Luís Fernando Paina, ou He-Man, como é mais conhecido, é natural de São José do Rio Preto e vive em Fernandópolis desde os 6 anos. Hoje, com 34, é músico com formação em regência orquestral e de coral, e também professor de Educação Física. Maestro da Orquestra de Sopros de Fernandópolis desde 1998, vivenciou toda a transformação da Banda Municipal em Orquestra. Paina reivindica melhores condições para ensaios e instalações adequadas para guardar os instrumentos. Aponta como apresentação inesquecível o show da Orquestra ao lado de Guilherme Arantes. O maestro tem nas aulas de Educação Física que ministra na APAE sua terapia, após os inúmeros compromissos do dia-a-dia, assoberbado de ensaios e pela exaustiva preparação para as provas práticas na faculdade de música que está cursando em Jales.
CIDADÃO: Em primeiro lugar, quando e como nasceu o apelido He-Man?
LUÍS FERNANDO: Eu tinha 14 anos e era muito magrinho. Resolvi entrar em uma academia, pegar peso, e foi então que comecei a desenvolver meu corpo, aliei os exercícios que praticava na academia com a natação, pois sempre fui vidrado em esportes, por isso me formei em Educação Física. A maioria dos meus amigos me chama somente de He-Man, muitos não sabem que meu nome é Luís Fernando.
CIDADÃO: Quando iniciou sua experiência musical?
LUÍS FERNANDO: Comecei a estudar música na Corporação Musical, na escola onde sou coordenador hoje. Na época o coordenador era o Manoel Marques Filho, e éramos uns 30 alunos, e o Manoel ia até a escola, no Saturnino (Leon Arroyo), onde estudei, para nos dar aulas de música. Passadas algumas semanas só fiquei eu nas aulas, tinha 16 anos, e então entrei para a Corporação.
CIDADÃO: Quando iniciou sua formação no Conservatório Dramático e Musical Dr. Carlos de Campos, em Tatuí?
LUÍS FERNANDO: Em 2002. Estudei lá até 2006. Antes de Tatuí tive aulas no Colégio Amadeus Mozart em Rio Preto, quando fiz um estudo básico sobre regência coral, harmonia, contraponto, toda a questão de como funciona uma orquestra, e foi lá que eu tive o primeiro contato profissional com os instrumentos. Nesse Colégio em Rio Preto fui indicado para ir estudar em Tatuí, fiz o teste, passei e ganhei uma bolsa de estudos e fiquei 4 anos tendo aulas com o maestro Dario Sotelo, de Regência Orquestral. Nesse mesmo período comecei a tocar saxofone e clarinete, e isso me ajuda muito hoje como maestro da nossa Orquestra de Sopros.
CIDADÃO: Conte um pouco da história da Orquestra de Sopros de Fernandópolis. Desde quando você coordena esse projeto?
LUÍS FERNANDO: A Corporação Musical existe desde 1950. Um corpo de músicos fundou a Corporação e quando Antenor Ferrari era prefeito, ela se tornou uma Entidade de Utilidade Pública, tendo subsídios para se estruturar. Através do maestro Manoel foi possível então a compra de instrumentos e a contratação de maestros, pois na cidade não havia maestro. Em 1985 a Corporação Musical de Fernandópolis foi campeã dos concursos realizados pela Secretaria Estadual da Cultura, e viveu seu auge naquela época, colhendo frutos bem cedo, marcando com o pé direito o início da antiga Banda de Fernandópolis como entidade. Eu assumi a Orquestra em 1998, e nesse período nós mudamos todo o sistema dessa Corporação, que continua sendo a Entidade, e o projeto seria a criação de uma orquestra de nível erudito, não de cordas, partindo de uma estrutura de Orquestra Sinfônica para uma estrutura de Orquestra de Sopros. Essa cultura musical é típica dos EUA, nascida dentro da Academia Militar da Força Aérea norte-americana, criada pelo maestro Arnold Gabriel, quem tive o privilégio de conhecer e com ele ter aulas no Conservatório de Tatuí.
