Carlos Alberto Phelippe, 49 anos, marido de Valéria, pai de três filhos (todos corintianos), arquiteto de formação e comerciante por circunstância, bem que poderia ter seguido o exemplo do falecido avô Carlos e obtado pela Portuguesa: agora, estaria comemorando o acesso à Série A. Ele preferiu o caminho de outros 33 milhões de brasileiros e agora padece nas chamas da hecatombe do Timão. Inteligente, crítico, conhecedor de futebol, Carlinhos afirma que a queda do Corinthians para a Série B do Campeonato Brasileiro foi na verdade a crônica da morte anunciada. O apito final foi o desligamento dos aparelhos de um paciente terminal. Mas ele está certo que o time ressurgirá das cinzas, tal qual Fênix. Considera o Coringão um fenômeno social, a maior válvula de escape das classes menos favorecidas da sociedade. Defende que clubes como o Fefecê devam fechar as portas definitivamente. Não concorda com a Lei Pelé, e só vê fatos positivos relacionados ao Rei do Futebol dentro das quatro linhas. E afirma que a relação do torcedor corintiano com o seu time é amor, é pele; uma vez nascido corintiano, corintiano pra sempre.
CIDADÃO: Quem merece cadeira elétrica no Corinthians? Kia? Dualib? Nesi Cury? Todos eles?
CARLINHOS: Acho que todos eles merecem cadeira elétrica. Com maior responsabilidade dos desmandos para os que participaram da diretoria do Dualib e Nesi Cury, inclusive que teve a participação do Andrés Sanches na aprovação da parceria com a MSI (Media Sports Investment Ltd), do seu Kia Joorabchian. Hoje o Andrés dá uma de bonzinho, mas já foi devidamente intimado pela torcida (Andrés foi cobrado cara a cara pela torcida corintiana, que o chamou de lixo), baixou a cabeça e chorou, porque tem culpa no cartório. Nós tivemos diversas experiências no Brasil de parcerias danosas, não só danosas para os clubes, mas para o futebol brasileiro, e todos esses dirigentes merecem cadeia. Mas isso é o reflexo do que acontece com a própria política do país, trata-se o dinheiro da empresa Corinthians como se trata no Brasil o dinheiro público, ou seja, a empresa não é de ninguém, se apropriam do patrimônio da empresa e está aí o seu Dualib, o Nesi Cury, dando uma de inocentes, mas com os bolsos cheios do dinheiro corintiano.
CIDADÃO: Como foi o seu dia, naquele fatídico domingo da queda do Timão?
CARLINHOS: Bom, não foi nenhuma surpresa, observamos realmente a crônica da morte anunciada. Na verdade eu havia perdido as esperanças naquele jogo contra o Vasco, quando dependíamos somente de uma vitória do nosso time para fugirmos do rebaixamento e não conseguimos a vitória, perdemos o jogo. Ficamos na dependência de equipes como Paraná e Goiás, que jogaram com times melhores, o Vasco e o Inter. Mas o Internacional não fez muita força pra ganhar do Goiás, eles estavam atravessados com aquele campeonato de 2005, quando foram modificados alguns resultados no tapetão, então eu achei que depois da derrota para o Vasco que pensava que o rebaixamento era iminente. E a gente pode especular diversas coisas, em várias mesas redondas após o jogo eu ouvi comentários de que times haviam ajudado o Corinthians a cair, mas em nenhum momento disseram que outras equipes e a própria arbitragem estavam dispostas a prejudicar o Timão. Mas isso fica somente no terreno da especulação, só que em um jogo normal, em circunstâncias normais não dariam três chances para que o Goiás conseguisse converter um pênalti a seu favor no jogo contra o Inter.
CIDADÃO: Você acha que o Corinthians na segunda divisão vai revolucionar as relações dos clubes com a televisão, em especial com a Rede Globo?
CARLINHOS: Não só com a televisão, o Corinthians na Série B é caso de se revolucionar tudo né? Inclusive a Rede Globo que detinha os direitos de transmissão da Série B, e que os repassava para a Rede TV!, está começando a valer seus direitos e muito provavelmente todos os sábados teremos jogos do Timão na Série B televisionado ao vivo agora pela Rede Globo, em detrimento do programa Caldeirão do Huck, que já deve estar procurando outros horários ou até mesmo outros canais de TV para encaixar seu programa e poder trabalhar. E o Corinthians já estava querendo fazer uma negociação independente com o Clube dos 13. Não sei de vale a pena, acho que seria uma virada de mesa, e o Clube dos 13 pode querer alijar o Corinthians de uma volta para a primeira divisão, que também não está garantida para o ano que vem. E o clube tem que ter o devido valor pago pela marca Corinthians, que não tem o seu reconhecimento, e ainda é negligenciado por dirigentes incompetentes, deixando o clube com um saldão devedor, sendo que o clube pode ganhar um valor muito maior pelas transmissões esportivas das quais participa.
