Fábio Sanches fez da sua vida uma lista de grandes estreias, seja no palco, seja no mundo. Com espirito desbravador, nunca teve medo de aprender, errar e aprender novamente.
Sua relação com Fernandópolis se iniciou ainda criança, entre idas e vindas. A sua mãe era de Meridiano; sua avó paterna sempre viveu aqui. Estou na escola Afonso Cáfaro, sendo aluno da dona Tomiko. “A vida nos vai apresentando possibilidades e nós vamos tomando o rumo que nos é apresentado. Assim, minha vida foi seguindo, passando por vários lugares e fazendo variadas coisas - só isso já daria uma boa história!”, conta Fábio.
Em 1995, quando estava em Americana – SP, aos 23 anos de idade, foi demitido da empresa em que trabalhava e, como seus pais já estavam morando em Fernandópolis, resolveu arriscar a sorte na “Terra Moça”. “Resolvi arriscar alguns dias e acabei ficando por 18 anos. Vim morar nessa cidade maravilhosa sem saber que esse momento seria um divisor de águas em minha vida”, explica.
Quando chegou, foi trabalhar de vendedor na loja de eletrodomésticos Arapuã. Para se enturmar, entrou para o grupo de canto da Igreja Católica, coordenado pela Sirene. Tocava bateria todos os domingos às 8h e às 20h. Um dia, o telefone da loja tocou e uma moça o convidou para fazer parte de um grupo de Teatro. Essa moça era a Rina de Almeida Barros. Ela coordenava um grupo de pessoas com a ideia de formar um grupo teatral. A princípio, não se interessou, pois os ensaios se chocavam com os da igreja. “De tanto ela insistir, acabei indo pra ver como era. Bom, aí nem preciso falar que fui contaminado por algo que mudaria radicalmente minha vida: o Teatro. Num primeiro momento, senti naquela atividade a oportunidade de me desligar do meu mundo e entrar em um universo de infinitas possibilidades (coisa que o Teatro nos oferece). Fui me envolvendo cada vez mais e mais, até que tive que escolher entre as missas e o palco. Escolhi o palco!”.
Fábio mergulhou no universo teatral. Foi quando surgiu o SOS Teatro, grupo pelo qual trabalhou por 12 anos, montando cinco espetáculos que representaram Fernandópolis em vários festivais: Vaca Lelé”, “Lampião e Maria Bonita no Reino Divino”, “Enfim só! Solidão, a Comédia”, “Um Trágico Acidente” e “Na Carrêra do Divino”. “O trabalho com o SOS me deu a possibilidade de conhecer pessoas fantásticas, de conhecer lugares fascinantes, de me especializar na profissão e de mudar muito como pessoa”.
O SOS Teatro lhe abriu portas para outros cenários, como a oportunidade de trabalhar com o diretor Jorge Vermelho, de São José do Rio Preto. “Fui convidado, juntamente com meu grande amigo Rafael de Aquino, para participar do espetáculo “Orpheu, o Guardador de Rebanho” e tive, nessa experiência, a possibilidade de viver o Teatro de outra maneira, mais profissional, haja vista que no SOS a coisa era mais amadora, não na qualidade do trabalho, mas, principalmente, na questão financeira. Com o grupo do Jorge (Azul Celeste) eu tinha remuneração pelo meu trabalho, conheci quase que todo o país, enfim, foi um momento de muito amadurecimento”, explica.
Os trabalhos de Fábio não pararam por aí. Como ele mesmo diz, “as coisas foram acontecendo” e ele se viu ensinando a arte para outras pessoas. Com o surgimento da Mostra Estudantil de Teatro, trabalho não faltava. “Não posso deixar de comentar a importância da Iraci Pinotti, pois foi ela que, um dia, idealizou uma das coisas mais fantásticas, culturalmente falando, de que eu já tive conhecimento: a Mostra Estudantil de Teatro de Fernandópolis. Não tenho visto outra cidade que tenha uma mobilização teatral como há em Fernandópolis e isso se deve à luta da Iraci. Na época, havia um monte de gente interessada em experimentar o Teatro, mas também havia uma carência técnica na montagem dos trabalhos. Como eu tive o privilégio de me qualificar tecnicamente (por meio do SOS Teatro) comecei, então, a auxiliar os grupos participantes da mostra, de maneira filantrópica, apenas pelo prazer em estar envolvido com o Teatro. Daí pra frente, tudo foi acontecendo de forma natural, meu trabalho foi aparecendo, sendo cada vez mais valorizado e, quando me dei conta, já era professor”, conta.
Deu aula de Teatro no colégio Coopere durante 13 anos, no colégio Objetivo por oito anos, Anglo, Cáfaro, EELAS, FEF, UNIFEV, Objetivo de Iturama, Coopevo Dinâmica de Votuporanga, Secretaria de Educação de Ouroeste, Grupo Vá...Idade e, por último, no Senac de Votuporanga. “Sempre estive muito acessível àqueles que precisaram de um apoio. Tenho, pode acreditar, muito prazer em ajudar (quem me conhece, sabe). Dar aula e poder contribuir para o crescimento humano, ver o desenvolvimento de uma criança ou a reviravolta na vida de uma dona de casa que já passou dos 70 são o combustível que move essa minha paixão pela Licenciatura”.
