“Sinta que você pode ser um tanto bem maior”

20 de Agosto de 2025

Compartilhe -

“Sinta que você pode ser um tanto bem maior”
Trabalhar para sustentar a casa, os filhos, colocar arroz e feijão no prato da família é a função de todo cidadão. E ainda ouvindo sempre que a educação é futuro a nação. Mas para ganhar o pão de cada dia não é fácil, é preciso tempo e muita energia. Sem citar todos os problemas que surgem diariamente e o cidadão tem de ser o guerreiro de cada situação.

Rubens José das Neves, diretor substituto da Escola Joaquim Antonio Pereira conta que alguns dos alunos do ensino supletivo ficaram muitos anos sem estudar e resolveram voltar porque acreditam que podem conquistar empregos melhores ou até mesmo porque era um sonho antigo de terminar o ensino médio.

No supletivo presencial o aluno precisa ter pelo menos 75% de freqüência, atingir a média cinco nas notas em todas as disciplinas e cada série é cumprida por semestre. Portanto, o sistema é mais rápido, caindo pela metade o tempo de estudo.

A rainha do rodeio de Valentim Gentil, Leandra Da Conceição Rodrigues, 17 anos, trabalha todos os dias em um salão de beleza como manicure. Já fez dois cursos na área em que trabalha, tem curso básico de informática, porém ficou um ano sem estudar porque em pouco tempo, perdeu a irmã e o irmão. Constatando que não tinha condições de continuar os estudos, resolveu parar até conseguir colocar a sua vida em ordem novamente.
Leandra voltou a estudar e agora está na 8ª série. Já traçou seus planos pra o futuro e pretende cursar enfermagem e morar em São José o Rio Preto.

“Vou sempre à Rio Preto onde tenho um amigo que trabalha no Hospital de Base. Ele me fala como é o trabalho e me interesso muito”, diz a estudante.

Já Cristina Vilela, 32 anos, moradora de São João das Duas Pontes, ficou 24 anos sem estudar. Parou quando ainda estava na 3ª série para ajudar os pais na roça e depois começou a trabalhar como doméstica.

Casou-se com Carlos Roberto Luiz da Silva aos 17 anos e hoje tem dois filhos. Carlos Daniel, 13 anos e Daniele com 10. Depois do casamento passou a vender roupas em casa onde conquistou uma boa clientela.

Seu interesse pelos estudos despertou quando saiu a votação para conselheiro tutelar na cidade. O dicídio lançado pelo prefeito para que fosse votado pelo legislativo eram permitidas apenas pessoas que tivessem concluído o ensino fundamental para participar da votação.
Cristina não se contentou em simplesmente aceitar. Foi até a Câmara e pediu para que os vereadores não aprovassem, pois ela queria muito participar do conselho tutelar e que não era justo ela não participar por não ter escolaridade.

Os vereadores a aconselharam procurar o prefeito para que ele mudasse o dicídio, pois eles não poderiam deixar de votar a favor do projeto que beneficiaria muito a cidade. E foi o que Cristina fez. Procurou o prefeito que atendeu sua vontade.

Esse foi apenas o primeiro passo. Depois do projeto aprovado, a vendedora se inscreveu e conquistou muitos votos que resultou no seu cargo de conselheira tutelar.

Porém, a condição era de voltar a estudar, pois depois de três anos o regulamento voltaria a ser para concluintes do ensino fundamental.

No começo do casamento, seu marido não gostava muito da idéia de Cristina voltar a estudar, mas depois de todos os seus esforços para compor o cargo de conselheira, não poderia ser diferente: aceitou a decisão da esposa e hoje é um dos apoiadores mais assíduos juntamente com os filhos.
Cristina conta de seu trabalho como conselheira e os momentos mais marcantes. Chorou ao lembrar de que há seis meses, com a assistente social do município, teve de tirar as filhas gêmeas de uma mãe que foi acusada de maus tratos.

