Uma cacoépia de R$ 600 mil

20 de Agosto de 2025

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Uma cacoépia de R$ 600 mil
Há algumas semanas, o meio publicitário regional surpreendeu-se com as cifras do edital de licitação para veiculação da publicidade oficial do município de Fernandópolis.

Uma verba de R$ 600 mil – disparado, a mais alta da história da cidade – estaria à disposição da empresa vencedora do certame.

Ganhou a Preview, uma agência de São José do Rio Preto, pertencente ao publicitário Saulo Nunes, golden boy do prefeito daquela cidade, Edinho Araújo. Durante reunião com a imprensa de Fernandópolis, Saulo afirmou que “não pretendia comprar consciências” e que usaria “toda a estrutura disponível em Fernandópolis”, referindo-se a gráficas, painéis, fabricantes de banners e outros instrumentos utilizados em publicidade.

No início desta semana, a cidade foi tomada pelos inúmeros out doors (quatro num raio de apenas 200 metros, nas proximidades da estação rodoviária) que estampam a propaganda da administração da prefeita Ana Bim.

ERRO
O jornalista Cláudio Gazeta, do site ethosonline, foi o primeiro a notar o erro. Para divulgar o asfaltamento de ruas da periferia da cidade, os publicitários da prefeita perpetraram a frase: “O asfalto chega no bairro”. Segundo a professora da Unesp-Araraquara Renata Coelho Marquezan, especialista em lingüística, “o correto é usar a preposição ‘a’ e não ‘em’”. Assim, a frase deve ser grafada: “O asfalto chega ao bairro”.

Gazeta criticou a mensagem: “Ao imolar a gramática, a agência induz o cidadão ao erro, dificultando-lhe o aprimoramento”. Em seu site, Gazeta até já divulgara o nome do erro cometido: cacoépia, que significa usar incorretamente a língua apenas para facilitar a pronúncia.

Na quinta-feira, após uma entrevista coletiva, alguns integrantes da imprensa de Fernandópolis comentavam a desastrada primeira grande investida publicitária dos “marqueteiros” de Ana Bim. Para Valdecir Cremon, do site regiaonoroeste, não seria absurda uma investigação, por parte do Ministério Público, para averiguar se está havendo má utilização do dinheiro público: “não é justo pagarmos para que desvirtuem a língua e levem o cidadão a fixar construções lingüísticas incorretas”, disse.

Para Vic Renesto, do CIDADÃO, embora a publicidade se beneficie de uma certa dose de informalidade e liberdade lingüística, “o caso é de erro gramatical, mesmo”.

Outra unanimidade na conversa dos jornalistas era o entendimento de que é preciso apurar quem foi que arcou com as despesas da construção de várias novas estruturas para a fixação dos out doors. Até o fechamento desta edição, a assessoria da prefeita não havia se manifestado.