Escritor bissexto e atleta amador, ele já percorreu a pé, por duas vezes, o longo trajeto entre São Paulo e Fernandópolis
Roberto Buzzo, 51, é bancário há 33 anos e mora na Bela Vista, o tradicional bairro paulistano também conhecido como Bexiga. Casado, três filhos, nasceu em Guaraci e cresceu em Fernandópolis, onde seus pais vivem até hoje, no Jardim Planalto.
Em 2004, justamente para visitar seus velhos, Roberto decidiu vir a Fernandópolis. Uma viagem comum, não fosse o meio de transporte escolhido pelo bancário: seus próprios pés.
Roberto Buzzo percorreu 640 km a pé, durante 15 dias, da capital até o sítio de seus pais, na zona rural entre Meridiano e Fernandópolis os quilômetros excedentes se devem a incursões em algumas regiões do interior paulista.
Essa aventura está registrada, num texto extremamente agradável e cativante, no livro Diário de um bandeirante ligeiramente atrasado e totalmente desarmado, lançado em 2006 pela editora ComArte.
Foi a primeira caminhada que fiz de São Paulo a Fernandópolis, e que originou o livro. Eu a repeti em 2006, quando percorri 601 km, em 13 dias. Na época da segunda viagem, o livro sobre a primeira estava saindo, enfatiza Roberto Buzzo.
A diferença de quilometragem se deve aos dois trajetos percorridos pelo bancário e atleta amador, especialista em maratonas: no primeiro Buzzo percorreu a Rodovia dos Bandeirantes, depois a Washington Luiz e por último a SP-320, Rodovia Euclides da Cunha.
No segundo, pela maior parte do tempo, caminhou pelos acostamentos da Rodovia Marechal Rondon, de Itu até Lins, quando passou por inúmeras estradas vicinais, inexistentes em mapas, passando por Bauru, Penápolis, Buritama, onde teve como maior companheiro o Rio Tietê, que empresta suas águas à hidrelétrica de Barra Bonita. Também passou pelas cidades de Lourdes, Floreal, Valentim Gentil e Meridiano, chegando enfim a Fernandópolis.
Com a ajuda de mapas, escolho os trajetos que percorrerei. Nunca havia passado por eles. Na verdade, 90% da caminhada se deu em estradas secundárias, nas duas vezes mais de 200 km em estradas de terra, essa a melhor parte turística de minhas viagens, garante Roberto.
Ele enfatiza que, principalmente o primeiro roteiro que fez, traça praticamente uma linha reta entre a capital do Estado e Fernandópolis. Se fosse possível percorrer uma linha reta entre as duas cidades, a distância seria exatamente 500 km, afirma.
As aventuras foram realizadas sempre no mês de julho, quando o bancário tira férias do Banco Noroeste. No espaço normalmente reservado às dedicatórias nos livros, há uma mensagem: Deixai toda frescura, ó vós que entrais. Roberto parafraseou Dante Alighieri, que escrevera em sua Divina Comédia, quando descreve o seu Inferno, em cujo portal se lê: Deixai toda esperança, ó vós que entrais. Dante denomina de Divina sua Comédia, e afirma que a alma só tem poder de escolha enquanto viva. Roberto também classifica como Divina sua liberdade.
Para se viver realmente é preciso liberdade. E a sensação que sinto quando caminho é a de que sou livre, desimpedido. Não consegui até hoje encontrar uma palavra para descrever o que sinto, mas a sensação de liberdade é inigualável. Olhando para o céu nas noites mais estreladas, sem compromisso com horário, dormindo em uma barraca no meio de um pomar, no meio do mato mesmo. E falam sobre segurança: não tem problema nenhum. Todas as pessoas do Estado são gente como a gente. Cada cidadezinha é muito parecida com a sua comunidade vizinha, a cultura é igual, o estado de São Paulo está totalmente habitado, é como o nosso quintal. Quando passo por Itabiju, ou Itu, é como se estive em Fernandópolis. Em várias cidades existem hotéis, onde você paga somente R$ 10,00 ou R$ 13,00 para dormir. Os proprietários não exploram o fato de que nessas cidades exista um único hotel, ressalta.
Mesmo levando a vida corrida da capital, ainda mais como bancário, Buzzo encontra tempo para colocar em dia todos os detalhes de suas aventuras.
Tenho um blog, no endereço www.diarioandarilho.zip.net, onde as histórias sobre minha segunda aventura estão registras, cujo título é Diário de um Andarilho. E quem quiser o primeiro livro é só entrar em contato através do meu email,
[email protected]. Roberto Buzzo, torcedor do Fefecê, iniciará o terceiro semestre do curso de Letras na USP em 2008, e conta uma de suas maiores recordações de Fernandópolis.
Recordo do narrador dos jogos da Águia, quando ele impostava a voz e dizia: hoje o Fefecê recebe aqui no Estádio Municipal John Fitzgerald Kennedy a equipe da Votuporanguense!. Grandes jogos naquela época. Saí de Fernandópolis em 1975 e não tenho outro time, torço realmente pelo Fefecê, conta.
A reportagem de CIDADÃO se comprometeu a enviar a Roberto Buzzo uma camisa do seu time de coração. Um presente de Natal que deixará São Paulo um pouquinho mais azul em 2008.