CIDADÃO: Quais instrumentos compõem a atual orquestra de Fernandópolis? LUÍS FERNANDO: A linha de sopros de nossa orquestra é dividida em: madeiras, contendo os clarinetes, os saxofones e as flautas; metais, com os trompetes, as trompas, trombones, as tubas e o bombardino; e a percussão, que eu costumo dizer que é uma orquestra à parte, pois é rica em vários tipos de instrumentos, como tímpanos, percussões afinadas, como os teclados, e instrumentos de acessórios, como o bongô, os pratos, dando os efeitos sonoros que enriquecem as músicas. Desde um pequeno prato até uma campana de caminhão pode ser utilizada como instrumento de percussão, e por isso eu reforço a afirmação que os instrumentos de percussão formam uma orquestra dentro da orquestra. E é o naipe que tem que ser mais organizado, no qual os músicos têm que estar com mais atenção, pois é o coração da Orquestra. E é um orgulho para todos nós termos o Vandão, único remanescente da antiga Banda Municipal, no atual naipe de percussão. É muito bacana vê-lo no meio da garotada, e costumo dizer que ele é mais criança do que os próprios garotos que nós temos no projeto. Ele passa uma energia muito boa, toda sua experiência, o Vandão faz parte da história da música de Fernandópolis, desde sua primeira banda, The Black Falcons. É realmente um prazer poder contar com um músico que representa muito para a cultura da cidade, e também é um exemplo para os garotos que iniciam sua experiência musical.
CIDADÃO: Como está o local onde acontecem os ensaios, e também onde são guardados os instrumentos da Orquestra?
LUÍS FERNANDO: Infelizmente, ainda estamos em um local que não é adequado, existem vários projetos para tentar mudar a orquestra de local, mas ainda não existe nada de concreto. É claro que sabemos que a prefeitura está fazendo o possível, mas pela estrutura que temos, e pelo nível que atingimos é até chato ainda ter que ficar onde estamos. A demora incomoda, já está um pouco demais, como dizem, porém sabemos também que um projeto como o que a Diretoria da Cultura está batalhando para implantar, com a construção de uma nova biblioteca e a abertura do espaço da atual para a orquestra, realmente leva um certo tempo. Nós temos hoje uma demanda de 120 alunos, talvez não existam cinco orquestras municipais no estado de São Paulo igualmente equipadas com o nível de instrumentais que temos, quem sabe existam umas dez orquestras em todo o Brasil. E nossos instrumentos correm sério risco de estragar, de se danificar por causa do local onde ficam. Eu gostaria que essa idéia saísse do papel. Hoje, sem dúvida, estamos entre as dez melhores orquestras do país, nós crescemos de uma maneira rápida, e isso pode ter causado essa demora na mudança do nosso local de ensaio, e espero que isso aconteça no ano que vem.
CIDADÃO: Quais são suas atividades diárias à frente da orquestra, em seu curso de música e agora como professor de Educação Física na APAE?
LUÍS FERNANDO: Temos três orquestras na verdade, como estamos nos acostumando a dividir os trabalhos. Chamamos de a principal, a jovem e a mirim, onde estão os músicos iniciantes. É claro que não faço tudo sozinho, tenho 6 monitores que me auxiliam nas aulas. Mas é um exercício mental muito desgastante. Estou fazendo o curso de música da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), oferecido em Jales. Estudo em casa, pela internet, e periodicamente me apresento em audições com meus professores. São muitos trabalhos para fazer, muitos exercícios e diversas pesquisas e leituras. Há um ano dou aulas na APAE e está sendo uma verdadeira terapia, poucas pessoas conhecem a estrutura que a APAE possui, considero de ótimo nível, nem escolas particulares oferecem uma estrutura igual.
CIDADÃO: Qual espetáculo está registrado de maneira especial em sua carreira? Quais serão as próximas apresentações da orquestra?
LUÍS FERNANDO: De todas as apresentações e shows de que participei como aluno e como maestro da orquestra, o que mostrou para o mundo profissional a importância de termos um projeto como a orquestra em Fernandópolis, foi o show com o Guilherme Arantes. Ele afirmou que em sua carreira, de duas orquestras ele nunca vai se esquecer: a Banda Profissional da Polícia da Bahia, estado onde ele mora, e a Orquestra de Sopros de Fernandópolis. No próximo sábado, dia 27, no Vips Eventos, nós iremos tocar com o músico Flávio Venturini, da antiga banda 14 Bis. Temos também já agendadas três apresentações para o final do ano, durante as comemorações do Natal. Ao todo serão aproximadamente 300 crianças que formarão um coral. Crianças da Apae, da Cofasp e da escola Coronel. Será o projeto Cante o Natal com a Orquestra, nossos monitores estão ensaiando com grupos e esperamos mostrar também essa outra faceta da Orquestra, que é se apresentar acompanhada de um coral.