10 x 0. E Sabesp fica mais 30 anos na cidade

20 de Agosto de 2025

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10 x 0. E Sabesp fica mais 30 anos na cidade
“Nem toda unanimidade é burra. Meu voto é favorável ao projeto”. Com essas palavras, Warley Luiz Campanha de Araújo, o último vereador a votar na noite da última terça-feira, durante a sessão ordinária da Câmara Municipal de Fernandópolis, decretou a aprovação por 10 x 0 (até o presidente Ademir de Almeida votou) do projeto de Lei nº 60/2007.

Esse projeto autoriza o Poder Executivo municipal a celebrar convênio de cooperação com o Estado através da Secretaria de Energia, Recursos Hídricos e Saneamento para delegação à Sabesp dos serviços municipais de abastecimento de água e esgotamento sanitário.

Na verdade, a noite de 16 de outubro representou o último e feliz capítulo de uma novela que se arrastou por longos meses, desde que o contrato firmado em 1975 pelo prefeito da época, Antenor Ferrari, vencera em agosto de 2005.

A última reunião entre vereadores e representantes da Sabesp (inclusive o diretor regional Umberto Cidade Semeghini) aconteceu poucas horas antes da sessão, arrastando-se por toda tarde.

O clima era tenso. Lobistas circulavam pelo saguão do Palácio 22 de Maio, conversando, cochichando e disparando ligações via celular. Consta que o código de DDD mais utilizado foi o 061 (Brasília).

O início da sessão estava previsto para 18h, mas os trabalhos só foram abertos após as 19h, arrastando-se até 23h30. Inicialmente, o mantenedor do Colégio Anglo e atual presidente da Associação de Amigos do Município de Fernandópolis, Ubaldo Martins, usou a Tribuna Livre para conclamar os vereadores a votar a favor do projeto. Martins citou exemplos regionais da excelência dos serviços da companhia.

A seguir, um susto. Um documento, que fora alvo de acordo firmado na reunião da tarde, não estava na pasta do projeto. O gerente da Sabesp, Antonio Carlos de Oliveira, e o advogado da prefeitura Maurílio Saves correram para providenciar o papel.

O assessor jurídico da Câmara, Ricardo Franco de Almeida, era acionado a todo instante. O vereador Francisco Affonso de Albuquerque tentou sem sucesso adiar a votação por vinte dias.

Foi a sessão mais tumultuada dos últimos tempos. Houve instante, ainda nos debates dos outros projetos da pauta (o da Sabesp havia sido estrategicamente deixado para o final) em que a vereadora Maiza Rio discursava na tribuna e várias pessoas conversavam em voz alta, discutindo detalhes legais do projeto do convênio. O presidente Ademir demorou a perceber a deselegância. Quando, constrangido, se deu conta, pediu desculpas à colega e contornou a bagunça.

Outro instante paroxístico se deu quando Maurilio Saves, dois executivos da Sabesp e Gilmar da Silva Gimenes, representante do deputado federal Julio Semeghini, literalmente invadiram o plenário, recinto normalmente reservado aos vereadores, para discutir as questões. Ademir de Almeida convocou salvadores cinco minutos de intervalo.

Foram apresentadas 13 Emendas aditivas e modificativas; cinco delas foram rejeitadas ou retiradas e oito foram aprovadas. Entre elas destaca-se a que destina 2% do montante do lucro operacional da Sabesp à Santa Casa de Misericórdia e Associação dos Voluntários no Combate ao Câncer, ficando esta com 0,5% e aquela com 1,5%.

Na reunião da tarde, os vereadores haviam conquistado mais R$ 1,5 milhão da Sabesp para obras de infra-estrutura na periferia. Essa verba, somada aos R$ 8 milhões destinados às obras de saneamento nas avenidas Getulio Vargas e Raul Gonçalves Junior somavam R$ 9,5 milhões de repasses admitidos pela companhia.

Quando finalmente Warley deu o voto da unanimidade, todos estavam cansados, mas não faltaram aplausos e manifestações de entusiasmo. Ficou a sensação de que houve seriedade na condução das negociações e que vencia a democracia.