Segundo filho do casal José e Ermelinda, após 10 anos do primeiro. Viveu até os 10 anos de idade no sítio “Ponto Bom”, no Córrego do Lajeado. Criado pela avó materna, até os 11 anos, em virtude de os pais trabalharem na roça. Fernandopolense de naturalidade e coração. Eis Anderson José de Paula que, aos 28 anos de idade, é professor, solteiro e, como diz, "vivente da vida".
Em meados da década de 90, sua família mudou-se para a área urbana de Fernandópolis, vindo a se matricular na escola Afonso Cáfaro, onde fez o ensino fundamental e médio; onde guardou suas melhores lembranças da infância.
Anderson conheceu o gosto do trabalho logo cedo, aos 12 anos de idade. Na explosão das lojas de "1,99", a sua prima Cidinha montou a "Degustè" - comida por R$ 1,99, no centro de Fernandópolis. “Trabalhando meio período, fui começando a ter o senso de responsabilidade que um trabalho merece ter. Após essa "febre", ingressei-me na guarda mirim, hoje CAEFA. Participei do tempo em que havia a "Ordem Unida". Tínhamos de estar às 6h da manhã reunidos para marchar e depois ir para o trabalho. Uma ausência acarretava desconto no salário. Participei da época militar da guarda, com senhor Salvador Rosante e senhor Marcos Brolezi. Agradeço sempre por ter tido essa oportunidade, pois ali, meu caráter foi delineado, já que a "linha dura" imposta pela entidade acompanhava nosso crescimento. Fui muito feliz no meu tempo de guarda, dos 12 aos 16. Ganhei muitos prêmios e cheguei até a graduação de primeiro sargento, o que acarretava aumento, na época, significativo em nosso ordenado”.
Pela guarda, trabalhou na secretaria da entidade por alguns meses e, em janeiro de 1998, ingressou na Santa Casa de Misericórdia de Fernandópolis, na área de ortopedia. “Fiquei por três anos nesse setor, entendendo o comportamento humano e vendo sofrimentos, acredito que era para dar valor à vida”, ressalta.
Em 2001, foi transferido para o departamento financeiro da instituição, aprendendo a fazer o “contas a pagar” e a contabilidade, coisas que domina até hoje. Para um professor de língua portuguesa, fazer contas com tanta rapidez é até surpreendente. Aliás, aprendizado importantíssimo para a sua vida, uma vez que também se destaca na matemática quando presta concursos públicos.
No dia 7 de março de 2001, completou 16 anos. “O sonho de todo guarda-mirim era ser registrado pela empresa com essa idade. Comigo se concretizou, aos 9 de março de 2001, recebi meu primeiro registo em carteira pela C.L.T. Mas também não me despertou aptidão para contabilidade ou administração”, conta.
Na época, o seu sonho era fazer jornalismo, pois sempre foi fascinado pela língua portuguesa. “Guardo um cartão de aniversário dos colegas de trabalho escrito "parabéns professorzinho" - em virtude de eu corrigi-los, em relação à língua portuguesa”, ri.
Como o curso de Jornalismo só tinha em Votuporanga, em 2002, e custava o dobro do curso de letras, em Fernandópolis, optoui por fazer o segundo. Anderson, de certa forma, seguiu uma tendência da família, sendo o quarto a se graduar em Letras, assim como o tio João Zaide e os primos Marta, Válter e Elaine.
Em 2005, estando no terceiro ano do curso, surgiu o concurso para professor no Estado de Minas Gerais. Como estava focado, colocou em mente que eu tinha de sair do curso com um emprego garantido e efetivo em algum lugar. “Meu nome constava na lista, mas fora das vagas. Era tudo que eu queria, pois ainda não estava formado em 2006, quando vieram as nomeações”, explica.
Saiu da Santa Casa em março de 2006. Fez um curso de italiano com uma promessa de emprego na prefeitura de Fernandópolis, que infelizmente não aconteceu, em virtude da morte do então prefeito Rui Okuma. “Trabalhei por seis meses no Escritório Bandeirantes, no qual fiz amizade para a vida inteira, e fui muito bem recebido pelo senhor Wilson e José Carlos, indicado pelo Paulinho da Celpaulo”.
