de ensino usam para aqueles professores que não foram localizados o telegrama, que é mais rápido.

CIDADÃO: Quais foram os critérios utilizados para escolher quais professores seriam demitidos?
VILAR: São vários: um deles é o professor com poucas aulas. Esse professor não pode ficar vinculado a uma instituição apenas, ele tem que dar aulas em várias instituições. Ele não cria um compromisso com a instituição, vem aqui rapidamente dar aula e vai embora, por causa dos compromissos com outras instituições. Esse professor não agrega valores para o curso e por isso foi um dos que tiveram prioridade na dispensa, porque nós queremos docentes que tenham um compromisso maior com a instituição. Essas aulas serão remanejadas para outros professores da casa, que já tenham uma quantidade de hora/aula maior e possam ficar exclusivos da instituição, sempre presentes para atender aos alunos. Também adotamos como critério identificar os professores – felizmente, poucos - que não vestiam a camisa da instituição. Toda empresa precisa que o funcionário vista a camisa e que realmente a defenda, que defenda a qualidade do ensino. Esses mesmos professores ainda falavam mal da instituição. Nenhuma empresa quer um funcionário que recebe o salário pela empresa e lá fora fale mal da instituição. Então esses foram incluídos nessa dispensa. Outro critério foi o seguinte: professores que moram longe de Fernandópolis. Hoje o deslocamento fica caro, pois temos que pagar a viagem, hotel, alimentação, o que acarretava muito custo além da hora/aula, sendo que temos em Fernandópolis e em nossa instituição excelentes professores de todas as áreas. Então esses professores de fora, que oneravam ainda mais a instituição, foram dispensados. Contou também a avaliação do docente. Há quatro anos o MEC implantou uma avaliação institucional em todas as instituições de ensino do Brasil, onde todos são avaliados: o presidente, os diretores, coordenadores de curso e os docentes. Uma vez por ano somos obrigados a realizar esta avaliação, de uma forma muito democrática. Na última avaliação feita pelo MEC para passarmos para centro universitário, a FEF foi muito elogiada pelo desempenho, pela seriedade que nós temos mostrado nessa avaliação. O professor é avaliado semestralmente pelo coordenador do curso e anualmente pelos alunos. Às vezes o professor tem uma excelente formação, mas ele não tem didática em sala de aula, não consegue passar para os alunos o conteúdo e este professor normalmente tem uma avaliação fraca junto aos alunos. É importante respeitar a visão do discente. As coisas estão mudando. O quadro-negro hoje em dia é pouco usado. Existem novas tecnologias. O professor que fica fazendo resumo no quadro-negro, marcando tudo para que o aluno perca tempo, está superado. Há novos métodos e a FEF tem dado todas as condições para que essas novas tecnologias aconteçam. O aluno está exigindo essa adequação. Hoje ele não dispõe de muito tempo, quer chegar em casa depois da aula ou no final de semana e entrar no site, baixar a aula que será dada no dia seguinte ou a que foi dada há um mês e ver esse conteúdo na internet. Os professores que melhor assimilaram os treinamentos que foram oferecidos ficaram e os que não se enquadraram nessa sistemática não podiam ficar. Isso não aconteceu por uma idéia ou cabeça do presidente da FEF. Foram ouvidos todos os coordenadores, o diretor pedagógico, os professores que fazem parte da associação dos docentes da FEF. Foi analisado caso a caso e coube ao presidente somente assinar as decisões tomadas pelo grupo. Nós tínhamos um número de cortes que deveriam ser feitos e os critérios que deveriam ser usados. Dentro disso, foi a parte pedagógica que resolveu e também essa associação de docentes. Foi uma somatória de acontecimentos para se chegar a essas 49 demissões.

CIDADÃO: Qual o número de professores que atuarão nos cursos de graduação da FEF no primeiro semestre de 2008?
VILAR: Eram 242; com as 42 demissões, teremos um total de 200 docentes. Esperamos que sejam os mais compromissados com a instituição. É bom salientar que jamais, desde quando entrei aqui, eu disse para os professores que a FEF proíbe alguém de dar aula em outro lugar. Agora, aqueles que se dedicam mais e que deram exclusividade à instituição, é lógico que vemos com mais carinho esse profissional, mas ninguém está proibido de dar aulas em outra instituição. Há professores que atuam na Unicastelo, alguns também dão aula em Jales, Votuporanga. Não tem problema nenhum. Às vezes é até bom para eles verem o que acontece aqui e o que acontece fora e isso para nós é até positivo. Esses professores continuarão liberados para trabalhar na FEF e se tiver disponibilidade, trabalharem também em outras instituições.

CIDADÃO: A grade curricular sofrerá alguma alteração?
VILAR: Basicamente todas as grades permanecerão iguais. Teremos apenas algumas inovações. Existiam matérias que estavam ultrapassadas e tivemos que atualizá-las. Por exemplo, é impossível existir uma instituição que não fale do meio-ambiente, empreendedorismo. Essas matérias são necessárias para qualquer cidadão. Os profissionais dos dias atuais precisam ser bons empreendedores, ligar-se às questões ambientais. Estamos introduzindo essas matérias em nossas novas grades. Hoje na FEF, o aluno começa a estudar em fevereiro e já encontra na internet toda a matéria que ele terá durante o primeiro semestre. Aqueles estudiosos poderão avançar nos estudos e vir à instituição mais para sanar dúvidas. Isso já é uma realidade e estamos alinhados com as grandes instituições de ensino do país. O perfil dos alunos também. Infelizmente alguns professores não têm acompanhado esse desenvolvimento. Há necessidade do professor mudar rapidamente os métodos de ensino para contemplar esse aluno do ano de 2008. Às vezes os professores são mal avaliados pelos alunos: é porque ele não acompanhou a evolução dos tempos. O aluno hoje não tolera ficar sentado uma hora ouvindo o professor falando de costas e passando a matéria no quadro-negro. E se nós, enquanto instituição, não mudarmos, por que o aluno vai estudar na FEF? Tem que ter algum diferencial, senão ele vai para outra instituição. Pagar por pagar, ele vai pagar uma instituição que tenha melhores condições e esteja mais atualizada para passar conteúdo para ele.