CIDADÃO: O Corinthians fecha o seu pior ano com recorde de renda, superando a arrecadação do rival São Paulo, campeão brasileiro de 2007. O Corinthians é um fenômeno?
CARLINHOS: E quanto mais adversidades sofridas pelo Corinthians, mais torcedores aparecem. Observando que a massa corintiana é representada, em sua grande maioria, por uma camada menos favorecida economicamente em todo o Brasil, e o futebol é uma válvula de escape para a população extravasar seus problemas, seus sofrimentos, suas angústias, e toda essa diversidade, quanto maior, mais o torcedor se identifica com o time. Tivemos os 23 anos de fila sem títulos, e foi uma época gloriosa em termos de grandes jogos, grandes equipes, excelentes jogadores, que mesmo sem títulos, a torcida praticamente dobrava de tamanha a cada ano, e quanto mais sofrimento, mais o corintiano gosta. Nós estamos sempre aí, como Fênix, renascendo das cinzas, o pessoal fala que a torcida vai acabar, mas a tendência é que a torcida aumente, eu acho que teremos rendas melhores nos estádios na Série B do que tivemos esse ano. O problema é realmente saber administrar bem, com responsabilidade e honestidade todo esse dinheiro arrecadado, para alcançarmos uma situação melhor do que a atual.
CIDADÃO: Falando em situação atual: temos visto as equipes da região, como o Fefecê, em campeonatos inexpressivos e deficitários. Qual é a solução? Revolucionar ou abandonar de vez?
CARLINHOS: Sem apoio financeiro de empresas, sem condições de honrar folha de pagamento por menor que ela seja, sem receita para pagar despesas de viagens, hospedagens de jogadores, alimentação e ainda os custos de arbitragem eu acho que deveria acabar. A atual situação só denigre a imagem da cidade, o baixo nível técnico dos jogadores que aparecem, a maneira que se dirige os clubes, a melhor solução seria esquecer, vamos acabar com isso. Quando se puder profissionalizar tanto a diretoria e os jogadores, aí sim eu acredito em um futuro mais viável. Eu considero até uma outra alternativa, acabar com o Fefecê atual e se criar uma nova empresa, com um novo nome. Está difícil até para o campeonato da Série A-2 do Campeonato Paulista, imagine a gente, disputando a quarta divisão do Estado. E da maneira que está, sem atrativo pra ninguém, nem pra torcedor, nem pra TV, nem mesmo para o pipoqueiro, seria melhor acabar com o time.
CIDADÃO: Qual é a sua opinião sobre a Lei Pelé? É justo que empresários se apropriem de jovens talentos que os clubes revelaram?
CARLINHOS: A única coisa que mudou foi o feitor nesse caso. Quer dizer, os escravos, os pretensos craques e os futuros craques de futebol viram os seus vínculos contratuais saírem dos clubes e passarem para as mãos de empresários. Empresários estes que estão negociando jogadores desde os 13, 14 anos. É Lei Pelé né? O próprio filósofo Romário já disse tudo: o Pelé com a bola no pé foi um craque, abrindo a boca é melhor colocar um sapato na boca dele, fazendo lei piorou a coisa.
CIDADÃO: Você deve ter sofrido gozações. O que gostaria de dizer aos corintianos de Fernandópolis?
CARLINHOS: As brincadeiras têm sido constantes. Como eu sempre brinco com meus amigos, também fazendo inúmeras gozações quando seus times perdem, agora temos que arcar com realidade de jogar a Segundona no ano que vem. Na segunda-feira quando abri meu estabelecimento comercial me deparei com um cartaz dizendo que estaria fechado por luto, devido ao falecimento do Corinthians. Mas agora com a contratação do Mano Menezes o Corinthians se firma definitivamente como o time dos manos. Até faço uma indicação, para o lugar do Antonio Carlos, que foi contratado para ser diretor de futebol, que a diretoria contrate nosso ex-atleta Wilson Mano. E sugiro a regravação do nosso hino, para consumo interno, com a participação do Mano Brow, do Racionais MCs. E para consumo no exterior, com a Manu Chão. É assim que temos que encarar essa situação, se caiu foi pra se levantar É uma questão de amor, de pele, é como a torcida vem repetindo: nunca vou te abandonar Corinthians porque te amo. A própria torcida se intitulando um bando de loucos, mas loucos pelo time, e esse amor não vai acabar nunca, nasceu corintiano vai morrer corintiano e a tendência é só essa paixão aumentar. Para os santistas eu digo: nunca vi meu time perder de sete. Para os sãopaulinos eu declaro: vocês já carregam um estigma muito pesado, de serem os bambis, agora o Richarlysson até assumiu de vez, agora é só Rich. E aos palmeirenses, falo para se calarem, pois eles é que foram os pioneiros em cair para a Segundona, não nós.