Mineiro, criado na Bahia e atualmente residindo em Fernandópolis, aos 58 anos, Tranquilino Nogueira Aguiar vende guardanapos de pano, bordados, capa para botijões de gás e outros trabalhos nas proximidades da Farmácia Droga Silva. Em uma cadeira de rodas, Tranquilino vive um dia-a-dia nada tranqüilo.
Moro longe do centro da cidade e todos os dias enfrento o trânsito e a distância para trabalhar. Tem alguns dias que não passo muito bem e não vou para o centro, mas com certeza não falho com as pessoas que querem comprar meus trabalhos, conta Tranquilino, que reside em um dos apartamentos do Prédio Popular no bairro Wilfredo de Souza Nazareth. Em sua cadeira de rodas elétrica, que diz estar em mau estado de conservação pois já é velha e muito rodada, ele percorre ruas esburacadas e todo o trânsito das avenidas Expedicionários Brasileiro e Augusto Cavalin para poder trabalhar.
Há 18 anos estou nesta cadeira. Moro em Fernandópolis há mais de 8 anos, com minha mulher e meu filho. Não reclamo de nada, mas tem dias que sinto realmente muitas dores na cintura, no local onde fui atingido pela bala, conta Tranquilino. A bala que se refere foi uma de três tiros de que foi alvo. Foram três disparos. Um pegou no pescoço do meu cavalo, outro não atingiu nada e o terceiro acertou minha cintura, diz ao apontar o lado esquerdo de seu corpo.
A pessoa que me condenou à cadeira de rodas havia comprado 8 vacas gordas que eu possui na época, em Minas Gerais. Ele não me pagou e ainda mandou um recado para mim, dizendo que me mataria. Um dia nos encontramos e ele atirou em mim. Não tive como me esconder, garante Tranquilino. Durante a entrevista, o mineiro de 58 anos se emocionou ao recordar seu dia fatídico. Ele faz um apelo para que o ajudem com sua cadeira de rodas.
Minha cadeira está quebrando, não sei até quando ele agüentará. Eu tenho forças pra muitos e muitos anos, disse Tranquilino, batendo a mão espalmada no peito enquanto reafirmava: não pretendo parar de trabalhar.