Fábio se formou em Letras pela FEF, trabalhou como gestor de cultura na Secretaria Municipal, por meio de um convite de Iraci Pinotti – uma das oportunidades que ele agarrou em poder fazer mais pelo setor em Fernandópolis, sem deixar suas aulas, seus alunos e seu amor pelo ensinar. “Abdicava-me do horário do meu almoço, trabalhava finais de semana inteiros para dar conta dos compromissos. Confesso que financeiramente foi muito bom, mas, como tudo tem um preço, passei por momentos de muito cansaço e estresse. É muito difícil desenvolver qualquer atividade à frente do poder público. Difícil fazer com que as pessoas entendam o valor e a importância que a Cultura tem”, ressalta.
O Teatro também proporcionou outros brilhos para o olhar de Fábio. Em um de seus trabalhos desenvolvidos com Jorge Vermelho, conheceu Cíntia, sua esposa. Namoraram durante seis anos, noivaram por mais um e se casaram radiantes de felicidade e repletos de sonhos a serem realizados. "Logo de início o que chamou a minha atenção, além da beleza estonteante, foi a dedicação e o profissionalismo com os quais ela encara qualquer coisa que faça. Muito difícil, nos dias atuais, encontrar uma moça com tais qualidades. Foi muito fácil me apaixonar. A partir daí, fomos nos conhecendo e notamos que havia muita coisa em comum no nosso jeito de ser e na maneira de lermos o mundo. Tenho na Cíntia, além de uma esposa adorável, uma companheira. Formamos uma dupla dinâmica, uma equipe nota 10. Cresci muito como pessoa depois de conhecê-la. Tenho absoluta certeza de que estaremos juntinhos até as rugas e pelancas lutarem por espaço em nossos corpos. Sou infinitamente grato por tê-la por perto", declara.
Como a vida é feita de ciclos, escolhas e diversidades, Fábio sempre soube tirar o que há de bom dessas metamorfoses. Escolheu o otimismo, a boa vontade, a fé. Consciente de que a cortina se fecha hoje para se abrir para novos cenários, Fábio e Cíntia fizeram as malas. A Cíntia é uma grande estudiosa do Latim. Fez Graduação, Mestrado e está, atualmente, cursando o Doutorado (tudo pela Unesp). Surgiu um edital para um concurso público para professor de Latim na Faculdade Estadual da Paraíba – Campus Catolé do Rocha, para o qual ela passou. "Aí, chegou a hora de tomarmos a decisão. Por um lado, para a Cíntia era uma excelente oportunidade. Por outro lado, eu teria que largar tudo e começar do zero. Entendi que era o momento de encerrar um ciclo e dar início a outro. Com o coração em pedaços, os olhos marejados e a alma em paz, dei um tchau para Fernandópolis e acompanhei minha equipe na busca de outras vitórias rumo ao alto sertão nordestino, terra natal do famoso poeta e cantor Chico Cesar."
Fábio teve dificuldades em se colocar profissionalmente. Pegou algumas aulas em um curso de Pedagogia, mas o Teatro teve de ficar na gaveta. "Enquanto eu ia me virando para marcar minha passagem pelas terras de Lampião e Maria Bonita, o trabalho da Cíntia ia de vento em popa. Aí, mais uma vez, a vida nos apresentou novas oportunidades. A Universidade Federal de Goiás abriu um edital para contratação de professor de Língua Portuguesa para o Campus de Catalão (cidade natal da Cíntia, a 400 km de São José do Rio Preto). Juntamente com a abertura do edital, surgiu uma oportunidade para que eu montasse um negócio, também em Catalão."
Cíntia passou, é claro. Como Fábio disse, deram adeus ao nordeste e foram viver na terra do sertanejo universitário, com novos propósitos, novos desafios e infinitas possibilidades.
O jovem ator está focado na abertura de seu novo empreendimento: a rotisseria Mama Angelina. "Vou trabalhar com outra paixão: a culinária. Estamos montando um lugar que vai oferecer massas frescas e artesanais, congelados prontos, carnes e salgados em geral. A ideia é oferecer ao cliente, cada vez mais atarefado, uma alimentação de qualidade aliada à praticidade. Por enquanto, o Teatro está hibernando à espera de um novo despertar. Quem sabe num futuro nem tão distante assim?".
Para quem conhece o espírito inovador e inquieto de Fábio, sabe que o espetáculo está apenas começando. Certamente está usando sua criatividade impar para dar um novo realce para Goiás, enquanto Fernandópolis sente saudade de suas cores. Ele não precisa de palco e de grandes adereços. Sua arte consiste no imaginar e fazer acontecer, seja na sua vida ou na vida dos outros, ensinando como nunca deixar o pano cair.