“Eu também sou mãe. Foi muito difícil fazer isso. As meninas estavam desnutridas, a mãe se recusava a levá-las à creche. Não houve outra alternativa”, diz. Mesmo sendo uma função difícil, gosta do que faz e acredita que está contribuindo para melhorar a cidade e a condição de vida das pessoas. “Não gosto que pensem que o conselho tutelar é punitivo. Nosso trabalho é de auxiliar as pessoas a viverem de forma mais saudável e dentro da lei”, explica.

Já em sua função de vendedora não há tristezas. Disse que as vendas estão ótimas e que fez novos pedidos para suprir as exigências dos clientes.

Pretende terminar o ensino fundamental e médio, mas ainda não cogitou a idéia de faze um curso superior. “Até lá meu filho estará na idade de entrar na faculdade logo depois minha filha. Vou priorizar a educação de meus filhos, pois sei o quanto é importante. Depois de tanto tempo sem estudar, o ensino médio será uma grande conquista”.

“Viva à sua maneira, não perca a estribeira, saiba do teu valor”. (Fernando Anitelli)


Só não estuda quem não quer!


Muitas pessoas achavam que estavam velhas demais para voltarem a estudar e recuperar as chances perdidas de terem um currículo melhor, porém o Sistema Estadual de Educação facilitou o acesso ao diploma. Além do supletivo presencial, há o supletivo flexível para o ensino fundamental e médio.

O supletivo flexível é realizado de duas formas: As Telessalas funcionam como modalidade do curso de educação de jovens e adultos com atendimento individualizado e presença flexível. São realizadas em unidades escolares da rede estadual, em espaços cedidos pela comunidade ou em parceria com as prefeituras, empresas ou outras instituições, desde que esteja vinculada a uma unidade escolar estadual e tenha portaria de autorização, publicada pela Diretoria de Ensino. A avaliação do desempenho escolar é feita por disciplina, através de avaliações periódicas e exame presencial, realizados na própria escola. Em Fernandópolis é feito na escola SESI.

A outra modalidade é o exame supletivo do CESU (Centro de Exame Supletivo), onde o candidato pode estudar em casa e nos horários disponíveis. As inscrições estão abertas até as 10h do dia 31 de agosto, próxima sexta-feira e podem ser feitas por meio da internet no site www.educacao.sp.gov.br ou na Diretoria de Ensino de Fernandópolis que fica na rua Amapá, nº 933, Centro. O telefone é o (17) 3442-2155.

Dirley Malavazi, supervisora de ensino, se preocupa em alertar os candidatos que há uma bibliografia para estudo disponível no site e na própria diretoria. E que as inscrições são feitas no mês agosto, mas as provas serão realizadas somente em dezembro ou fevereiro.

Para fazer a inscrição o candidato deve ter no mínimo 15 anos para o ensino fundamental e no mínimo 18 para o ensino médio. Quem deseja fazer diretamente a prova do ensino médio, é permitido, pois se podem fazer as provas quantas vezes necessárias até passar nas três áreas que divide o exame. A primeira é Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, a segunda é Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e a terceira é Ciências Humanas e suas Tecnologias.

“Quem trabalha em horários que coincidem com o supletivo presencial, ou ainda que trabalha com viagens, tem essa opção de concluir o ensino fundamental e médio. O CESU depende inteiramente da força de vontade do candidato em estudar nos horários que melhor lhe convém”, diz Dirley Malavazi.
Rosangela Cardoso Nunes Cidrão, 36 anos, inspetora de aluno, já fez duas provas é falta penas uma área para passar e receber seu diploma. Comenta que esse tipo de exame facilitou muito, já que trabalha o dia todo e tem dois filhos para cuidar.

“Estudo em horários mais acessíveis, principalmente aos finais de semana”, diz.

Assim que estiver com o diploma em mãos, pretende dar continuidade nos estudos. “Não estou decidida, mas penso em fazer Serviço Social, pois é uma área que me identifico muito”, planeja, Rosangela.
No dia seguinte ao exame, o gabarito sai no site do Estado da Educação e o candidato pode conferir seu desempenho. O certificado demora cerca de cinco meses para chegar na escola onde fez a prova e deve ser retirado o quanto antes.

O próximo exame será aplicado na Escola Estadual Coronel Francisco Arnaldo da Silva e na Escola Estadual Líbero de Almeida Silvares.