Em 1º de fevereiro, estava em Iturama - MG para ministrar sua primeira aula, na Escola Estadual Joaquim Tiago de Queiroz. “Imaginem uma 5ª série D, à tarde. Não conhecia nada da legislação mineira e achei que fosse como a paulista. Coitado de mim! (risos). Ainda bem que fui muito bem recebido em uma pensão pela senhora Maria José, pela qual tenho uma estima grande até hoje. Fiquei dois meses sem receber o primeiro salário, isso é normal no funcionalismo público, quando se ingressa. Eu achava que ficaria com o cargo, na época eram R$ 650 o salário e mais as substituições. Coitado de mim de novo! (risos). Em Minas a legislação é totalmente diferente. Então, por quatro meses paguei para trabalhar. Ainda bem que meus santos pais se apertaram e me ajudaram. Em maio de 2007, quando eu já tinha resolvido abandonar tudo, o senhor Carlos Lima, que era da Associação Italiana em Fernandópolis, comentou com o senhor Valdecir Picchioni, italiano, então prefeito de Iturama na época, que eu estava na cidade e que havia feito o curso de italiano. Então, fui contratado para ensinar italiano nas escolas municipais da cidade e para a comunidade. Assim, fiquei na cidade e em agosto saiu minha nomeação e tomei posse como efetivo em 27 de setembro de 2007”.
Saiu da pensão e morou com o querido amigo, o Adeilton, oriundo de São José do Rio Preto, no restante do ano de 2007. No ano seguinte, o amigo levou sua esposa para Iturama e Anderson acabou morando sozinho, em uma casa bem simples no fundo da casa de dona Marina e do senhor Sutério. “Pensem em um casal mineiro que abre as portas da casa pra você. Hospitaleiros, preocupados, bons de papo. Fiquei com eles até abril de 2011. Considero-me o quarto filho deles. Lá também conheci a Adriana, que está comigo até hoje, organizando minhas bagunças”. Santa Adriana! Cuida do apartamento onde Anderson mora atualmente, das roupas, das montanhas de livros, provas, trabalhos, rascunhos, CDs, DVDs, etc...
Em 2008, não conseguiu o contrato novamente na prefeitura e se viu com apenas o cargo efetivo. Entregou currículo no Colégio Anglo da cidade e consegui um contrato, em virtude da experiência como estagiário em escola particular. Em 2009, após ter feito a primeira pós-graduação, ingressou na Faculdade Aldete Maria Alves – FAMA - como docente do curso de Pedagogia. Em julho de 2009, após um processo seletivo, ingressou na prefeitura de Iturama. Desde então, trabalha os três turnos, hoje, na Escola Estadual Nossa Senhora de Lourdes, na Escola Dinâmica - Colégio Anglo, na Faculdade FAMA e na Prefeitura de Iturama, na Escola Municipal Agrícola Alípio Soares Barbosa, como coordenador pedagógico do projeto Escola de Tempo Integral - PROETI. “Uma jornada árdua, sendo 70 horas semanais. Mas que amo muito”. Desenvolve projetos de extensão à comunidade como "Simpósio de Literatura Infantil e Juvenil" e "Atuação Pedagógica em Espaços Não-Formais". Fez uma pós-graduação lato sensu em Didática do Ensino Superior, na Unirp, em Rio Preto. Fez também uma em Gestão Escolar Integradora pela FAMA. Termina Pedagogia pela FAU Uniesp de Auriflama, em julho. Quer ingressar no mestrado e fazer a pós em Psicopedagogia. Como se não bastasse, ainda tentou ser dono do próprio negócio. “Tentei me aventurar como empresário abrindo a "Di Paula - Esfiharia" na cidade, mas só me acarretou problemas fraternais e muitas feridas não cicatrizadas”, conta um pouquinho desse dissabor.
Em Fernandópolis, trabalhou na FAEC por um tempo, na prefeitura por outro e no Colégio 22 de maio - Anglo, no primeiro semestre do ano passado, mas teve de deixar, em virtude dos horários das aulas. “Penso em exercer minha profissão na cidade em que nasci, porém as portas me foram abertas em Minas Gerais. Contudo, meu foco hoje é o mestrado. Preciso me organizar para estudar e me capacitar”.
No último sábado, Anderson tomou posse no Lions Clube de Iturama e ficou muito feliz pelo convite. “Agradeço a Deus todos os dias e a minha mãe, dona Ermelinda, que não me deixa cair. Aos 28 anos de idade, sei que tenho muito a crescer, mas sempre me recordo de que, quando eu cheguei a Minas, meu currículo possuía três páginas, hoje ele tem 17, com muita qualidade. Agradeço também aos meus alunos e seus pais, que confiam em mim essa nobre missão de ensinar”, conclui.
Vinte oito anos de idade e um século de experiências, de sentimentos e dedicação ao que faz. Anderson é um professor muito querido e desperta o melhor em seus alunos. “Turma Prof. Anderson José de Paula” foi título de duas turmas egressas do curso de Pedagogia da Faculdade FAMA. Homenagem merecida e verdadeira. Um professor que instiga a leitura, a política, a criticidade, o aprender de forma diferenciada e que cativa os alunos com a sua simpatia nata, com o sorriso no rosto. Divertidíssimo, coleciona afetos por onde passa, estende a mão para quem precisa e encara a vida com fé. Uma forma de retribuir todas as bênçãos que alcançou... Com muito trabalho honesto e amor.